quarta-feira, 28 de julho de 2010
Negociar
Os EUA sinalizaram que aceitam negociar novamente com o Irã. Talvez para poder desviar atenção para outros problemas, como os desvios de verba encobertos pelo exército no Iraque. Ou então, quem sabe, da confirmação sobre a ilegalidade da própria invasão ao Iraque feita por Hans Blix, que foi chefe do grupo de inspetores de armas da ONU, que vai liberar um inquérito sobre a questão até o final deste ano. Pode ser também, nunca é demais imaginar, para voltar a se aproximar do Brasil e da Turquia, principalmente depois que a Rússia resolveu não concordar mais oficialmente com as ações dos EUA sobre o Irã. Lembro que o Brasil e a Rússia são membros do BRIC. Enfim! Cada nó desatado cria outros mais complicados.
Conveniências
Escrevi ontem sobre as recentes declarações do primeiro-ministro russo Putin. Ele acusa os EUA e outras nações não respeitarem as determinações da ONU sobre o Irã. Antes ele havia confraternizado com os espiões deportados e previsto um futuro promissor aos mesmos. Pois hoje estava vendo as manchetes do New York Times e chamou-me atenção uma reportagem sobre a corrupção na policia russa. Um policial publicou, no final de 2009, dois vídeos no Youtube com um desabafo e um pedido de ajuda à Putin. Ele denunciou os casos de corrupção, subornos cotidianos praticados pela policia russa. São tão numerosos os valores que os chefes de policia se tornam capazes de comprar carros e casas luxuosas, incompatíveis com os baixos salários que recebem. A ação do governo e da policia russa foi investigar e prender o autor dos vídeos. Existem outros casos semelhantes, em que as pessoas são diretamente ameaçadas de morte e espancadas para desistirem de denunciar a corrupção policial. A reportagem do NYT vincula diretamente os casos de corrupção com a conivência do governo de Putin e Medvedev. Se as denuncias são graves, certamente são, não deixa de ser interessante ressaltar que a matéria surge agora, mais de seis meses após a divulgação dos vídeos do hoje ex-policial e justamente quando Putin se mostrou novamente critico aos interesses norte-americanos. No mesmo momento em que ele faz uma declaração sobre a falta de legitimidade de algumas ações do governo norte-americano surge a divulgação de questionamentos sobre a honestidade de todo governo russo e acusações de falta de liberdade.
Certamente uma coincidência estranha. Parece que eles não vão comer outro hambúrguer tão cedo.
Certamente uma coincidência estranha. Parece que eles não vão comer outro hambúrguer tão cedo.
terça-feira, 27 de julho de 2010
Siga o mestre
Os EUA se negaram a continuar negociando com o Irã. No lugar do diálogo e da aceitação do acordo mediado pelo Brasil e pela Turquia (que seguia as linhas traçadas pelo governo norte-americano), partiram para as sanções unilaterais, primeiro com a ONU, depois sem ela. Também não conversam com a Coreia do Norte e apresentam novas sanções unilaterais no lugar. Agora temos Uribe, futuro ex-presidente da Colômbia, afirmando que não vai aceitar nenhum tipo de negociação com as FARC. Ele prefere manter o discurso de combate ao terrorismo e continuar acusando a Venezuela. Faltando poucos dias para sair do cargo ele deixa para seu sucessor uma crise política em plena efervescência. Ou pode ser que simplesmente ele não deseje realmente sair do cargo. Se for caso ele tem boas chances de contar com a mesma simpatia que o governo norte-americano demonstrou aos golpistas em Honduras no caso de Zelaya.
Complicadores
Parece que a Rússia resolveu sacudir as coisas. Primeiro foi a recepção de Putin aos espiões deportados, com direito a canções patrióticas soviéticas, elogios diversos e a previsão de um "futuro brilhante". Agora foi o Ministério do Exterior da Rússia que condenou as sanções aprovadas pelos EUA e pela União Européia ao Irã. Ressaltaram que essas nações estão mostrando desprezo pelas resoluções da ONU, que já aprovou um pacote de sanções ao Irã, inclusive com apoio da Rússia.
Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, o governo Obama lida com o desaparecimento de 8,7 bilhões de dólares enviados para a reconstrução do Iraque. Até agora os militares somente se justificaram dizendo que os registros dos gastos do dinheiro devem estar arquivados... O problema é saber onde!
Espiões patrióticos e corrupção entre os militares: os sustentáculos da democracia...
Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, o governo Obama lida com o desaparecimento de 8,7 bilhões de dólares enviados para a reconstrução do Iraque. Até agora os militares somente se justificaram dizendo que os registros dos gastos do dinheiro devem estar arquivados... O problema é saber onde!
Espiões patrióticos e corrupção entre os militares: os sustentáculos da democracia...
segunda-feira, 26 de julho de 2010
Educação através da força
O projeto de lei que propõe a proibição dos castigos físicos em crianças pode representar uma oportunidade para a sociedade refletir sobre alguns de seus hábitos consolidados. Existe a questão de que a lei procura regulamentar relações da intimidade doméstica, o que dificultará sua efetiva aplicação. Há também a desaprovação da lei pela maioria das pessoas entrevistadas em recente pesquisa do Datafolha. Sem contar ainda a temática das agressões verbais, morais, de fiscalização ainda mais complicada e de efeitos profundos na vida dos jovens.
Os dados da pesquisa do Datafolha merecem destaque:
Se não há adesão da maioria ao projeto também não é possível dizer que ele não receba apoio algum. A matéria da Folha mostra ainda que o mesmo tipo de lei não contou com apoio da maioria da população quando foi aprovada em 1980 na Suécia, quadro que hoje é completamente diferente. 21 países da Europa já aprovaram leis similares. Há inclusive uma campanha sobre o assunto feita pelo Conselho da Europa, mas que não conta a adesão de países como França e Reino Unido.
Temos que considerar que as leis não devem expressar necessariamente as vontades imediatas das pessoas, sob o risco de as vermos mudar de acordo com o humor cotidiano da maioria. Ficamos sem saber, porém, um dado muito importante indicado na pesquisa: se os 16% que afirmaram apanhar sempre são favoráveis ou contrários ao projeto de lei. A opinião dos que mais foram castigados poderia levantar várias possibilidades de discussão sobre os impactos da violência na educação dos filhos.
Chama atenção que parece que os homens são castigados em um número pouco superior às mulheres, mas que as mães castigam mais do que os pais. Os dados podem revelar a continuidade dos papéis tradicionais, em que as mães ficam mais tempo cuidando dos filhos e logo acabam castigando mais.
É a mesma cultura de violência que permite que se considere normal as agressões dos homens contra mulheres, como parte do cotidiano dos casais, conforme as declarações infelizes do goleiro Bruno alguns meses antes de sua prisão. Os mais fortes agridem os mais fracos com a justificativa de que querem "educá-los", ou mesmo de que perderam o controle (mas por culpa de algo feito pela vítima da violência). Como vemos ocorrer entre as nações. Sanções são adotadas, navios são invadidos, pessoas são torturadas, inocentes morrem em ataques, tudo em nome da disciplina que supostamente gera a paz. A pesquisa do Datafolha indica que muitas pessoas quando crescem reproduzem o hábito de bater. Parece que não somente dentro de casa.
Os dados da pesquisa do Datafolha merecem destaque:
- foram 10.905 pessoas entrevistadas, das quais 54% são contra o projeto de lei e 36% favoráveis;
- 69% das mães e 44% dos pais já deram algum tipo de castigo físico aos filhos;
- entre os homens 74% revelaram já terem apanhado dos pais contra 69% das mulheres;
- No total 72% das pessoas revelaram que já sofreram castigos físicos;
- 16% afirmaram que sempre apanhavam.
Se não há adesão da maioria ao projeto também não é possível dizer que ele não receba apoio algum. A matéria da Folha mostra ainda que o mesmo tipo de lei não contou com apoio da maioria da população quando foi aprovada em 1980 na Suécia, quadro que hoje é completamente diferente. 21 países da Europa já aprovaram leis similares. Há inclusive uma campanha sobre o assunto feita pelo Conselho da Europa, mas que não conta a adesão de países como França e Reino Unido.
Temos que considerar que as leis não devem expressar necessariamente as vontades imediatas das pessoas, sob o risco de as vermos mudar de acordo com o humor cotidiano da maioria. Ficamos sem saber, porém, um dado muito importante indicado na pesquisa: se os 16% que afirmaram apanhar sempre são favoráveis ou contrários ao projeto de lei. A opinião dos que mais foram castigados poderia levantar várias possibilidades de discussão sobre os impactos da violência na educação dos filhos.
Chama atenção que parece que os homens são castigados em um número pouco superior às mulheres, mas que as mães castigam mais do que os pais. Os dados podem revelar a continuidade dos papéis tradicionais, em que as mães ficam mais tempo cuidando dos filhos e logo acabam castigando mais.
É a mesma cultura de violência que permite que se considere normal as agressões dos homens contra mulheres, como parte do cotidiano dos casais, conforme as declarações infelizes do goleiro Bruno alguns meses antes de sua prisão. Os mais fortes agridem os mais fracos com a justificativa de que querem "educá-los", ou mesmo de que perderam o controle (mas por culpa de algo feito pela vítima da violência). Como vemos ocorrer entre as nações. Sanções são adotadas, navios são invadidos, pessoas são torturadas, inocentes morrem em ataques, tudo em nome da disciplina que supostamente gera a paz. A pesquisa do Datafolha indica que muitas pessoas quando crescem reproduzem o hábito de bater. Parece que não somente dentro de casa.
sábado, 24 de julho de 2010
O Big Mac e a casa própria
Como podemos relacionar esses dois temas dispares? Primeiramente lembrando que a revista The Economist costuma apresentar o Índice Big Mac, que utiliza o preço do famoso lanche nos vários países para calcular com anda a situação cambial dos mesmos. Basicamente eles convertem o preço do lanche da moeda local para dólar e elaboram um ranking. O preço do Big Mac nos EUA é colocado como o parâmetro de comparação. O Brasil aparece em quarto lugar entre os países com o Big mac mais caro: US$ 4,91. Nos EUA o lanche sai por US$ 3,73. Realizando um novo cálculo a revista indica que o Real pode estar sobrevalorizado em relação ao dólar em cerca de 31%, ou seja, que o dólar no Brasil deveria estar valendo R$ 2,33. A meta ideal nesse índice é que o lanche custe o mesmo que nos EUA. A revista admite que ele não muito preciso, mas serve para fornecer um quadro geral.
