quarta-feira, 9 de junho de 2010

Quando todos são culpados

A GloboNews, em mais uma prova que a rede Globo reserva seu melhor jornalismo para os assinantes da televisão paga ou para os que pagam pelo seu conteúdo na internet, transmitiu uma entrevista com Mosab Hassan Youssef, que é filho de um dos fundadores do Hamas, o Sheike Hassan Youssef. Mosab atuou no Hamas, tendo sido inclusive preso por comprar armas para o grupo. Em seu tempo na prisão ele, que nunca chegou a realmente matar nenhum israelense, foi torturado e abordado para se tornar um espião dentro do Hamas. Cheio de ódio pelos israelenses ele acabou aceitando a proposta pensando em atuar como um agente duplo para ajudar o Hamas. Foi transferido para outra prisão, com outros palestinos e líderes do Hamas. Nessa nova prisão acabou mudando realmente para o lado dos israelenses, ao presenciar o Hamas torturar os próprios palestinos, que acusavam de traição. A percepção de que os grupos que lutam pelos palestinos empregam a mesma violência contra os próprios palestinos o desiludiu completamente. Passou a acreditar que precisava impedir a continuidade das mortes de pessoas inocentes e o trabalho como espião lhe dava tal oportunidade. No meio de tudo isso converteu-se ao cristianismo, segundo ele por conta de uma passagem do Evangelho de Marcos onde se prega que é necessário amar ao seu inimigo incondicionalmente. Mosab acredita que esse é o único caminho possível para a paz. Após dez anos de trabalho como espião precisou abandonar o serviço. Afirma que já não aguentava a situação de pressão, de viver escondendo dos amigos e da família suas atividades e também a conversão ao cristianismo. Hoje vive escondido, jurado de morte pelo Hamas, renegado pelo pai. Chama atenção no relato justamente o impasse da situação na Palestina: Mosab acredita que é necessário que ambos os lados abandonem o ódio e passem a adotar a mensagem do amor incondicional, mas a situação cotidiana vivida pelos palestinos somente reforça o ódio aos judeus, do mesmo modo que cada nova ação terrorista reforça o ódio israelense. E os que falam na paz que vem do perdão acabam sem lugar, tanto de um lado como do outro. Um ciclo de ódio e morte, com um lado militarmente estruturado e outro armado de seres humanos. É possível ler a história de Mosab no livro que lançou, O Filho do Hamas, já lançado no Brasil. Podendo-se discordar ou concordar com ele fica a mensagem da complexidade de uma situação que não será resolvida com argumentos maniqueístas, de nenhum dos dois lados.

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