terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Generalizações

As redes sociais ajudaram a proliferar categorias genéricas que não dizem nada. Nenhuma novidade, as pessoas sempre fizeram isso. Falamos "os brasileiros", "os americanos", "os japoneses", "os alemães", como se todos os cidadãos destes países fossem iguais, pensassem igual. Mas creio que a principal categoria genérica de hoje é a dos "petistas". Sempre que alguém quer criticar algo na política, na direita e na esquerda, surge a categoria. Criticou o desmonte da constituição promovido pela ação do Moro? Petista! Elogiou o governo Lula? Petista! Pediu #ForaTemer? Petista! Falou em golpe? Petista! Daqueles identificados com a direita mais furiosa não se espera outra coisa mesmo além disso. Mas o interessante é o discurso que circula nas esquerdas. Toda hora aparece alguém para afirmar que "os petistas" precisam parar de acreditar que o PT não fez nada de errado. Que a esquerda precisa se libertar do PT. Que após cada crítica feita ao atual governo ilegítimo precisa afirmar que "não é petista", já assumindo que a expressão assumiu carácter generalizante de algo ruim... Interessante. Não conheço nenhum petista ou simpatizante, do meu círculo, que não seja crítico do que aconteceu no PT nas últimas décadas. Que não veja com tristeza nomes ligados ao partido, muitas vezes nomes obscuros para a grande maioria dos militantes, envolvidos em denúncias diversas. Que não tenham se decepcionado com certas decisões do partido. Mas para quê saber disso! Melhor fazer como a direita e generalizar. Ou então falam para a pessoa abandonar, partir para outra... Interessante que isso tudo vem acompanhado de uma crítica bem pouco reflexiva sobre a questão da política de coalizão. É evidente que existem problemas em tal modelo, mas são problemas sempre presentes na política, em qualquer sistema político! E qual é alternativa oferecida? Na direita ressurge dos esgotos o discurso da ditadura, do eu mando, eu bato, eu mato. Em setores da esquerda um purismo ideológico que imagina que vamos conseguir passar para algum tipo de comunitarismo de assembleia... E o diálogo, o respeito ao diverso, a busca de entendimento em meio às diferenças não é justamente a formação de coalizões? A corrupção como fenômeno social transcende os modelos de governo, pois pode e está presente em qualquer lugar. É verdade que o PT precisa se recriar, mas não é menos verdadeiro isto para todos os demais partidos de esquerda, para todos que estão indignados com o desmonte de direitos tão duramente conquistados. Tempo de recriarmos a nós mesmos e retomarmos, em todos os espaços, o que nos foi roubado.