sexta-feira, 25 de junho de 2010

O Irã, a Rússia e o hambúrguer

Duas notícias chamaram minha atenção. Na primeira aparece a informação de que o congresso dos EUA aprovou mais um conjunto de sanções ao Irã, atingindo agora as empresas que fornecem equipamentos para a Guarda Revolucionária e para o setor energético. A frase do senador republicano John McCain é reveladora: "Vamos oferecer uma escolha para as companhias do mundo todo: vocês querem fazer negócios com o Irã? Ou vocês querem fazer negócios com os Estados Unidos?", ao que ele mesmo respondeu "Não acreditamos que exista muita escolha, mas vamos obrigar as companhias a fazer esta escolha. Elas não podem negociar com os dois". É assim que a liberdade e a democracia se espalham pelo mundo, fornecendo alternativas que não são realmente alternativas, mas somente avisos.
A segunda apresenta o encontro amigável entre o presidente Obama e o presidente russo Medvedev. A frase de Obama é também reveladora: "Nosso país está mais seguro e o mundo está mais seguro quando os Estados Unidos e a Rússia se dão bem". Os presidentes foram almoçar em uma lanchonete, onde comeram hambúrgueres e dividiram uma porção de batatas fritas. Obama tomou um chá, Medvedev tomou uma Coca-Cola. Tudo devidamente fotografado. A ideia de divulgar imagens informais, com os presidentes conversando como velhos conhecidos, seguido da exibição do russo com uma Coca-Cola é um recado evidente. Mais do que o óbvio "estamos do mesmo lado", é um reforço para a imagem de que os valores norte-americanos estão se impondo no mundo. Essa é a imagem que os norte-americanos desejam ver no encontro com os antigos rivais de Guerra Fria: os russos se tornando um pouco como eles, incorporando seus valores, partilhando da mesma comida causadora de tantos problemas de saúde... O hambúrguer e seus acompanhantes são alguns dos símbolos do estilo de vida apressado e estressado do capitalismo norte-americano exportado para o mundo. Juntos para o que der e vier! Na vida saudável ou no colesterol! Na paz e na guerra...
E a segurança anunciada por Obama fica clara quando colocada em paralelo com a frase de McCain, seu ex-antagonista nas eleições presidenciais. O mundo tem mais uma alternativa sem reais opções a tomar. E a presença do russo na lanchonete nos lembra disso.

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