Vamos ao segundo ponto, da casa própria. Uma rápida busca por notícias no Google pode nos apresentar algo que a maioria já percebeu na prática: um aumento absurdo no preço dos imóveis, novos ou usados. Em Copacabana no Rio de Janeiro os imóveis valorizaram 48% de janeiro de 2009 para janeiros de 2010. No Morumbi em São Paulo o preço do metro quadrado passou de R$ 2.800,00 para R$ 3.700,00 nos últimos dois anos. Matéria da Globo.com mostra os seguintes dados da valorização dos imóveis em algumas capitais:
* Recife - 60% em um ano;
* Brasília - 50% em dois anos;
* Rio de Janeiro - 100% em dois anos;
* São Paulo - 100% em cinco anos;
* Curitiba - 100% em dois anos;
* Porto Alegre - 10,5% em um ano.
Vários fatores são apresentados para justificar os aumentos, inclusive um aumento da demanda, particularmente em São Paulo e no Rio de Janeiro , quer seja pela maior facilidade de crédito ou pelas perspectivas de futuro com as Olimpíadas e a Copa do Mundo.
Qualquer que seja a questão a euforia imobiliária vista em paralelo com o Índice Big Mac apresenta um quadro parecido com o dos EUA antes da atual crise. Mas com uma grande diferença: nossos salários aqui são muito mais baixos. E nem é preciso dizer que o reajuste dos salários não acompanhou a valorização dos imóveis. Na eventualidade de uma situação de desemprego o que irá acontecer com todos esses financiamentos de imóveis? Principalmente se considerarmos que a maioria das famílias brasileiras não recebem o suficiente para guardarem reservas financeiras? Se nossa moeda estiver realmente sobrevalorizada em 31% então o que ocorre no mercado de imóveis com seus aumentos acima de 50% é a mais pura e simples descrição da super especulação financeira. E os preços não subiram somente nas capitais, onde a média salarial é mais alta.
Temos então uma moeda e um mercado sobrevalorizado, mas com uma população que continua ganhando muito pouco. Basta comparar com os dados do salário mínimo necessário calculado pelo DIEESE (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos). Um junho de 2010 ele deveria ter sido de R$ 2.092,36, bem distante dos atuais R$ 510,00. Quatro vezes menor, ou 24,4% do valor ideal. Por isso ainda continuamos precisando de programas variados de complementação de renda.
E não adianta culpar o governo atual. O Real sempre foi apontado, desde o seu início, como uma moeda que estava sobrevalorizada. Basta lembrar que ele começou com um parelhamento com relação ao dólar, através da URV (Unidade Real da Valor). Quem ainda se lembra que a URV valia CR$ 2.750,00, que era o valor aproximado do dólar na época (1993-94)? E que um Real valia uma URV na conversão da moeda? O plano Real criou um caminho sem volta, que os governos tiveram que sustentar de diferentes maneiras diante do risco do colapso completo. Podemos estar diante do início do fim do ciclo de euforia iniciado com o Real, indicados pelos sinais de sobrevalorização da moeda e do mercado.
Vamos ao segundo ponto, da casa própria. Uma rápida busca por notícias no Google pode nos apresentar algo que a maioria já percebeu na prática: um aumento absurdo no preço dos imóveis, novos ou usados. Em Copacabana no Rio de Janeiro os imóveis valorizaram 48% de janeiro de 2009 para janeiros de 2010. No Morumbi em São Paulo o preço do metro quadrado passou de R$ 2.800,00 para R$ 3.700,00 nos últimos dois anos. Matéria da Globo.com mostra os seguintes dados da valorização dos imóveis em algumas capitais:
* Recife - 60% em um ano;
* Brasília - 50% em dois anos;
* Rio de Janeiro - 100% em dois anos;
* São Paulo - 100% em cinco anos;
* Curitiba - 100% em dois anos;
* Porto Alegre - 10,5% em um ano.
Vários fatores são apresentados para justificar os aumentos, inclusive um aumento da demanda, particularmente em São Paulo e no Rio de Janeiro , quer seja pela maior facilidade de crédito ou pelas perspectivas de futuro com as Olimpíadas e a Copa do Mundo.
Qualquer que seja a questão a euforia imobiliária vista em paralelo com o Índice Big Mac apresenta um quadro parecido com o dos EUA antes da atual crise. Mas com uma grande diferença: nossos salários aqui são muito mais baixos. E nem é preciso dizer que o reajuste dos salários não acompanhou a valorização dos imóveis. Na eventualidade de uma situação de desemprego o que irá acontecer com todos esses financiamentos de imóveis? Principalmente se considerarmos que a maioria das famílias brasileiras não recebem o suficiente para guardarem reservas financeiras? Se nossa moeda estiver realmente sobrevalorizada em 31% então o que ocorre no mercado de imóveis com seus aumentos acima de 50% é a mais pura e simples descrição da super especulação financeira. E os preços não subiram somente nas capitais, onde a média salarial é mais alta.
Temos então uma moeda e um mercado sobrevalorizado, mas com uma população que continua ganhando muito pouco. Basta comparar com os dados do salário mínimo necessário calculado pelo DIEESE (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos). Um junho de 2010 ele deveria ter sido de R$ 2.092,36, bem distante dos atuais R$ 510,00. Quatro vezes menor, ou 24,4% do valor ideal. Por isso ainda continuamos precisando de programas variados de complementação de renda.
E não adianta culpar o governo atual. O Real sempre foi apontado, desde o seu início, como uma moeda que estava sobrevalorizada. Basta lembrar que ele começou com um parelhamento com relação ao dólar, através da URV (Unidade Real da Valor). Quem ainda se lembra que a URV valia CR$ 2.750,00, que era o valor aproximado do dólar na época (1993-94)? E que um Real valia uma URV na conversão da moeda? O plano Real criou um caminho sem volta, que os governos tiveram que sustentar de diferentes maneiras diante do risco do colapso completo. Podemos estar diante do início do fim do ciclo de euforia iniciado com o Real, indicados pelos sinais de sobrevalorização da moeda e do mercado.
sexta-feira, 23 de julho de 2010
Obviamente...
Os EUA apoiaram as acusações do governo Colombiano contra a Venezuela e defenderam a instauração de uma comissão internacional para investigar a questão, ou seja, para irem até lá verificar os fatos. Qual é a surpresa? Os EUA estão se tornando os campeões na defesa de intervenções militares em outros países, particularmente nos que não são seus aliados diretos, baseados sempre em supostas evidências levantadas pelos que são seus aliados.
E ainda precisamos ler na imprensa livre e democrática que o ditador Chaves é um louco por se opor. Ele certamente não é um anjo, mas se os elementos que o classificam como ditador forem somente os que se relacionam com a briga de seu governo com as mídias venezuelanas que apoiaram o golpe de estado fracassado contra ele (golpe por sinal apoiado pelos EUA), então é preciso definir melhor o que as pessoas estão entendendo por democracia.
Vivemos em mundo em que, cada vez mais, a verdade é definida pela vontade dos mais fortes, ser livre é fazer aquilo que os mais fortes dizem ser o correto e democracia somente a palavra vazia que indica que quem manda são os mais fortes.
E ainda precisamos ler na imprensa livre e democrática que o ditador Chaves é um louco por se opor. Ele certamente não é um anjo, mas se os elementos que o classificam como ditador forem somente os que se relacionam com a briga de seu governo com as mídias venezuelanas que apoiaram o golpe de estado fracassado contra ele (golpe por sinal apoiado pelos EUA), então é preciso definir melhor o que as pessoas estão entendendo por democracia.
Vivemos em mundo em que, cada vez mais, a verdade é definida pela vontade dos mais fortes, ser livre é fazer aquilo que os mais fortes dizem ser o correto e democracia somente a palavra vazia que indica que quem manda são os mais fortes.
A violência no Brasil através dos olhos do "Rambo"
Passei os olhos em uma dessas notícias de celebridades, que no caso era sobre Sylvester Stallone. Algumas localidades de seu novo filme, "Os Mercenários", foram rodadas no Rio de Janeiro. Durante evento na Comic-Con Stallone fez várias piadas de gosto duvidoso sobre o Brasil. Mas colocando de lado os comentários deploráveis do ator sobre um suposto comportamento subserviente dos brasileiros durante as filmagens, temos a seguinte declaração que merece um olhar mais atento:
O que talvez tenha incomodado realmente nos comentários do ator não foi a constatação de nossa triste realidade de violência urbana. Stallone ficou famoso fazendo filmes que retratam o mesmo tipo de violência realizada pelo BOPE e com a mesma justificativa: defender os inocentes. Incomoda é o ator achar que gostamos de viver assim. Uma de suas falas foi a seguinte:
"Os policiais de lá usam camisetas com uma caveira, duas armas e uma adaga cravada no centro; já imaginou se os policiais de Los Angeles usassem isso? Já mostra o quão problemático é aquele lugar"Não podemos dizer que ele não tenha um pouco de razão. As técnicas do BOPE são conhecidas e fizeram muito sucesso nos cinemas nacionais. Tivemos o recente caso do menino morto por uma bala perdida dentro de sua sala de aula. Muitos mais poderiam ser lembrados. A caveira como símbolo de forças de policiais ou militares foi utilizado também pelos oficiais nazistas da SS, que comandava os Campos de Concentração e Extermínio. É um símbolo de violência, ainda mais quando "ornamentado" com algumas armas.
