sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Crise e mérito

A Malwee fechou uma unidade em Blumenau e demitiu 300 funcionários. Como já virou rotina colocaram a culpa na crise. Mas o interessante é ninguém ter lembrado dos últimos anos da empresa. Em 2011 a empresa passou de pai para filho. O herdeiro assumiu a presidência e realizou o plano de abrir lojas de varejo da marca. Estilo Hering. Naquele ano a empresa havia crescido 22% e projetava crescer 25% em 2012. O que houve? Tudo culpa da Dilma? Na mentalidade tacanha dos nossos falsos liberais parece que sim. A unidade de Blumenau representava 3% da produção da empresa. Então já começamos vendo que a empresa cresceu pelo menos perto de 40% alguns anos atrás e agora encolheu 3%. Quando cresceu não deve ter dado um aumento proporcional de salários aos seus funcionários, mas quando encolheu demitiu. Existem funcionários falando de má gestão e de mudanças de sistema na empresa que geraram atrasos e cancelamentos de pedidos. Eu lembro quando a Malwee era uma marca de roupas de boa qualidade, característica que não se manteve, pelo menos não em todas as linhas da empresa. O setor têxtil é altamente competitivo, com muitas empresas nacionais e internacionais, disputando o mesmo mercado. As pessoas não pararam de comprar roupa. Ninguém está andando pelado. O mercado saturou de ofertas de roupas de baixa e média qualidade, que não vão mais, como antigamente, ficar para os irmãos mais novos... Elas não duram tanto, viram pano de chão. Com essa realidade o consumidor opta pelo mais barato mesmo. Quem pode pagar consome outras marcas. Mas é tudo culpa do PT e da Dilma... Crescimento econômico sempre vem acompanhado de aumento de competitividade. E diante do quanto a empresa cresceu antes essa notícia incomoda. Pois ninguém falou sobre os lucros. Na seguinte linha. Uma pessoa abre uma empresa para ganhar dinheiro. Então ela precisa ganhar dinheiro para manter a empresa e dinheiro para se manter. O lucro começa depois que a empresa ganha o necessário para se manter. Esse lucro não é todo investido na empresa. Ele vai para uma conta do dono (de seus sócios e acionistas se houverem), provavelmente em outro país, onde será aplicado no mercado financeiro buscando outros rendimentos. É o dinheiro dele. O pagamento que recebe de sua própria empresa. Não vejo acontecer com essas grandes empresas o discurso de vamos empregar os recursos de nossos lucros para manter os empregos e melhorar a situação. Mas vemos a ostentação permanente. Eike Batista entrou em decadência e ainda tivemos noticias de seu filho comprando carros importados de mais de um milhão de reais... Há um capital que fica com os proprietários e que não volta para a empresa e nem para o mercado nacional. No discurso sobre a crise todo empresário aparece como empreendedor e competente sofrendo diante do Estado incompetente... O sucesso da empresa é mérito pessoal, o fracasso é culpa dos outros. Nada de novo no discurso do capital que segue gerando suas crises estruturais que sacrificam os pequenos para assegurar o conforto daquela minoria.