sexta-feira, 4 de junho de 2010
Israel, Irã e tudo que não sabemos
O ataque israelense aos navios da missão de paz que se dirigiam para Gaza esfriou o debate sobre a questão do Irã, pelo menos na nossa mídia. Entre comentários que questionavam a sanidade e a competência dos membros do governo brasileiro envolvidos na negociação a ação de Israel criou uma situação nova de múltiplas possibilidades. Primeiro sobre o discurso em prol da paz do presidente Lula, apresentado em diversos meios, inclusive pela secretária de estado dos EUA Hilary Clinton, como uma mostra de certa ingenuidade e falta de conhecimento da situação. Não sei sobre a questão dos interesses escondidos, mas na própria proposta encabeçado pelo Brasil e Turquia, aquela acusada de ingenuidade, descobrimos que havia o interesse não revelado publicamente do presidente Obama. Talvez justamente o que faz falta ao mundo de hoje seja a capacidade de voltar a dizer as velhas verdades desgastadas pelos confrontos, de que precisamos, realmente, "dar uma chance para a paz". O segundo ponto é sobre a situação criada por Israel, que conseguiu dividir opiniões no Conselho de Segurança da ONU. Antes configurava-se um certo isolamento do Brasil e da Turquia, com o avanço das propostas de sanções. Agora o mesmo Conselho encontra-se já não tão unido, pois a situação, ainda que tenda a terminar sem a adoção de nenhuma ação real contra Israel, gerou no mínimo uma questão incômoda: como punir um país que nada fez ainda, em sentido preventivo, e passar apenas um sermão naquele que realmente fez algo? Pode não ser uma questão constrangedora para o presidente que recebeu o nobel da paz em meio de uma situação de guerra, ou mesmo para as grandes nações que o apoiam, mas para as demais a temática não é tão simples. Uma última questão que levanto é sobre os interesses de Israel. No momento em que o foco estava nas sanções contra o Irã o ataque aparece como algo, no mínimo, bizarro. Não é tanto assim. O avanço israelense na região não algo novo, bem como as incursões violentas de seu supertreinado exército. Há um recado evidente ligado ao uso da força aqui que certamente não passou desapercebido pelos vizinhos de Israel. Temos a força e a utilizaremos mesmo ao menor sinal de ameaça. Se para conter barcos em uma declarada missão humanitária nove pessoas (pelas informações oficiais até agora divulgadas) foram mortas e outras tantas agredidas e aterrorizadas, o que esperar diante da possibilidade de uma ameaça nuclear? Acho que o maior recado de Israel aqui é justamente para o Conselho de Segurança da ONU: detenham os que me ameaçam ou eu mesmo o farei. Ameaças e conivências, tais são os antagonistas do discurso da paz ingênua, mas que se faz cada vez mais necessária.
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