O que talvez tenha incomodado realmente nos comentários do ator não foi a constatação de nossa triste realidade de violência urbana. Stallone ficou famoso fazendo filmes que retratam o mesmo tipo de violência realizada pelo BOPE e com a mesma justificativa: defender os inocentes. Incomoda é o ator achar que gostamos de viver assim. Uma de suas falas foi a seguinte:
"Gravar no Brasil foi bom, pois pudemos matar pessoas, explodir tudo e eles diziam obrigado. Diziam 'obrigado, obrigado e leve um macaco'. Pudemos explodir vários prédios e todos ficaram felizes e ainda trouxeram cachorros-quentes para aproveitar o fogo"Na sua tentativa de "humor" reside o centro da irritação que provocou. Fomos responsabilizados pela continuidade da violência e das práticas de ilegalidade, como um povo que se aproveita das tragédias que acontecem. Mas é preciso que nossa indignação com as declarações sejam revertidas em cada vez mais numerosas demonstrações práticas do erro analítico de Stallone. Somente assim poderemos impedir a reprodução de comentários desse mesmo tipo e, acima de tudo, construir o país próspero em que todos desejamos viver.
quinta-feira, 22 de julho de 2010
O desejo de combater
Selecionei duas falas, aparentemente desconexas, para meu comentário de hoje. A primeira de um artigo da BBC-Brasil, falando sobre a frustração sentida pelos soldados norte-americanos que não chegam a entrar em combate:
Depois vemos o relato do professor, mostrando que seus alunos não se acostumam com a violência em que vivem ao contrário do que se escuta (inclusive ao longo de outros depoimentos colhidos na matéria do UOL). Sentem medo, por eles mesmos e suas famílias, imersos no que já foi descrito várias vezes como uma zona de guerra.
Os policiais nas zonas de risco do Rio de Janeiro enfrentam então uma guerra. Podemos imaginar então que eles querem lutar como qualquer outro soldado, ou pelo menos uma parte deles. Receberam treinamento para isso. Os bandidos ligados ao tráfico também se organizam como grupos paramilitares, desenvolvem seus próprios códigos de lealdade e valentia. São todos soldados em uma zona de guerra.
No meio estão os que são vitimados, que temem pelas vidas de seus familiares e amigos, quer seja no Rio de Janeiro ou na Faixa de Gaza. Em que ponto o medo descrito pelo professor é substituído pela motivação para entrar em combate (de um lado ou de outro do conflito)? Que forças estimulam o desejo pelo combate e enfraquecem a vivência pacífica?
"A média da população não se ofereceria para o serviço militar voluntariamente, então não entende o que motiva uma pessoa a lutar em uma zona de guerra" (Jay Agg, fuzileiro naval, gerente de comunicações do grupo de veteranos Amvets)A segunda aparece em artigo do site UOL, relatando a rotina de violência em escolas localizadas em áreas de risco no Rio de Janeiro:
“Os alunos ficam muito nervosos. Não tem essa de ‘eles já estão acostumados’. Não, eles ficam nervosos mesmo. E querem saber notícias, como estão os parentes, querem saber se está tudo certo. E aí a gente tem que ir para o corredor, mas que também não garante segurança. Um corredor onde também há muitas janelas. Não tem espaço na escola que dê proteção.” (professor que solicitou não ser identificado)O soldado norte-americano quer lutar. É algo relacionado com o companheirismo criado nos treinamentos. Nas forças armadas o soldado se torna parte de algo maior do que ele mesmo, não é somente sua bravura individual que importa, mas sua integração com o conjunto. Ser capaz de obedecer ordens que podem evitar a morte de seus irmãos em armas. A disposição inicial para o combate é direcionada para o bem do grupo e dos objetivos das missões traçadas.
Depois vemos o relato do professor, mostrando que seus alunos não se acostumam com a violência em que vivem ao contrário do que se escuta (inclusive ao longo de outros depoimentos colhidos na matéria do UOL). Sentem medo, por eles mesmos e suas famílias, imersos no que já foi descrito várias vezes como uma zona de guerra.
Os policiais nas zonas de risco do Rio de Janeiro enfrentam então uma guerra. Podemos imaginar então que eles querem lutar como qualquer outro soldado, ou pelo menos uma parte deles. Receberam treinamento para isso. Os bandidos ligados ao tráfico também se organizam como grupos paramilitares, desenvolvem seus próprios códigos de lealdade e valentia. São todos soldados em uma zona de guerra.
No meio estão os que são vitimados, que temem pelas vidas de seus familiares e amigos, quer seja no Rio de Janeiro ou na Faixa de Gaza. Em que ponto o medo descrito pelo professor é substituído pela motivação para entrar em combate (de um lado ou de outro do conflito)? Que forças estimulam o desejo pelo combate e enfraquecem a vivência pacífica?
quarta-feira, 21 de julho de 2010
Energia e ecologia
De tempos em tempos lemos ou ouvimos comentários sobre o que poderia acontecer com o mundo se todas as pessoas tivessem o mesmo padrão de consumo que os norte-americanos. O alerta foi feito várias vezes pela WWF, ONG que atua mundialmente na área ambiental. Basicamente estamos consumindo muito mais do que o planeta pode produzir e, a julgar pelo rumo das coisas, caminhamos para uma crise de abastecimento global. As estimativas apontam que seriam necessários quatro planetas Terra e meio para que todos nós desfrutemos do mesmo padrão de consumo do norte-americano médio.
E já não adianta imaginar que nem todos no planeta irão atingir o padrão de consumo norte-americano. Os chineses já os ultrapassaram no quesito consumo de energia. Não quer dizer que todos os cidadãos estejam consumindo mais energia individualmente, pois a média geral para os chineses ainda é um quinto do consumo feito pelo cidadão médio norte-americano. Mas o gasto feito pelas indústrias e pelos grandes centros urbanos incrementaram os números do consumo geral de energia. E como cada vez mais chineses estão prosperando economicamente as perspectivas de crescimento são enormes.
A que tudo isso nos leva? Aos intermináveis debates nos fóruns mundiais. Os governantes dos países mais ricos não podem simplesmente pedir à sua população que consuma menos, ainda mais em um momento de crise econômica. Os governantes dos países mais pobres também não podem simplesmente determinar que sua população deverá viver indeterminadamente em patamares de subsistência, sem almejar por nenhuma prosperidade. Surgem então as soluções tradicionais travestidas pelo discurso da modernidade: conquistar novas áreas para exploração, quer seja através da subordinação econômica e política, quer seja com o emprego da força militar. E voltam os espiões, as ameaças nucleares, os exercícios militares, a busca por alianças.
Uma observação final apenas: são os mesmos fatores que transformam o risco de explorar petróleo em grandes profundidades em uma necessidade. A necessidade de manter o sistema e adiar as mudanças cada vez mais inevitáveis.
E já não adianta imaginar que nem todos no planeta irão atingir o padrão de consumo norte-americano. Os chineses já os ultrapassaram no quesito consumo de energia. Não quer dizer que todos os cidadãos estejam consumindo mais energia individualmente, pois a média geral para os chineses ainda é um quinto do consumo feito pelo cidadão médio norte-americano. Mas o gasto feito pelas indústrias e pelos grandes centros urbanos incrementaram os números do consumo geral de energia. E como cada vez mais chineses estão prosperando economicamente as perspectivas de crescimento são enormes.
A que tudo isso nos leva? Aos intermináveis debates nos fóruns mundiais. Os governantes dos países mais ricos não podem simplesmente pedir à sua população que consuma menos, ainda mais em um momento de crise econômica. Os governantes dos países mais pobres também não podem simplesmente determinar que sua população deverá viver indeterminadamente em patamares de subsistência, sem almejar por nenhuma prosperidade. Surgem então as soluções tradicionais travestidas pelo discurso da modernidade: conquistar novas áreas para exploração, quer seja através da subordinação econômica e política, quer seja com o emprego da força militar. E voltam os espiões, as ameaças nucleares, os exercícios militares, a busca por alianças.
Uma observação final apenas: são os mesmos fatores que transformam o risco de explorar petróleo em grandes profundidades em uma necessidade. A necessidade de manter o sistema e adiar as mudanças cada vez mais inevitáveis.
terça-feira, 20 de julho de 2010
Amizade de aluguel
É a proposta do site Rent a Friend e de outros similares existentes na Internet. Scott Rosenbaum é um dos que atuam nesse ramo e afirmou que teve ideia diante de facilidade de se encontrar ofertas de sexo e namoro na rede, mas que "Ninguém estava oferecendo amizade". Na verdade esses sites também não oferecem amizade. O "amigo" é alguém contratado para servir de guia turístico, companheiro de atividades físicas, companhia para um jantar, enfim! Tudo menos sexo.
Esses sites atribuem então o nome de "amizade" para uma gama de serviços variados, que já são executados por diferentes profissionais, como personal trainers, guias turísticos, terapeutas. Quantas vezes escutamos dos nossos pais e avôs a seguinte frase: "é nas dificuldades que conhecemos nossos verdadeiros amigos". Pois é! Se o cliente estiver em dificuldades financeiras não será capaz de alugar um amigo em nenhum desses sites. Se estiver em uma crise pessoal, depressivo, mas não tiver como pagar o serviço, não poderá contar com o apoio do "amigo". Ufa! É um alívio saber que ainda não conseguiram verdadeiramente comercializar a amizade!
Esses sites atribuem então o nome de "amizade" para uma gama de serviços variados, que já são executados por diferentes profissionais, como personal trainers, guias turísticos, terapeutas. Quantas vezes escutamos dos nossos pais e avôs a seguinte frase: "é nas dificuldades que conhecemos nossos verdadeiros amigos". Pois é! Se o cliente estiver em dificuldades financeiras não será capaz de alugar um amigo em nenhum desses sites. Se estiver em uma crise pessoal, depressivo, mas não tiver como pagar o serviço, não poderá contar com o apoio do "amigo". Ufa! É um alívio saber que ainda não conseguiram verdadeiramente comercializar a amizade!
segunda-feira, 19 de julho de 2010
Enem revela, outra vez, o que deveria ser evidente
As escolas particulares ocupam os primeiros lugares do Enem novamente. Das vinte melhores 18 são privadas. As duas públicas que aparecem entre elas são ligadas à universidades, uma com a Universidade Federal de Viçosa (UFV) e outra com a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). A melhor escola, o Colégio Vértice em São Paulo, fez 749,7 pontos e a pior, a Escola Estadual Indígena Dom Pedro I no Amazonas, fez 249,25 pontos. Os vinte últimos lugares são ocupados somente por escolas públicas estaduais ou municipais. Até aqui nada de novo, pois é a repetição do quadro geral de todo Enem.
