segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O salário do professor e a qualidade da educação

Interessante como alguns temas rodam e rodam somente para acabarem batendo em soluções já conhecidas. Uma das conclusões a que os organizadores do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) chegaram é a de que os países que gastam muito dinheiro em educação, principalmente na qualificação e remuneração dos professores, são os que alcançam os melhores resultados. Palmas! Confirmaram com dados quantitativos e qualitativos aquilo que tem sido a pauta principal da luta dos sindicatos de professores no Brasil por décadas! Outra informação interessante a que chegaram com o Pisa é de que o número de alunos por sala não é tão importante quanto a remuneração do professor no que se refere à qualidade de ensino. Também não é nenhuma novidade. Há muitos anos que os melhores colégios particulares do Brasil possuem salas lotadas e professores que recebem de três até cinco vezes (em alguns casos mais) os salários de seus colegas do ensino público (e também de muitas particulares). Mais interessante é a frase de Daniel Cara, citada em matéria do portal UOL . Ele é coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação: “O grande caminho agora é incentivar a renda das famílias. Quanto maior a renda, maior a escolaridade”. Novamente a questão da remuneração, que nos leva para um tema já não tão intensamente presente nos debates contemporâneos: distribuição de renda. É preciso que o brasileiro passe a ganhar mais. E não se trata somente de uma questão de aumentar o salário mínimo. Precisamos mesmo é romper com a desvalorização histórica do trabalhador em nosso país e entender que o salário mínimo não deve ser definido como o salário máximo! Ele é o patamar menor da subsistência! Não adianta esperar que os professores se comportem como religiosos cumprindo uma missão! São seres com necessidades. Trabalham por que gostam da profissão, mas também precisam pagar suas contas. Se as aulas em uma escola não bastam para tanto vão precisar buscar por mais aulas em outras. Se dar aulas pela manhã não é o suficiente vão ocupar as tardes e as noites. E não se iludam: o professor que trabalha nesse ritmo ainda não vai conseguir ganhar o mesmo que o professor dos nossos melhores colégios (já escrevi sobre isto aqui no Blog ). Ocupa todo seu tempo com aulas e acaba sem tempo de prepará-las e de se reciclar. Também acaba sem tempo para a própria família. Sim, os professores possuem famílias para sustentar! Infelizmente, como todo trabalhador sabe, não é possível fazer isso somente com boas intensões e muita vocação.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Educação: Brasil e França

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou os resultados do seu Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). O Brasil comemorou os resultados e a França deplorou. Por aqui conseguimos subir de pontuação em leitura, ciências e matemática, com os seguintes números (pela ordem): 412; 405; 386. O objetivo era superar a barreira dos 400 pontos, daí a comemoração. Mas é preciso entender bem o real significado da tais pontuações:
  • leitura - metade dos brasileiros atinge somente o nível um estabelecido na avaliação. Isso significa que conseguem identificar somente informações explícitas nos textos e estabelecer algumas relações com seu contidiano. Não conseguem extrapolar, estabelecer relações com outras fontes de informação e nem mesmo encontrar outras informações menos evidentes. É aquilo que todo professor conhece: o aluno que só é capaz de encontrar uma resposta se ela estiver estampada em letras garrafais no texto, que não consegue interpretar realmente aquilo que leu.
  • matemática - temos que 69% de nossos estudantes estão no nível um também. Não conseguem ir muito além da matemática básica, apresentando grande dificuldades para lidar com as fórmulas ou os conceitos matemáticos. São capazes então de fazer as contas elementares, mas não conseguem lidar com nada mais elaborado (incluído aqui a regra de três...).
  • ciências - novamente temos metade dos alunos no nível um (54,2%). São alunos que não conseguem empregar a disciplina no seu cotidiano por realmente não a compreenderem. É o mesmo caso da habilidade de leitura: podem até encontrar a resposta da pergunta se ela for bastante evidente, mas não entendem realmente o seu significado.
Já os estudantes franceses obtiveram a seguinte pontuação: 496 em leitura; 497 em matemática; 498 em ciências. Por lá estão preocupados pois houve uma queda dos resultados dos alunos. Também ressaltam que os dados revelam que a educação na França não tem cumprido com seu papel de promover a ascensão social e de minorar as desigualdades. É isso! Claro que não temos como comparar duas realidades tão distintas como a brasileira e a francesa diretamente. Estamos lutando para chegar na marca dos 400 pontos e ainda nos falta muito para consolidar tal posição. Mas mesmo quando estivermos lutando para chegar na marca dos 500 pontos (o que espero que possa ocorrer nos próximos anos) teremos muito ainda por resolver. A educação é um caminho para a ascensão social e para o desenvolvimento, mas sozinha não faz milagres.
Se por um lado devemos ficar felizes pelo crescimento obtido não significa que devemos começar a celebrar. Não chegamos ainda na média definida pela OCDE (que gira em torno dos 500 pontos para cada conjunto de conhecimentos). Se demos passos importantes nos últimos anos eles foram certamente o início da tudo que ainda temos por fazer. Se queremos uma saúde melhor, uma economia melhor, serviços melhores, devemos ter profissionais melhores, com uma formação adequada. Então o que os resultados do Pisa realmente nos dizem é que devemos trabalhar mais pois temos muito pela frente. Mas não é somente o trabalho realizado pelas escolas e universidades que vai contar aqui, mas aquele de toda a sociedade.