quinta-feira, 22 de julho de 2010

O desejo de combater

Selecionei duas falas, aparentemente desconexas, para meu comentário de hoje. A primeira de um artigo da BBC-Brasil, falando sobre a frustração sentida pelos soldados norte-americanos que não chegam a entrar em combate:
"A média da população não se ofereceria para o serviço militar voluntariamente, então não entende o que motiva uma pessoa a lutar em uma zona de guerra" (Jay Agg, fuzileiro naval, gerente de comunicações do grupo de veteranos Amvets)
A segunda aparece em artigo do site UOL, relatando a rotina de violência em escolas localizadas em áreas de risco no Rio de Janeiro:
“Os alunos ficam muito nervosos. Não tem essa de ‘eles já estão acostumados’. Não, eles ficam nervosos mesmo. E querem saber notícias, como estão os parentes, querem saber se está tudo certo. E aí a gente tem que ir para o corredor, mas que também não garante segurança. Um corredor onde também há muitas janelas. Não tem espaço na escola que dê proteção.” (professor que solicitou não ser identificado)
O soldado norte-americano quer lutar. É algo relacionado com o companheirismo criado nos treinamentos. Nas forças armadas o soldado se torna parte de algo maior do que ele mesmo, não é somente sua bravura individual que importa, mas sua integração com o conjunto. Ser capaz de obedecer ordens que podem evitar a morte de seus irmãos em armas. A disposição inicial para o combate é direcionada para o bem do grupo e dos objetivos das missões traçadas.
Depois vemos o relato do professor, mostrando que seus alunos não se acostumam com a violência em que vivem ao contrário do que se escuta (inclusive ao longo de outros depoimentos colhidos na matéria do UOL). Sentem medo, por eles mesmos e suas famílias, imersos no que já foi descrito várias vezes como uma zona de guerra.
Os policiais nas zonas de risco do Rio de Janeiro enfrentam então uma guerra. Podemos imaginar então que eles querem lutar como qualquer outro soldado, ou pelo menos uma parte deles. Receberam treinamento para isso. Os bandidos ligados ao tráfico também se organizam como grupos paramilitares, desenvolvem seus próprios códigos de lealdade e valentia. São todos soldados em uma zona de guerra.
No meio estão os que são vitimados, que temem pelas vidas de seus familiares e amigos, quer seja no Rio de Janeiro ou na Faixa de Gaza. Em que ponto o medo descrito pelo professor é substituído pela motivação para entrar em combate (de um lado ou de outro do conflito)? Que forças estimulam o desejo pelo combate e enfraquecem a vivência pacífica?

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