sábado, 24 de julho de 2010

O Big Mac e a casa própria

Como podemos relacionar esses dois temas dispares? Primeiramente lembrando que a revista The Economist costuma apresentar o Índice Big Mac, que utiliza o preço do famoso lanche nos vários países para calcular com anda a situação cambial dos mesmos. Basicamente eles convertem o preço do lanche da moeda local para dólar e elaboram um ranking. O preço do Big Mac nos EUA é colocado como o parâmetro de comparação. O Brasil aparece em quarto lugar entre os países com o Big mac mais caro: US$ 4,91. Nos EUA o lanche sai por US$ 3,73. Realizando um novo cálculo a revista indica que o Real pode estar sobrevalorizado em relação ao dólar em cerca de 31%, ou seja, que o dólar no Brasil deveria estar valendo R$ 2,33. A meta ideal nesse índice é que o lanche custe o mesmo que nos EUA. A revista admite que ele não muito preciso, mas serve para fornecer um quadro geral.

Vamos ao segundo ponto, da casa própria. Uma rápida busca por notícias no Google pode nos apresentar algo que a maioria já percebeu na prática: um aumento absurdo no preço dos imóveis, novos ou usados. Em Copacabana no Rio de Janeiro os imóveis valorizaram 48% de janeiro de 2009 para janeiros de 2010. No Morumbi em São Paulo o preço do metro quadrado passou de R$ 2.800,00 para R$ 3.700,00 nos últimos dois anos. Matéria da Globo.com mostra os seguintes dados da valorização dos imóveis em algumas capitais:

    * Recife - 60% em um ano;
    * Brasília - 50% em dois anos;
    * Rio de Janeiro - 100% em dois anos;
    * São Paulo - 100% em cinco anos;
    * Curitiba - 100% em dois anos;
    * Porto Alegre - 10,5% em um ano.

Vários fatores são apresentados para justificar os aumentos, inclusive um aumento da demanda, particularmente em São Paulo e no Rio de Janeiro , quer seja pela maior facilidade de crédito ou pelas perspectivas de futuro com as Olimpíadas e a Copa do Mundo.

Qualquer que seja a questão a euforia imobiliária vista em paralelo com o Índice Big Mac apresenta um quadro parecido com o dos EUA antes da atual crise. Mas com uma grande diferença: nossos salários aqui são muito mais baixos. E nem é preciso dizer que o reajuste dos salários não acompanhou a valorização dos imóveis. Na eventualidade de uma situação de desemprego o que irá acontecer com todos esses financiamentos de imóveis? Principalmente se considerarmos que a maioria das famílias brasileiras não recebem o suficiente para guardarem reservas financeiras? Se nossa moeda estiver realmente sobrevalorizada em 31% então o que ocorre no mercado de imóveis com seus aumentos acima de 50% é a mais pura e simples descrição da super especulação financeira. E os preços não subiram somente nas capitais, onde a média salarial é mais alta.

Temos então uma moeda e um mercado sobrevalorizado, mas com uma população que continua ganhando muito pouco. Basta comparar com os dados do salário mínimo necessário calculado pelo DIEESE (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos). Um junho de 2010 ele deveria ter sido de R$ 2.092,36, bem distante dos atuais R$ 510,00. Quatro vezes menor, ou 24,4% do valor ideal. Por isso ainda continuamos precisando de programas variados de complementação de renda.

E não adianta culpar o governo atual. O Real sempre foi apontado, desde o seu início, como uma moeda que estava sobrevalorizada. Basta lembrar que ele começou com um parelhamento com relação ao dólar, através da URV (Unidade Real da Valor). Quem ainda se lembra que a URV valia CR$ 2.750,00, que era o valor aproximado do dólar na época (1993-94)? E que um Real valia uma URV na conversão da moeda? O plano Real criou um caminho sem volta, que os governos tiveram que sustentar de diferentes maneiras diante do risco do colapso completo. Podemos estar diante do início do fim do ciclo de euforia iniciado com o Real, indicados pelos sinais de sobrevalorização da moeda e do mercado.

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