sexta-feira, 11 de junho de 2010

Diferentes porém iguais

Estava lendo alguns artigos sobre a questão da utilização da internet e das novas ferramentas tecnológicas em sala de aula e, inevitavelmente já que sou professor, comecei a elaborar minhas próprias reflexões. Sem entrar em detalhes sobre os texto que lidam com tal assunto, que são vários, dispersos em periódicos e fontes das mais diversas (como os blogs...), chama atenção que o foco das discussões muitas vezes recai nos seguintes pontos: mudamos tudo, toda dinâmica das salas de aula, pois as novas gerações não aprendem mais da forma como aprendíamos antes; não mudamos, apenas incorporamos algumas ferramentas, já que a nova geração é dispersa e precisa da boa e velha disciplina.
Ambas reflexões abordam as mudanças no comportamento dos jovens, de suas formas de socialização, a primeira considerando seus aspectos positivos, a segundo os negativos. Os que defendem a primeira entendem que os defensores da segunda são conservadores, presos às formas tradicionais, enquanto que estes acusam os primeiros de abandonarem tudo muito depressa, sem que realmente tenham aprendido algo. Entre tais extremos, pois existem as opiniões intermediárias, apresento aqui a minha breve reflexão. Tenho uma forte tendência a não acreditar no discurso que afirma serem as novas gerações mais capazes de apreender informação, de lidarem com uma multiplicidade de assuntos ao mesmo tempo, ou simplesmente de que “são mais espertos”, como ouvimos tantos pais falarem de seus filhos. Realmente eles nasceram em um mundo no qual as fontes de informação estão muito mais acessíveis do que para as gerações anteriores, mas entre ter o acesso, entender o que foi lido e ser capaz de empregar o conteúdo de maneira inovadora vai uma longa distância! Se hoje as crianças lidam sem sustos com as nossas tecnologias isso é resultado certamente das mudanças em nossos processos de socialização, mas não de algum tipo de mudança de fundo biológico! Uma criança no século XIX, vivendo em uma fazenda, era socializada de outra forma e aprendia a lidar sem medo com as técnicas de cultivo. Quantos de nós, imersos nas novas tecnologias, somos capazes de fazer de uma área de mata nativa uma fazenda produtiva? Ou mesmo de cultivar, com sucesso contínuo, uma horta nas grandes cidades? Os conhecimentos são diferentes, mas não são uns melhores do que os outros.
Já existem os que apresentam a discussão sobre como as novas gerações vivem plenamente em um ambiente virtual, uma sociedade virtualizada, expressa pelas inúmeras possibilidades disponíveis na rede mundial. Ora, a capacidade de imaginar, de viver em um plano irreal por alguns momentos, não é exclusiva da geração contemporânea. Não é de hoje que as crianças brincam, fantasiam que estão em terras distantes, que são aventureiros, transformam o espaço que as cercam na Lua ou qualquer outro lugar, possuem amigos imaginários. Contar histórias inventadas, criar mundos fantásticos, são coisas que os homens fazem desde que passamos a nos sentar ao redor de uma fogueira. O que o plano virtual de hoje faz é potencializar as nossas reuniões, de modo que a comunidade ao redor da fogueira se tornou imensa. E, com um número maior de pessoas opinando, o debate pode ficar muito mais produtivo e criativo. Frisando: pode ficar! Pois muitos debates ocorrem entre indivíduos imersos em suas próprias individualidades virtuais, acostumados a encerrar uma discussão em que seus pontos de vista são questionados simplesmente clicando no X no canto superior direito da tela, que partem em busca somente de pessoas com os mesmos interesses e formas de pensar. São pessoas que buscam por homogeneidade e não pelas diferenças que potencializam o desenvolvimento de novas ideias.
Como professor já trabalhei em situações diversas: do velho giz no quadro e alunos com cadernos, até salas com datashow, lousa digital e alunos portanto seus notebooks individuais. Do presencial ao EAD (Ensino à Distância). Já dei aulas em varandas de casas em assentamentos rurais, com os alunos sentados em caixotes de madeira, tendo uma tábua como mesa, sem quadro e nem giz. Aprendi que meu papel é realmente o de condutor, de guia para o aprendizado, para a reflexão, mas que é a disposição do aluno que o fará aprender. Nenhum dos recursos modernos de tecnologia garante a atenção de uma sala de aula. Algumas vezes até atrapalham, pois muitos jovens confundem os planos, acreditam que basta acessar a aula em casa e todo aprendizado acontecerá como em um download. Que basta encontrar um site no Google e copiá-lo ao professor para provar que aprendeu algo. Mas também já vi o potencial de tais ferramentas nos alunos interessados em aprender. São esses que avançam rapidamente.
Mas com toda a força da virtualidade ainda vejo muitos jovens buscando as velhas construções da nossa sociabilidade direta, só que agora possuem canais que ampliam suas possibilidades.
Não cheguei nem a falar na questão das diferenças econômicas e seu impacto no pertencimento à nova virtualidade. Fica para uma próxima conexão.

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