domingo, 4 de julho de 2010

Sibérias

A história de russa Tatyana Kazakova é chocante e reveladora de muitas maneiras. Ela era prefeita da cidade de Listvyanka na Sibéria. Para os que não se lembram a Sibéria era o local para onde o governo da extinta URSS mandava seus piores desafetos passarem temporadas indeterminadas na prisão. A Sibéria registra temperaturas de até 50 graus célsius negativos nas regiões mais frias e de cerca de 8 graus célsius negativos nas mais quentes.
Cerca de dois anos e meio atrás uma construção em um resort na cidade expôs um veio natural de águas térmicas, pelas quais Listvyanka é conhecida, ameaçando o aquecimento de toda população. Ela abriu então um processo contra os proprietários do resort. O problema: o proprietário é a FSB (Serviço Federal de Segurança), agência estatal russa que substituiu a KGB (Comitê de Segurança do Estado).
Quem acabou processada e presa foi a prefeita. Sua vida foi completamente investigada por 25 agentes da FSB, tendo permanecido sem nenhum contato com seu noivo e com sua filha (de 15 anos de idade e que sofre de problemas neurológicos). Chamou-me atenção a frase de um de seus advogados, Dmitri Dmitriyev:
Eles agem com impunidade total. Podem conduzir inquéritos especiais, coletar informações sobre as pessoas, violar direitos humanos fundamentais, colocar pessoas na prisão, mantendo-as lá por quanto tempo quiserem, manipulam juízes e promotores. Esse caso é somente uma demonstração de tudo isso.
No meio da crise pela descoberta de espiões russos nos EUA e provavelmente também no Reino Unido, o caso da prefeita, além do absurdo que representa, nos revela muito sobre a proximidade entre as grandes potencias. Os prisioneiros em Guantánamo passaram e passam pela mesma situação e o governo norte-americano ainda não apresentou nenhuma medida real para fechar a prisão. No caso da tortura aos soldados iraquianos em Abu Ghraib, por soldados norte-americanos vimos, somente após grande pressão internacional, a prisão de dois sargentos e seis soldados. Nenhum oficial foi responsabilizado, em um teatro para convencer a opinião pública de que tudo teria sido uma decisão isolada desses soldados e seus sargentos. Interessante que essa é uma desculpa comum em casos de tortura, inclusive aqui no Brasil durante a ditadura militar: ninguém ordenou nada.
EUA e Reino Unido estão em processo de aproximação efetiva da Rússia, buscando seu apoio para as sanções ao Irã e a Coreia do Norte. Após Obama comer um hambúrguer com fritas em público com o presidente da Rússia, vimos que seu governo assinou um acordo com a Polônia para instalar uma base de mísseis naquela região. Os russos eram contra tal medida.
Parece que cercear direitos e agir sorrateiramente é o que une os novos aliados, além do gosto por alimentos não saudáveis. Estamos "bem" servidos!...

Nenhum comentário:

Postar um comentário