O Jornal do Brasil publicou entrevista com Wanda Engel, do Conselho de Governança do movimento Todos pela Educação, a qual afirma que o Enem não serve para avaliar a qualidade das escolas. Serve para avaliar a qualidade do aluno, uma vez que o exame não é obrigatório e muitas escolas estimulam somente a participação de seus melhores alunos. É um argumento importante. O Colégio Vértice teve 62 inscritos mas somente 37 fizeram a prova (cerca de 40,3% de ausentes). Já o colégio da UFV teve 159 inscritos, dos quais 152 fizeram a prova (somente 4,4% de ausentes). É uma diferença que certamente afeta o estar em primeiro lugar ou em sétimo (caso do colégio federal). O colégio que ficou em último teve 58 alunos inscritos e 40 que efetivamente fizeram a prova (31% de ausentes).
O relatório de classificação das escolas no Enem possuí 632 páginas (pode ser baixado aqui, do site da Folha.com), mas o ranking termina na página 485 (com o colégio aqui mencionado do Amazonas). As primeiras 80 páginas são praticamente exclusivas das privadas e as últimas 80 páginas quase exclusivas das públicas estaduais. Mas sobram 147 páginas com escolas que tiveram menos de 2% de seus alunos participando do exame e que por isso não tiveram suas notas divulgadas. São 5399 escolas, 3483 públicas e 1916 privadas, para as quais o Enem passou quase que literalmente em branco. São alunos que não vão poder disputar uma vaga em nenhuma das universidades federais que vão utilizar somente a nota do Enem como critério de seleção.
Mas o que é mais revelador nos dados do Enem, como sempre, é aquilo que é apontado como a receita do sucesso do primeiro lugar. Uma escola com 900 alunos, que não ultrapassa o máximo de 50 alunos por sala, com uma mensalidade que vai de R$ 2.253 até R$ 2.756, incluindo neste valor várias atividades extracurriculares, como aulas de música, atividades esportivas, dança, culinária, teatro entre outras. A escola estimula a autonomia dos alunos e enfatiza a leitura. Todos na escola estão atentos e disponíveis para identificar problemas com os alunos e atendê-los sempre que necessário. Buscam uma parceria de confiança mútua com as famílias, que precisam conhecer o trabalho da escola. O que fazem quando tal confiança não existe? Recomendam que os pais procurem outra escola para seus filhos. O salário médio pago aos professores é de R$ 7.000,00.
O Colégio de Aplicação da UFV possuí professores selecionados em concurso público, no qual a titulação é levada em consideração, em regime de dedicação exclusiva. Estão disponíveis para atender os alunos em todos os horários do dia. O salário inicial, divulgado em edital este ano, é de R$ 2.757,64, havendo uma progressão significativa deste valor no plano de carreira. No ano passado, 2009, a remuneração de seus professores ficou entre R$ 2.300,00 e R$ 5.800,00.
Não vamos nos alongar mais. A receita segue os seguintes pontos:
- escolas estruturadas para receber os alunos, com laboratórios, computadores e biblioteca;
- professores com dedicação exclusiva ou quase exclusiva;
- parceria real entre pais e escola (o que excluí a relação de cliente/empresa praticada em muitas escolas e universidades);
- respeito aos professores, demonstrado tanto pela direção, pelos alunos e os pais;
- respeitos aos alunos praticado por professores, direção e pais;
- estimular a qualificação dos profissionais;
- remuneração que valoriza o profissional e lhe permite uma dedicação exclusiva, bem como o tempo necessário para preparara aulas inovadoras, com uso de recursos tecnológicos.
E não importa se é privada ou pública, a receita é a mesma. Quem não gasta dinheiro e tempo de dedicação com a educação não colhe resultados positivos.
sábado, 17 de julho de 2010
O que significa liberdade e democracia para os defensores oficiais da liberdade de imprensa?
Matéria divulgada no portal UOL apresenta opinião de Alejandro Aguirre, presidente da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), classificando os seguintes governantes como antidemocráticos:
Uma das coisas que me incomoda em toda a discussão atual sobre a liberdade de imprensa é justamente a freqüência com que os porta-vozes da grande imprensa empregam o termo democracia. Pois os grandes grupos que atuam na imprensa são a própria antítese da democracia. São empresas de capital privado, nós não escolhemos seus administradores. Ao mesmo tempo existem cada vez mais relatos de jornalistas destacando o controle sobre o que deve ou não ser publicado nas suas redações. Ao contrário do que é propalado a imprensa divulga somente o que atende aos seus interesses comerciais e certamente políticos. Basta verificar que, no geral, os grandes jornais divulgam basicamente as mesmas notícias, com enfoques que indicam a tendência política de quem autorizou a divulgação das mesmas.
Se a democracia implica na participação livre do povo por que tanta resistência em que sejam criados os mecanismos públicos de regulação da imprensa? Essa não é justamente a grande questão da democracia? A gestão nas mãos do povo?
O grande fato é que os grupos da grande imprensa atuam como um poder paralelo dentro de todos os Estados. São eles que transformam os fatos cotidianos em notícias, empregando critérios muitas vezes duvidosos. Lembro aqui de fato ocorrido em 2004. O jornalista Larry Rohter publicou matéria no The New York Times afirmando haver uma preocupação nacional no Brasil com o aumento de consumo de álcool pelo presidente Lula. As "fontes" utilizadas eram comentários e piadas de políticos da oposição ao governo. O que vimos então foi a revolta da imprensa nacional com a possibilidade de expulsão do jornalista (que atuava aqui como correspondente internacional do jornal norte-americano) discutida no governo, justamente por supostamente afrontar a liberdade de imprensa. Ainda que se possa considerar que a reportagem em si apenas divulgava a opinião expressa por um grupo de pessoas, tratou-se de um exemplo claro de que as informações que recebemos não são realmente verificadas pelos redatores dos grandes jornais (um resumo da polêmica pode ser lido aqui). E desse modo boatos e piados podem se tornar verdades. A liberdade de informar não deve ser confundida com a liberdade de difamar.
Voltando ao assunto inicial aqui tratado temos que considerar que existe também o direito, ou deveria existir, democrático de podermos criticar a imprensa. Todos nós, inclusive os membros do governo, sem com isso sermos tachados de antidemocráticos. O pressuposto central da democracia não é realmente somente a expressão da opinião pelo voto. Mas é a liberdade de participar do debate público, irrestrita para todos os cidadãos, acompanhada pela responsabilidade sobre aquilo que falamos.
A questão da propaganda oficial é também complicada. Sempre tento entender qual é a diferença real entre a propaganda de um produto qualquer que uma empresa tenta nos fazer comprar e a publicidade oficial que tenta nos convencer de que os governantes estão realizando seu trabalho. Comprar um jornal, uma revista ou acessar um site repleto de propagandas dos mais diversos itens é melhor do que visualizar propagandas oficiais do governo como? Outro dia estava lendo uma notícia no site do Le Monde quando minha filha de cinco anos se aproximou. Eu estava entretido com a notícia, mas o olhar dela foi atraído pelas imagens do site. Entre eles havia a propaganda de um site de "relacionamentos" adultos, no qual havia a animação do desenho dois cachorrinhos cruzando. Com toda ingenuidade ela me apontou a animação, afirmando que era muito bonitinho o fato de um cachorrinho estar coçando as costas do outro... Jamais esperava ver tal tipo de propaganda naquele jornal, mas estava lá.
A imprensa deve ser livre para realizar seu trabalho? Sempre. Existem governos que limitam abusivamente a imprensa? Claro, nós já vivemos em um regime desse tipo. Mas criticar a imprensa e desejar que exista um maior controle sobre o que é publicado é sinônimo de autoritarismo? Não. Os donos da grande imprensa não podem pretender serem os portadores oficiais da voz popular pelo simples fato de trabalharem com a divulgação de notícias que eles mesmo elaboram.
- Hugo Chávez (Venezuela)
- Cristina Kirchner (Argentina)
- Rafael Correa (Equador)
- Evo Morales (Bolívia)
- Daniel Ortega (Nicarágua)
- Porfírio Lobo (Honduras)
- Lula (Brasil)
Uma das coisas que me incomoda em toda a discussão atual sobre a liberdade de imprensa é justamente a freqüência com que os porta-vozes da grande imprensa empregam o termo democracia. Pois os grandes grupos que atuam na imprensa são a própria antítese da democracia. São empresas de capital privado, nós não escolhemos seus administradores. Ao mesmo tempo existem cada vez mais relatos de jornalistas destacando o controle sobre o que deve ou não ser publicado nas suas redações. Ao contrário do que é propalado a imprensa divulga somente o que atende aos seus interesses comerciais e certamente políticos. Basta verificar que, no geral, os grandes jornais divulgam basicamente as mesmas notícias, com enfoques que indicam a tendência política de quem autorizou a divulgação das mesmas.
Se a democracia implica na participação livre do povo por que tanta resistência em que sejam criados os mecanismos públicos de regulação da imprensa? Essa não é justamente a grande questão da democracia? A gestão nas mãos do povo?
O grande fato é que os grupos da grande imprensa atuam como um poder paralelo dentro de todos os Estados. São eles que transformam os fatos cotidianos em notícias, empregando critérios muitas vezes duvidosos. Lembro aqui de fato ocorrido em 2004. O jornalista Larry Rohter publicou matéria no The New York Times afirmando haver uma preocupação nacional no Brasil com o aumento de consumo de álcool pelo presidente Lula. As "fontes" utilizadas eram comentários e piadas de políticos da oposição ao governo. O que vimos então foi a revolta da imprensa nacional com a possibilidade de expulsão do jornalista (que atuava aqui como correspondente internacional do jornal norte-americano) discutida no governo, justamente por supostamente afrontar a liberdade de imprensa. Ainda que se possa considerar que a reportagem em si apenas divulgava a opinião expressa por um grupo de pessoas, tratou-se de um exemplo claro de que as informações que recebemos não são realmente verificadas pelos redatores dos grandes jornais (um resumo da polêmica pode ser lido aqui). E desse modo boatos e piados podem se tornar verdades. A liberdade de informar não deve ser confundida com a liberdade de difamar.
