quinta-feira, 8 de julho de 2010

As metas do Ideb

Com a divulgação dos resultados do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) abre-se, mais uma vez, o espaço para reflexão sobre os problemas de nosso sistema de ensino. Um debate interessante ocorreu no programa Entre Aspas, na Globo News. A fala que mais chamou minha atenção foi a do economista Claúdio de Moura e Castro:
"Quem acha que a educação no Brasil é ruim são as pessoas educadas. E são poucas as pessoas educadas. Portanto é uma minoria, a maioria corresponde a 70% dos pais, dos alunos e dos professores, acham a educação boa. Para mim esse é o grande problema da educação: é a falta de percepção de 70% da população de que o ensino oferecido é muito ruim."
O problema apontado é muito grave e atrapalha o desenvolvimento de todo o nosso sistema educacional. Vi muitas vezes colegas professores passarem pelo constrangimento, diante de um desempenho fraco de notas de seus alunos, de sofrerem uma destas duas acusações (ou ambas ao mesmo tempo!): a culpa é dele que não ensinou direito e não soube estimular os alunos; a culpa é dele que cobrou temas absurdos nas provas, elevando demais o nível. Ou seja: o professor é responsabilizado realizando ou não o seu trabalho. Se não ensina ele tem culpa (neste caso bastante lógica). Mas se ele ensina muito e cobra com mais exigência também tem culpa. Resta então, para alguns, a solução de ensinar e cobrar pouco, quando aparentemente a situação se estabiliza para 70% da população. As metas e as médias do Ideb indicam bem esse quadro:
  • ensino fundamental, anos iniciais
    • meta em 2009: 4,2
    • resultado: 4,6
  • ensino fundamental, anos finais
    • meta em 2009: 3,7
    • resultado: 4,0
  • ensino médio
    • meta em 2009: 3,5
    • resultado: 3,6
E mesmo quando consideramos somente o ensino privado, considerado como de melhor qualidade a situação revela a mesma tendência:
  • ensino fundamental privado, anos iniciais
    • meta em 2009: 6,3
    • resultado: 6,4
  • ensino fundamental privado, anos finais
    • meta em 2009: 6,0
    • resultado: 5,9
  • ensino médio privado
    • meta em 2009: 5,7
    • resultado: 5,6
Vejam então que no tipo de ensino considerado de melhor qualidade as metas foram atingidas somente nos anos iniciais do fundamental. Mesmo considerando que as metas aqui eram mais altas que no ensino público, o resultado revela que alguns pais estão pagando, no geral, para que seus filhos atinjam a média.
A revolução que a educação precisa é muito mais ampla do que normalmente se considera. Melhorar salários, qualificar professores e implantar novas tecnologias são todas medidas importantes, mas que precisariam ser adotadas em conjunto, para voltar a tornar a docência uma carreira atraente. Só que também precisamos de uma estrutura social e econômica que permita aos pais acompanharem o ensino de seus filhos.
O que assusta? A projeção das metas do Ideb para o ensino médio em 2021:
  • Público: 4,9
  • Estadual: 4,9
  • Municipal: 4,8
  • Privado: 7,0
  • Geral: 5,2
Em onze anos projeta-se que o ensino médio público ainda não terá atingido a nota 5,0, que no quadro geral somente será alcançada (5,2) por conta da espectativa de uma nota 7,0 no ensino médio privado. São os alunos que poderão tentar entrar para o ensino superior nos próximos anos, para em breve estarem atuando no mercado de trabalho, inclusive como professores.
Por isso é que os investimentos em educação precisam acontecer simultaneamente em todos os níveis.

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