Não é de hoje que as pessoas cometem suicídio. Existem vários estudos sobre o tema, desde os que apontam para os diferentes distúrbios psicológicos associados à depressão, até os que lidam com as pressões sociais que estimulam e, em alguns casos, encorajam diretamente tal atitude. Ao ler uma notícia sobre o suicídio de uma jovem britânica de 21 anos acabei caindo em uma seqüência de artigos tratando da mesma questão nos dias de hoje. O ponto em comum é a constatação do aumento dos suicídios. Vejamos rapidamente os casos.
A jovem britânica passou dois anos desempregada, vivendo do seguro desemprego, tendo enviado neste período mais de cem currículos para as mais variadas funções. Foi rejeitada por todos. Havia se formado com boas notas e iniciado uma faculdade, que abandonou para tentar começar a trabalhar. Não apresentava um quadro prévio de depressão. Deixou um bilhete para a mãe, um para o pai e outro para o namorado, em que dizia “não quero mais ser eu”.
A Universidade de Cornel, nos EUA, detectou um aumento no suicídio de seus alunos neste ano acadêmico: já foram seis casos. Nos três últimos os alunos pularam de uma das pontes da universidade (algumas com cerca de 30 metros de altura. No período de 2000 até 2005 a universidade teve dez casos de suicídio, confirmando uma tendência preocupante de aumento dos casos. Entre as possíveis explicações aparecem a pressão pelo conquista de um alto desempenho acadêmico na universidade, mas que não é maior do que a realizada em outras instituições dos EUA.
Situação semelhante preocupa as autoridades de Mumbai, na Índia. Nos primeiros 26 dias deste ano foram registrados 32 suicídios de jovens. A cidade registra uma média geral de três suicídios por dia. Chama atenção a idade de dois desses jovens: 11 e 12 anos. Novamente uma das causas apontadas é a grande pressão familiar e social para que os jovens tenham um alto desempenho em seus estudos.
O Japão também, famoso pelos seus índices de suicídio elevados, registrou um aumento de 15% dos casos. Somente em janeiro deste ano foram 2.645. O desemprego é o principal fator apontado, coincidindo tal aumento com o fim do período de seguro desemprego iniciado no ano passado com a crise econômica. Ocorre um suicídio a cada 20 minutos no Japão em média, podendo chegar até um a cada 15 minutos nos momentos de crise. Reflexos de uma cultura onde o suicídio é uma prática cultural aceita, principalmente em situações de fracasso e desonra.
A França também registrou um aumento nos casos, mas aparentemente restritos aos funcionários da France Télécom. A empresa era uma estatal e foi privatizada em 2004 e registrou 25 suicídios de funcionários nos últimos 20 meses. Entre os motivos aponta-se que antes eles eram funcionários públicos, mas que agora trabalham para uma empresa privada, com uma política expressa de pressões por resultados. A insatisfação, a ameaça de ser demitido ou mesmo de ser obrigado a demitir outros colegas são também indicadas.
Enquanto isso a cidade de Belfast, Irlanda do Norte, começou a treinar cabeleireiros, taxistas , funcionários de lojas e de centrais de emprego para que consigam identificar sinais de depressão suicida e então oferecer algum suporte psicológico. O motivo: são profissionais que lidam diretamente com o público, em espaços nos quais as pessoas costumam conversar sobre diversos assuntos. Em seis semanas a cidade havia contabilizado 30 suicídios.
Casos diversos de regiões variadas. Revelam problemas da contemporaneidade, que afetam até mesmo as gerações mais jovens. Não se trata somente de gerações mais velhas que não capazes de entender as mudanças do mundo de hoje. Mesmo os jovens que nasceram imersos nas novas tecnologias sofrem os efeitos do choque de realidade: sair do mundo virtual em que cresceram para o mercado de trabalho capitalista. Somos bombardeados de todos os lados por notícias do sucesso precoce dos jovens empresários da internet. Parece que se o sucesso não acontecer de imediato, de preferência antes dos 25 anos, seu destino é o fracasso. No meio desse turbilhão emocional a solução que aparece é o contato humano, a boa e antiquada conversa, mas não entre pessoas que interpretam personagens de um bate-papo virtual. Mas aquela em que você olha diretamente para seu interlocutor e se permite perceber tudo que vai além das aparências.
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