Voltando ao assunto inicial aqui tratado temos que considerar que existe também o direito, ou deveria existir, democrático de podermos criticar a imprensa. Todos nós, inclusive os membros do governo, sem com isso sermos tachados de antidemocráticos. O pressuposto central da democracia não é realmente somente a expressão da opinião pelo voto. Mas é a liberdade de participar do debate público, irrestrita para todos os cidadãos, acompanhada pela responsabilidade sobre aquilo que falamos.
A questão da propaganda oficial é também complicada. Sempre tento entender qual é a diferença real entre a propaganda de um produto qualquer que uma empresa tenta nos fazer comprar e a publicidade oficial que tenta nos convencer de que os governantes estão realizando seu trabalho. Comprar um jornal, uma revista ou acessar um site repleto de propagandas dos mais diversos itens é melhor do que visualizar propagandas oficiais do governo como? Outro dia estava lendo uma notícia no site do Le Monde quando minha filha de cinco anos se aproximou. Eu estava entretido com a notícia, mas o olhar dela foi atraído pelas imagens do site. Entre eles havia a propaganda de um site de "relacionamentos" adultos, no qual havia a animação do desenho dois cachorrinhos cruzando. Com toda ingenuidade ela me apontou a animação, afirmando que era muito bonitinho o fato de um cachorrinho estar coçando as costas do outro... Jamais esperava ver tal tipo de propaganda naquele jornal, mas estava lá.
A imprensa deve ser livre para realizar seu trabalho? Sempre. Existem governos que limitam abusivamente a imprensa? Claro, nós já vivemos em um regime desse tipo. Mas criticar a imprensa e desejar que exista um maior controle sobre o que é publicado é sinônimo de autoritarismo? Não. Os donos da grande imprensa não podem pretender serem os portadores oficiais da voz popular pelo simples fato de trabalharem com a divulgação de notícias que eles mesmo elaboram.
sexta-feira, 16 de julho de 2010
Existem espiões e espiões...
A justiça dos EUA condenou um casal de espiões cubanos. Kendall Myers tem 73 anos e sua esposa, Gwendolyn, 72 anos. Ele trabalhou no Departamento de Estado de 1977 até 2007, período durante o qual transmitiram basicamente informações econômicas para Cuba. Durante o julgamente Myers afirmou que queriam auxiliar na revolução comunista dos cubanos. Em todos esses anos o casal recebeu muito pouco dinheiro por suas atividades, permanecendo na atividade de espionagem por acreditarem na causa.
Myers pegou prisão perpétua e sua esposa seis anos e nove meses de prisão, por conta de sua condição de saúde (sofreu derrames e um enfarte). Ele ainda sofrerá um processo para devolver todo o salário que recebeu como funcionário do Departamento de Estado, cerca de 1,7 milhão de dólares.
Depois de vermos a troca de espiões com a Rússia e o caso do cientista iraniano seqüestrado e levado ilegalmente aos EUA a condenação desse casal de "perigosos espiões" é cômica, para não dizer trágica. As informações que possam ter transmitido certamente não tornaram Cuba uma ameaça real ao poder dos EUA.
Vejo-me obrigado e repetir que fica cada vez mais claro e evidente o que move as alianças econômicas, políticas e militares no mundo. Os fortes, com exércitos que podem representar um potencial real de perigo, são recebidos com almoços em lanchonetes. Já os fracos...
Myers pegou prisão perpétua e sua esposa seis anos e nove meses de prisão, por conta de sua condição de saúde (sofreu derrames e um enfarte). Ele ainda sofrerá um processo para devolver todo o salário que recebeu como funcionário do Departamento de Estado, cerca de 1,7 milhão de dólares.
Depois de vermos a troca de espiões com a Rússia e o caso do cientista iraniano seqüestrado e levado ilegalmente aos EUA a condenação desse casal de "perigosos espiões" é cômica, para não dizer trágica. As informações que possam ter transmitido certamente não tornaram Cuba uma ameaça real ao poder dos EUA.
Vejo-me obrigado e repetir que fica cada vez mais claro e evidente o que move as alianças econômicas, políticas e militares no mundo. Os fortes, com exércitos que podem representar um potencial real de perigo, são recebidos com almoços em lanchonetes. Já os fracos...
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Contato humano
Não é de hoje que as pessoas cometem suicídio. Existem vários estudos sobre o tema, desde os que apontam para os diferentes distúrbios psicológicos associados à depressão, até os que lidam com as pressões sociais que estimulam e, em alguns casos, encorajam diretamente tal atitude. Ao ler uma notícia sobre o suicídio de uma jovem britânica de 21 anos acabei caindo em uma seqüência de artigos tratando da mesma questão nos dias de hoje. O ponto em comum é a constatação do aumento dos suicídios. Vejamos rapidamente os casos.
A jovem britânica passou dois anos desempregada, vivendo do seguro desemprego, tendo enviado neste período mais de cem currículos para as mais variadas funções. Foi rejeitada por todos. Havia se formado com boas notas e iniciado uma faculdade, que abandonou para tentar começar a trabalhar. Não apresentava um quadro prévio de depressão. Deixou um bilhete para a mãe, um para o pai e outro para o namorado, em que dizia “não quero mais ser eu”.
A Universidade de Cornel, nos EUA, detectou um aumento no suicídio de seus alunos neste ano acadêmico: já foram seis casos. Nos três últimos os alunos pularam de uma das pontes da universidade (algumas com cerca de 30 metros de altura. No período de 2000 até 2005 a universidade teve dez casos de suicídio, confirmando uma tendência preocupante de aumento dos casos. Entre as possíveis explicações aparecem a pressão pelo conquista de um alto desempenho acadêmico na universidade, mas que não é maior do que a realizada em outras instituições dos EUA.
Situação semelhante preocupa as autoridades de Mumbai, na Índia. Nos primeiros 26 dias deste ano foram registrados 32 suicídios de jovens. A cidade registra uma média geral de três suicídios por dia. Chama atenção a idade de dois desses jovens: 11 e 12 anos. Novamente uma das causas apontadas é a grande pressão familiar e social para que os jovens tenham um alto desempenho em seus estudos.
O Japão também, famoso pelos seus índices de suicídio elevados, registrou um aumento de 15% dos casos. Somente em janeiro deste ano foram 2.645. O desemprego é o principal fator apontado, coincidindo tal aumento com o fim do período de seguro desemprego iniciado no ano passado com a crise econômica. Ocorre um suicídio a cada 20 minutos no Japão em média, podendo chegar até um a cada 15 minutos nos momentos de crise. Reflexos de uma cultura onde o suicídio é uma prática cultural aceita, principalmente em situações de fracasso e desonra.
A França também registrou um aumento nos casos, mas aparentemente restritos aos funcionários da France Télécom. A empresa era uma estatal e foi privatizada em 2004 e registrou 25 suicídios de funcionários nos últimos 20 meses. Entre os motivos aponta-se que antes eles eram funcionários públicos, mas que agora trabalham para uma empresa privada, com uma política expressa de pressões por resultados. A insatisfação, a ameaça de ser demitido ou mesmo de ser obrigado a demitir outros colegas são também indicadas.
Enquanto isso a cidade de Belfast, Irlanda do Norte, começou a treinar cabeleireiros, taxistas , funcionários de lojas e de centrais de emprego para que consigam identificar sinais de depressão suicida e então oferecer algum suporte psicológico. O motivo: são profissionais que lidam diretamente com o público, em espaços nos quais as pessoas costumam conversar sobre diversos assuntos. Em seis semanas a cidade havia contabilizado 30 suicídios.
Casos diversos de regiões variadas. Revelam problemas da contemporaneidade, que afetam até mesmo as gerações mais jovens. Não se trata somente de gerações mais velhas que não capazes de entender as mudanças do mundo de hoje. Mesmo os jovens que nasceram imersos nas novas tecnologias sofrem os efeitos do choque de realidade: sair do mundo virtual em que cresceram para o mercado de trabalho capitalista. Somos bombardeados de todos os lados por notícias do sucesso precoce dos jovens empresários da internet. Parece que se o sucesso não acontecer de imediato, de preferência antes dos 25 anos, seu destino é o fracasso. No meio desse turbilhão emocional a solução que aparece é o contato humano, a boa e antiquada conversa, mas não entre pessoas que interpretam personagens de um bate-papo virtual. Mas aquela em que você olha diretamente para seu interlocutor e se permite perceber tudo que vai além das aparências.
A jovem britânica passou dois anos desempregada, vivendo do seguro desemprego, tendo enviado neste período mais de cem currículos para as mais variadas funções. Foi rejeitada por todos. Havia se formado com boas notas e iniciado uma faculdade, que abandonou para tentar começar a trabalhar. Não apresentava um quadro prévio de depressão. Deixou um bilhete para a mãe, um para o pai e outro para o namorado, em que dizia “não quero mais ser eu”.
A Universidade de Cornel, nos EUA, detectou um aumento no suicídio de seus alunos neste ano acadêmico: já foram seis casos. Nos três últimos os alunos pularam de uma das pontes da universidade (algumas com cerca de 30 metros de altura. No período de 2000 até 2005 a universidade teve dez casos de suicídio, confirmando uma tendência preocupante de aumento dos casos. Entre as possíveis explicações aparecem a pressão pelo conquista de um alto desempenho acadêmico na universidade, mas que não é maior do que a realizada em outras instituições dos EUA.
Situação semelhante preocupa as autoridades de Mumbai, na Índia. Nos primeiros 26 dias deste ano foram registrados 32 suicídios de jovens. A cidade registra uma média geral de três suicídios por dia. Chama atenção a idade de dois desses jovens: 11 e 12 anos. Novamente uma das causas apontadas é a grande pressão familiar e social para que os jovens tenham um alto desempenho em seus estudos.
O Japão também, famoso pelos seus índices de suicídio elevados, registrou um aumento de 15% dos casos. Somente em janeiro deste ano foram 2.645. O desemprego é o principal fator apontado, coincidindo tal aumento com o fim do período de seguro desemprego iniciado no ano passado com a crise econômica. Ocorre um suicídio a cada 20 minutos no Japão em média, podendo chegar até um a cada 15 minutos nos momentos de crise. Reflexos de uma cultura onde o suicídio é uma prática cultural aceita, principalmente em situações de fracasso e desonra.
A França também registrou um aumento nos casos, mas aparentemente restritos aos funcionários da France Télécom. A empresa era uma estatal e foi privatizada em 2004 e registrou 25 suicídios de funcionários nos últimos 20 meses. Entre os motivos aponta-se que antes eles eram funcionários públicos, mas que agora trabalham para uma empresa privada, com uma política expressa de pressões por resultados. A insatisfação, a ameaça de ser demitido ou mesmo de ser obrigado a demitir outros colegas são também indicadas.
Enquanto isso a cidade de Belfast, Irlanda do Norte, começou a treinar cabeleireiros, taxistas , funcionários de lojas e de centrais de emprego para que consigam identificar sinais de depressão suicida e então oferecer algum suporte psicológico. O motivo: são profissionais que lidam diretamente com o público, em espaços nos quais as pessoas costumam conversar sobre diversos assuntos. Em seis semanas a cidade havia contabilizado 30 suicídios.
Casos diversos de regiões variadas. Revelam problemas da contemporaneidade, que afetam até mesmo as gerações mais jovens. Não se trata somente de gerações mais velhas que não capazes de entender as mudanças do mundo de hoje. Mesmo os jovens que nasceram imersos nas novas tecnologias sofrem os efeitos do choque de realidade: sair do mundo virtual em que cresceram para o mercado de trabalho capitalista. Somos bombardeados de todos os lados por notícias do sucesso precoce dos jovens empresários da internet. Parece que se o sucesso não acontecer de imediato, de preferência antes dos 25 anos, seu destino é o fracasso. No meio desse turbilhão emocional a solução que aparece é o contato humano, a boa e antiquada conversa, mas não entre pessoas que interpretam personagens de um bate-papo virtual. Mas aquela em que você olha diretamente para seu interlocutor e se permite perceber tudo que vai além das aparências.
quarta-feira, 14 de julho de 2010
Educação: formação não é um detalhe
Matéria divulgado pelo site do jornal O Estado de S. Paulo mostra que houve um aumento, nos últimos anos, do número de professores sem diploma de graduação. De 594 mil em 2007 passaram para 636 mil em 2009. A situação é pior na educação infantil, mas se repete também para o ensino médio. Mas o que chama atenção mesmo na notícia são os comentários que ele gerou. Em vários momentos aparece a argumentação de que o trabalho de professor é uma vocação, que a pessoa nasce com tal habilidade, que o diploma é somente uma formalidade que não garante o bom trabalho...
Realmente, muitas pessoas começam a dar aulas por falta de opção e percebem, depois de algum tempo, que adoram a profissão. São profissionais que jamais tiveram uma aula de licenciatura e que aprender a lecionar do no cotidiano da sala de aula.
Mas a existência de bons professores com tais características somente reforça a necessidade da formação! Frequentemente escutamos e lemos que a educação não muda, que os mesmos métodos de ensino vem sendo empregados com as novas gerações. Pois bem! O espaço para a reflexão sobre as mudanças necessárias no trabalho dos professores é a universidade! Um bom curso de licenciatura é aquele que propicia tal discussão com os seus alunos. Caso contrário o professor pode mesmo acabar reproduzindo as técnicas dos seus antigos professores, aquelas que sua lembrança guardou como eficientes. E somente após algum tempo trabalhando terá acesso, se lecionar em uma boa escola, a algumas reflexões atuais sobre educação, fazendo sua formação simultaneamente à prática. Não era melhor se ele tivesse feito tal reflexão antes de entrar na sala de aula?
Imaginem como seriam esses bons professores sem formação se tivessem tido a oportunidade de refletir sobre suas atividades!
Vimos recentemente a divulgação dos resultados do Ideb, revelando que o ensino brasileiro reprovou de ano: não atingiu média cinco. A formação do professor não é única causa desse quadro, mas certamente o afeta.
Assusta que o ensino superior esteja tão desvalorizado no Brasil. O fato de que existem universidades e faculdades de baixa qualidade não elimina a necessidade da formação superior. Um diploma superior é o reconhecimento de uma habilidade que vai além da memorização de algumas teorias e conceitos. O diploma registra que a pessoa domina todas as ferramentas necessárias para a atuação em uma determinada área, incluindo aqui a escrita, a leitura, a exposição oral, o emprego de conceitos e teorias, a reflexão crítica fundamentada, as metodologias de pesquisa, a ética profissional, enfim! Caso contrário seremos sempre uma nação de amadores, que não refletem sobre as práticas realizadas.
Ninguém se deixaria operar por alguém que se diga médico mas que não tenha formação em medicina. O professor forma as mentes das novas gerações de todas as profissões! Não é uma responsabilidade menor.
Realmente, muitas pessoas começam a dar aulas por falta de opção e percebem, depois de algum tempo, que adoram a profissão. São profissionais que jamais tiveram uma aula de licenciatura e que aprender a lecionar do no cotidiano da sala de aula.
Mas a existência de bons professores com tais características somente reforça a necessidade da formação! Frequentemente escutamos e lemos que a educação não muda, que os mesmos métodos de ensino vem sendo empregados com as novas gerações. Pois bem! O espaço para a reflexão sobre as mudanças necessárias no trabalho dos professores é a universidade! Um bom curso de licenciatura é aquele que propicia tal discussão com os seus alunos. Caso contrário o professor pode mesmo acabar reproduzindo as técnicas dos seus antigos professores, aquelas que sua lembrança guardou como eficientes. E somente após algum tempo trabalhando terá acesso, se lecionar em uma boa escola, a algumas reflexões atuais sobre educação, fazendo sua formação simultaneamente à prática. Não era melhor se ele tivesse feito tal reflexão antes de entrar na sala de aula?
Imaginem como seriam esses bons professores sem formação se tivessem tido a oportunidade de refletir sobre suas atividades!
Vimos recentemente a divulgação dos resultados do Ideb, revelando que o ensino brasileiro reprovou de ano: não atingiu média cinco. A formação do professor não é única causa desse quadro, mas certamente o afeta.
Assusta que o ensino superior esteja tão desvalorizado no Brasil. O fato de que existem universidades e faculdades de baixa qualidade não elimina a necessidade da formação superior. Um diploma superior é o reconhecimento de uma habilidade que vai além da memorização de algumas teorias e conceitos. O diploma registra que a pessoa domina todas as ferramentas necessárias para a atuação em uma determinada área, incluindo aqui a escrita, a leitura, a exposição oral, o emprego de conceitos e teorias, a reflexão crítica fundamentada, as metodologias de pesquisa, a ética profissional, enfim! Caso contrário seremos sempre uma nação de amadores, que não refletem sobre as práticas realizadas.
Ninguém se deixaria operar por alguém que se diga médico mas que não tenha formação em medicina. O professor forma as mentes das novas gerações de todas as profissões! Não é uma responsabilidade menor.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Moeda de troca
O Senado aprovou projeto de autoria da senadora Ideli Salvatti (PT-SC) que altera a forma de punição aos magistrados envolvidos em faltas graves. Até o momento a "punição" aplicada é a aposentadoria compulsória. Ou seja, a punição que recebem é o afastamento remunerado definitivo de suas funções. Associações de magistrados já estão se organizando para contestar o projeto, que consideram inconstitucional. Um dos argumentos é justamente o de que o cargo é vitalício, de modo que só pode ser perdido após o processo transitar em julgado, ou seja, quando não há mais possibilidade de nenhum tipo de recurso, o que no Brasil significam muitos e muitos anos, principalmente para quem tem os recursos financeiros necessários.
Já podemos ver o que vai se tornar o elemento de troca nas relações entre os três poderes.
Já podemos ver o que vai se tornar o elemento de troca nas relações entre os três poderes.
domingo, 11 de julho de 2010
Sem direito de reclamar
Ser professor é realmente um desafio constante. Não bastassem as condições de trabalho já conhecidas os ataques contra a categoria se tornaram cada vez mais comuns. E não estou pensando hoje nas dificuldades no trato com pais, patrões e alunos. Explico. Os presidentes de várias centrais sindicais lançaram um manifesto conjunto para criticar algumas declarações feitas por José Serra. É evidente que o texto possui um caráter político, afinal estamos oficialmente em plena campanha. Assinam o texto os presidentes da CGTB, CTB, CUT, Força Sindical e da Nova Central, chamando atenção justamente a união de centrais sindicais muitas vezes antagônicas (como a CUT e Força Sindical).
Você já deve estar querendo saber onde vou chegar. Pois bem. O jornalista Josias de Souza publicou texto em seu blog atacando diretamente o manifesto, que foi desqualificado como sendo simplesmente uma peça montada por um sindicalismo pró-Dilma, mas sem que nenhum argumento do manifesto fosse realmente contestado. Para completar o ataque o jornalista aponta que a Apeoesp, associação que representa os professores da rede pública no estado de São Paulo, foi multada pelo TSE, que entendeu que os ataques feitos contra Serra durante a greve dos professores tinham um caráter político, ou seja, que visavam prejudicar a candidatura do tucano.
A Apeoesp não assina diretamente o manifesto criticado pelo jornalista. Então qual é o motivo de escolher o sindicato dos professores para ilustrar sua desqualificação do texto ao invés de um de seus signatários? Parece-me simples: é mais fácil criticar uma categoria que já vem sendo massacrada de todos os lados. Pretendeu utilizar a Apeoesp para indicar que os ataques contra Serra são somente resultado do processo político corrente, o que já teria sido reconhecido pela justiça.
Esqueceu somente de comentar da situação da nossa educação, do resultado vexatório do último Ideb, inclusive no estado que costumava ser governado por Serra. Os grevistas atacaram o governador em suas falas? Lógico! Quem mais seria lembrado? Parece que todos querem brigar para ficar com os créditos pelas obras construídas, mas ninguém quer assumir a responsabilidade pela gestão da educação pública em São Paulo, com média geral (somando todos os anos do ensino) de 4,4. E a culpa recai novamente nos professores e nos seu representantes que, pelo que parece, também já não possuem o direito de reclamar.
Você já deve estar querendo saber onde vou chegar. Pois bem. O jornalista Josias de Souza publicou texto em seu blog atacando diretamente o manifesto, que foi desqualificado como sendo simplesmente uma peça montada por um sindicalismo pró-Dilma, mas sem que nenhum argumento do manifesto fosse realmente contestado. Para completar o ataque o jornalista aponta que a Apeoesp, associação que representa os professores da rede pública no estado de São Paulo, foi multada pelo TSE, que entendeu que os ataques feitos contra Serra durante a greve dos professores tinham um caráter político, ou seja, que visavam prejudicar a candidatura do tucano.
A Apeoesp não assina diretamente o manifesto criticado pelo jornalista. Então qual é o motivo de escolher o sindicato dos professores para ilustrar sua desqualificação do texto ao invés de um de seus signatários? Parece-me simples: é mais fácil criticar uma categoria que já vem sendo massacrada de todos os lados. Pretendeu utilizar a Apeoesp para indicar que os ataques contra Serra são somente resultado do processo político corrente, o que já teria sido reconhecido pela justiça.
Esqueceu somente de comentar da situação da nossa educação, do resultado vexatório do último Ideb, inclusive no estado que costumava ser governado por Serra. Os grevistas atacaram o governador em suas falas? Lógico! Quem mais seria lembrado? Parece que todos querem brigar para ficar com os créditos pelas obras construídas, mas ninguém quer assumir a responsabilidade pela gestão da educação pública em São Paulo, com média geral (somando todos os anos do ensino) de 4,4. E a culpa recai novamente nos professores e nos seu representantes que, pelo que parece, também já não possuem o direito de reclamar.
sexta-feira, 9 de julho de 2010
Prisioneiros
Guillermo Fariñas, o dissidente político cubano que estava em greve de fome, encerrou seu protesto, que durou mais de 130 dias, após confirmação da notícia sobre a libertação de 52 presos políticos pelo governo de Cuba. A decisão já havia sido anunciada pela Igreja Católica cubana, após negociação que contou com a participação ativa do cardeal Jaime Ortega, chefe da Igreja em Cuba.
A ONU comemorou as decisões, mas a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, minimizou o ocorrido:
E para tornar tudo mais interessante a ONU divulgou um documento condenando o ataque que afundou o navio sul-coreano, mas não atribuiu nenhuma culpa ao governo norte-coreano, indicando inclusive sua preocupação com as conclusões feitas pela investigação conduzidas por Seul. Lembrando que a Coreia do Norte só não sofreu sanções por parte da ONU pois elas foram vetadas pela China. Confirmamos, outra vez, que a força militar e econômica de uma nação é o verdadeiro combustível das relações internacionais.
A ONU comemorou as decisões, mas a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, minimizou o ocorrido:
"Nós pensamos que é um sinal positivo. É algo que já está atrasado mas todavia muito bem vindo."Ao mesmo tempo os governos norte-americano e russo consideram que a troca de espiões que ocorreu hoje, é resultado do sucesso do relançamento das relações entre as duas nações. Novamente vemos que as disposições para acordos e celebrações seguem a lógica das parcerias militares e econômicas consideradas prioritárias.
E para tornar tudo mais interessante a ONU divulgou um documento condenando o ataque que afundou o navio sul-coreano, mas não atribuiu nenhuma culpa ao governo norte-coreano, indicando inclusive sua preocupação com as conclusões feitas pela investigação conduzidas por Seul. Lembrando que a Coreia do Norte só não sofreu sanções por parte da ONU pois elas foram vetadas pela China. Confirmamos, outra vez, que a força militar e econômica de uma nação é o verdadeiro combustível das relações internacionais.
quinta-feira, 8 de julho de 2010
As metas do Ideb
Com a divulgação dos resultados do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) abre-se, mais uma vez, o espaço para reflexão sobre os problemas de nosso sistema de ensino. Um debate interessante ocorreu no programa Entre Aspas, na Globo News. A fala que mais chamou minha atenção foi a do economista Claúdio de Moura e Castro:
A revolução que a educação precisa é muito mais ampla do que normalmente se considera. Melhorar salários, qualificar professores e implantar novas tecnologias são todas medidas importantes, mas que precisariam ser adotadas em conjunto, para voltar a tornar a docência uma carreira atraente. Só que também precisamos de uma estrutura social e econômica que permita aos pais acompanharem o ensino de seus filhos.
O que assusta? A projeção das metas do Ideb para o ensino médio em 2021:
Por isso é que os investimentos em educação precisam acontecer simultaneamente em todos os níveis.
"Quem acha que a educação no Brasil é ruim são as pessoas educadas. E são poucas as pessoas educadas. Portanto é uma minoria, a maioria corresponde a 70% dos pais, dos alunos e dos professores, acham a educação boa. Para mim esse é o grande problema da educação: é a falta de percepção de 70% da população de que o ensino oferecido é muito ruim."O problema apontado é muito grave e atrapalha o desenvolvimento de todo o nosso sistema educacional. Vi muitas vezes colegas professores passarem pelo constrangimento, diante de um desempenho fraco de notas de seus alunos, de sofrerem uma destas duas acusações (ou ambas ao mesmo tempo!): a culpa é dele que não ensinou direito e não soube estimular os alunos; a culpa é dele que cobrou temas absurdos nas provas, elevando demais o nível. Ou seja: o professor é responsabilizado realizando ou não o seu trabalho. Se não ensina ele tem culpa (neste caso bastante lógica). Mas se ele ensina muito e cobra com mais exigência também tem culpa. Resta então, para alguns, a solução de ensinar e cobrar pouco, quando aparentemente a situação se estabiliza para 70% da população. As metas e as médias do Ideb indicam bem esse quadro:
- ensino fundamental, anos iniciais
- meta em 2009: 4,2
- resultado: 4,6
- ensino fundamental, anos finais
- meta em 2009: 3,7
- resultado: 4,0
- ensino médio
- meta em 2009: 3,5
- resultado: 3,6
- ensino fundamental privado, anos iniciais
- meta em 2009: 6,3
- resultado: 6,4
- ensino fundamental privado, anos finais
- meta em 2009: 6,0
- resultado: 5,9
- ensino médio privado
- meta em 2009: 5,7
- resultado: 5,6
A revolução que a educação precisa é muito mais ampla do que normalmente se considera. Melhorar salários, qualificar professores e implantar novas tecnologias são todas medidas importantes, mas que precisariam ser adotadas em conjunto, para voltar a tornar a docência uma carreira atraente. Só que também precisamos de uma estrutura social e econômica que permita aos pais acompanharem o ensino de seus filhos.
O que assusta? A projeção das metas do Ideb para o ensino médio em 2021:
- Público: 4,9
- Estadual: 4,9
- Municipal: 4,8
- Privado: 7,0
- Geral: 5,2
Por isso é que os investimentos em educação precisam acontecer simultaneamente em todos os níveis.
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Democracia militar
Parece que a Colômbia se tornou a porta-voz oficial da democracia militar norte-americana. Após o bombardeio que matou 12 guerrilheiros das Farc ontem, hoje o seu chanceler, Jaime Bermúdez deu declarações, em uma conferência no Rio de Janeiro, afirmando ser necessário abrir as discussões sobre o comércio e a segurança das fronteiras com o governo da Venezuela. Uma demonstração de força seguida de uma demonstração de disposição ao diálogo, bem dentro do estilo descrito por Maquiavel. O chanceler afirmou que a integração da região é difícil pois "existem dúvidas sobre os valores da democracia" de alguns países e ainda: "Temos que avançar mais na defesa dos valores fundamentais da democracia para construir uma integração mais sólida na região".
Faltou dizer que enquanto algumas nações hastearem a bandeira da democracia em mísseis será difícil para a população de qualquer país entender o seu significado. Principalmente quando tal recado surge do representante de uma nação cujo exército assassinou camponeses inocentes somente para aumentar os números oficiais de baixas no combate às Farc, além de terem apoiado os golpista que derrubaram o presidente democraticamente eleito de Honduras, Manuel Zelaya.
Estamos realmente na era das democracias flexibilizadas!...
Faltou dizer que enquanto algumas nações hastearem a bandeira da democracia em mísseis será difícil para a população de qualquer país entender o seu significado. Principalmente quando tal recado surge do representante de uma nação cujo exército assassinou camponeses inocentes somente para aumentar os números oficiais de baixas no combate às Farc, além de terem apoiado os golpista que derrubaram o presidente democraticamente eleito de Honduras, Manuel Zelaya.
Estamos realmente na era das democracias flexibilizadas!...
Mundo sem lei
Parece que a onda de regularização do ilegal não vai acabar. Começamos por uma declaração do general norte-americano Ray Odierno, sugerindo que a ONU deveria enviar uma força de paz internacional ao Iraque quando as tropas dos EUA deixarem o território. Interessante! A invasão do Iraque foi um ato unilateral dos EUA (e seus aliados costumeiros), que foi inclusive contra as determinações da ONU. Agora surge a proposta de passarem o problema criado para a comunidade internacional! E pode não haver realmente outra opção para a ONU, diante da situação do Iraque. E assim os EUA terão legitimado sua invasão e passado um recado claro de que eles sabem o que é o melhor para o mundo.
Outra situação surge dentro dos EUA. O estado do Arizona aprovou uma lei de imigração que permite que a polícia fiscalize os documentos de pessoas paradas por qualquer infração, caso suspeitem que se trata de um estrangeiro ilegal. A medida vai certamente atingir todas as pessoas com traços latinos, que acabarão sujeitas à fiscalizações extraordinárias. O governo federal dos EUA entrou com ação contra o Arizona, por ser tal lei ilegal. O problema? Várias pesquisas realizadas nos EUA mostram que a população norte-americana é favorável a tal tipo de lei, que já estão sendo estudadas por pelo menos outros quinze estados. O crescimento desse tipo de discriminação e eliminação dos direitos estabelecidos assusta. Parece clara a mensagem de que as leis só valem se fizerem o que eles acreditam, em cada momento, ser o melhor para seus próprios interesses.
E o mesmo ocorre no caso dos espiões russos. O governo dos EUA e os advogados defesa negociam um acordo para acelerar o fim do problema. Basicamente parecem concordar em que os acusados de espionagem se declarem culpados de crimes mais leves, com penalidades menores, de modo que poderão ser deportados para a Rússia. E tudo acabaria do mesmo modo que começou.
Para não deixar o Brasil de fora vejamos uma última notícia. O ministro do STJ Paulo Medina, afastado de seu cargo por suspeita de envolvimento com a máfia dos caça-níqueis, não somente manteve seu salário, de R$ 24.400,00, como acabou de receber um apartamento funcional em Brasília, de propriedade da União. Para todos os efeitos parece que ele está de férias... Fica cada vez mais claro que o Ficha Limpa precisa atingir também o poder judiciário.
Outra situação surge dentro dos EUA. O estado do Arizona aprovou uma lei de imigração que permite que a polícia fiscalize os documentos de pessoas paradas por qualquer infração, caso suspeitem que se trata de um estrangeiro ilegal. A medida vai certamente atingir todas as pessoas com traços latinos, que acabarão sujeitas à fiscalizações extraordinárias. O governo federal dos EUA entrou com ação contra o Arizona, por ser tal lei ilegal. O problema? Várias pesquisas realizadas nos EUA mostram que a população norte-americana é favorável a tal tipo de lei, que já estão sendo estudadas por pelo menos outros quinze estados. O crescimento desse tipo de discriminação e eliminação dos direitos estabelecidos assusta. Parece clara a mensagem de que as leis só valem se fizerem o que eles acreditam, em cada momento, ser o melhor para seus próprios interesses.
E o mesmo ocorre no caso dos espiões russos. O governo dos EUA e os advogados defesa negociam um acordo para acelerar o fim do problema. Basicamente parecem concordar em que os acusados de espionagem se declarem culpados de crimes mais leves, com penalidades menores, de modo que poderão ser deportados para a Rússia. E tudo acabaria do mesmo modo que começou.
Para não deixar o Brasil de fora vejamos uma última notícia. O ministro do STJ Paulo Medina, afastado de seu cargo por suspeita de envolvimento com a máfia dos caça-níqueis, não somente manteve seu salário, de R$ 24.400,00, como acabou de receber um apartamento funcional em Brasília, de propriedade da União. Para todos os efeitos parece que ele está de férias... Fica cada vez mais claro que o Ficha Limpa precisa atingir também o poder judiciário.
terça-feira, 6 de julho de 2010
A informática e os TREs
E o Ficha Limpa manda outros sinais das malandragens e dificuldades de sua aplicação. Podemos ler casos de políticos que não se inscreveram para as eleições, mas que indicaram o filho ou a esposa. Ao mesmo tempo foi verificado que os TREs (Tribunais Regionais Eleitorais) aceitaram todas as inscrições apresentadas, pois não dispõem de nenhum meio para verificar a situação jurídica dos candidatos. Os TREs devem analisar as inscrições até o dia cinco de agosto e os que não conseguirem o registro podem ainda recorrer da decisão no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em um mundo informatizado, com tantas facilidades de comunicação, é no mínimo estranho verificar o argumento de que não há como saber se o candidato foi ou não condenado. A falta de estrutura, ou a conveniência de sua falta, pode então acabar comprometendo a aplicação eficiente da lei.
domingo, 4 de julho de 2010
Sibérias
A história de russa Tatyana Kazakova é chocante e reveladora de muitas maneiras. Ela era prefeita da cidade de Listvyanka na Sibéria. Para os que não se lembram a Sibéria era o local para onde o governo da extinta URSS mandava seus piores desafetos passarem temporadas indeterminadas na prisão. A Sibéria registra temperaturas de até 50 graus célsius negativos nas regiões mais frias e de cerca de 8 graus célsius negativos nas mais quentes.
Cerca de dois anos e meio atrás uma construção em um resort na cidade expôs um veio natural de águas térmicas, pelas quais Listvyanka é conhecida, ameaçando o aquecimento de toda população. Ela abriu então um processo contra os proprietários do resort. O problema: o proprietário é a FSB (Serviço Federal de Segurança), agência estatal russa que substituiu a KGB (Comitê de Segurança do Estado).
Quem acabou processada e presa foi a prefeita. Sua vida foi completamente investigada por 25 agentes da FSB, tendo permanecido sem nenhum contato com seu noivo e com sua filha (de 15 anos de idade e que sofre de problemas neurológicos). Chamou-me atenção a frase de um de seus advogados, Dmitri Dmitriyev:
EUA e Reino Unido estão em processo de aproximação efetiva da Rússia, buscando seu apoio para as sanções ao Irã e a Coreia do Norte. Após Obama comer um hambúrguer com fritas em público com o presidente da Rússia, vimos que seu governo assinou um acordo com a Polônia para instalar uma base de mísseis naquela região. Os russos eram contra tal medida.
Parece que cercear direitos e agir sorrateiramente é o que une os novos aliados, além do gosto por alimentos não saudáveis. Estamos "bem" servidos!...
Cerca de dois anos e meio atrás uma construção em um resort na cidade expôs um veio natural de águas térmicas, pelas quais Listvyanka é conhecida, ameaçando o aquecimento de toda população. Ela abriu então um processo contra os proprietários do resort. O problema: o proprietário é a FSB (Serviço Federal de Segurança), agência estatal russa que substituiu a KGB (Comitê de Segurança do Estado).
Quem acabou processada e presa foi a prefeita. Sua vida foi completamente investigada por 25 agentes da FSB, tendo permanecido sem nenhum contato com seu noivo e com sua filha (de 15 anos de idade e que sofre de problemas neurológicos). Chamou-me atenção a frase de um de seus advogados, Dmitri Dmitriyev:
Eles agem com impunidade total. Podem conduzir inquéritos especiais, coletar informações sobre as pessoas, violar direitos humanos fundamentais, colocar pessoas na prisão, mantendo-as lá por quanto tempo quiserem, manipulam juízes e promotores. Esse caso é somente uma demonstração de tudo isso.No meio da crise pela descoberta de espiões russos nos EUA e provavelmente também no Reino Unido, o caso da prefeita, além do absurdo que representa, nos revela muito sobre a proximidade entre as grandes potencias. Os prisioneiros em Guantánamo passaram e passam pela mesma situação e o governo norte-americano ainda não apresentou nenhuma medida real para fechar a prisão. No caso da tortura aos soldados iraquianos em Abu Ghraib, por soldados norte-americanos vimos, somente após grande pressão internacional, a prisão de dois sargentos e seis soldados. Nenhum oficial foi responsabilizado, em um teatro para convencer a opinião pública de que tudo teria sido uma decisão isolada desses soldados e seus sargentos. Interessante que essa é uma desculpa comum em casos de tortura, inclusive aqui no Brasil durante a ditadura militar: ninguém ordenou nada.
EUA e Reino Unido estão em processo de aproximação efetiva da Rússia, buscando seu apoio para as sanções ao Irã e a Coreia do Norte. Após Obama comer um hambúrguer com fritas em público com o presidente da Rússia, vimos que seu governo assinou um acordo com a Polônia para instalar uma base de mísseis naquela região. Os russos eram contra tal medida.
Parece que cercear direitos e agir sorrateiramente é o que une os novos aliados, além do gosto por alimentos não saudáveis. Estamos "bem" servidos!...
sábado, 3 de julho de 2010
O classificado
Que não tenhamos ido para as semi-finais da Copa já é um fato assimilado. Mas preciso comentar a classificação do Uruguai. O gol de Gana que não aconteceu por conta da "defesa" feita por Suarez me parece inaceitável. O tipo de fraude que a FIFA já demorou demais para resolver empregando os recursos tecnológicos disponíveis. Tudo bem que o jogador foi punido com a expulsão e o penalti concedido. Mas aquele era um gol certo que deixou de acontecer. E na cobrança de qualquer penalti existe sempre a possibilidade do erro ou da defesa. O jogador decidiu usar sua expulsão como moeda de troca de um gol certo por um incerto... E Suarez e seu time acabaram ganhando a vaga.
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Detergente na ficha II
E não demorou tanto assim! Quando o Ficha Limpa foi aprovado comentei aqui sobre como agora o Judiciário tinha subitamente aumentado seus poderes. E que a luta dos políticos seria agora, em muitos casos, para encontrar uma maneira de limpar as suas fichas. O STF, na figura de Gilmar Mendes, concedeu um efeito suspensivo em condenação pelo Tribunal de Justiça do Piauí contra o senador Heráclito Fortes do DEM. A sentença é interessante. Ele não anulou a condenação do senador, mas suspendeu os efeitos da sentença, de modo que a ficha de Fortes acabou devidamente limpa e adequada para qualificá-lo a concorrer novamente nas próximas eleições. E como Mendes não anulou o julgamento feito no TJ-PI evitou também um desgaste interno no Judiciário, afirmando que o senador do DEM ainda poderá ser condenado novamente.
Vai faltar detergente...
Vai faltar detergente...
quinta-feira, 1 de julho de 2010
Aos aliados o esquecimento
Manuel Zelaya, que foi deposto do cargo de presidente de Honduras ano passado, gerando uma crise que envolveu diversos países da região, com destaque particular para o Brasil, fez elogios ao posicionamento do nosso governo e de outros que fazem parte da Unasul (União das Nações Sul-Americanas). Honduras foi expulsa da Organização dos Estados Americanos (OEA) por conta do golpe contra o governo de Zelaya. Em toda crise os golpistas contaram com apoio da Colômbia e do Peru, além dos EUA, os quais defenderam o reconhecimento do novo governo após a realização de eleições presidenciais. Um dos impedimentos a o retorno da Honduras para a OEA é justamente o fato de que o novo governo anistiou todos os envolvidos no golpe, menos o ex-presidente Zelaya.
Vemos também os EUA preocupados com os casos de corrupção no governo estabelecido no Afeganistão. Foram milhões de dólares enviados pelos EUA, dos quais uma boa parte simplesmente desapareceu. Os que estão no governo afegão hoje são aliados dos norte-americanos, de modo que a troca de acusações começou, sobre quem seria o responsável pelos desvios.
E fica cada vez mais evidente que aos aliados tudo se perdoa, quer seja a corrupção, um golpe de Estado ou ações de espionagem.
Vemos também os EUA preocupados com os casos de corrupção no governo estabelecido no Afeganistão. Foram milhões de dólares enviados pelos EUA, dos quais uma boa parte simplesmente desapareceu. Os que estão no governo afegão hoje são aliados dos norte-americanos, de modo que a troca de acusações começou, sobre quem seria o responsável pelos desvios.
E fica cada vez mais evidente que aos aliados tudo se perdoa, quer seja a corrupção, um golpe de Estado ou ações de espionagem.
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