quinta-feira, 24 de junho de 2010

A permanência da eugenia na era da informação


Eugenia - termo criado por Francis Galton (1822-1911), defendo o controle social dos  fatores que ele acreditava poderem melhorar ou piorar as características raciais das próximas gerações. Foi amplamente utilizado pelos nazistas para justificar suas políticas de extermínio.

No ano de 2002 foi criada a rede social BeautifulPeople, com o objetivo declarado de somente ter entre seus membros pessoas consideradas bonitas. Para entrar na rede é preciso ser aprovado como "belo" pelos demais membros em uma votação online. Mesmo depois de aprovado a pessoa pode ser expulsa se for comprovado que deixou de cuidar da aparência, ganhando peso por exemplo. O site, que se orgulha de ter "promovido" o nascimento de bebês lindos de pessoas que nele se conheceram, agora está formando um "banco de esperma", para que todas as pessoas, mesmos as consideradas "não bonitas" (conforme linguagem que utilizam na rede), que desejem bebês lindos possam ter acesso aos genes privilegiados de seus participantes. Justificam tal política através de uma declaração do antropólogo Jean Smith, dizendo que o site estaria oferecendo apenas aquilo que todas pessoas fazem, que é buscar por portadores da melhor carga genética para procriar. (veja mais na BBC)
Mesmo que possamos considerar o fato de que muitas pessoas podem tentar entrar nesse rede social simplesmente pelo prazer de ser considerado "bonito", ou seja, parte de um certo ideal de beleza, a rede flerta diretamente com a eugenia. Aqui no Brasil, entre o final do século XIX e início do século XX, tivemos o desenvolvimento de uma política de "branqueamento racial", com o estímulo direto à imigração européia para diminuir a presença dos negros em nossa sociedade. O que essa rede social faz passa muito perto de tais ideias. Fortalecem um certo padrão de beleza e estimulam sua disseminação entre os "não bonitos", que não são aceitos como membros da rede! Ou seja, os "não bonitos" jamais poderão fazer parte do clube seleto, mas podem tentar gerar filhos "mais bonitos" que talvez possam ser aceitos. No limite temos a proposta de uma política deliberada de exclusão genética, que tenta se justificar ao afirmar que somente oferece o que as pessoas querem. Será mesmo somente isso? O site tem, ou pelo menos teve, uma procura realmente grande: rejeitaram cerca de 1,8 milhões de solicitações de adeptos no final de 2009. Consideremos, porém, que o Facebook possuí cerca de 350 milhões de adeptos. Temos então um site destinado a um grupo minoritário de pessoas que se consideram de alguma forma superiores às demais e que agora oferecem a estas a oportunidade de um gradual desaparecimento.
Não quer dizer que todos os membros da rede defendam literalmente tais ideias, mas não se pode negar que passam perigosamente perto da eugenia. Já tivemos exemplos demais dos extremos a que tais propostas podem chegar ao longo da história. Pensar que pessoas "bonitas" e "não bonitas" possam se conhecer, interessar-se e ter filhos não assusta ninguém. Criar um banco de doadores para uma tentativa de seleção genética é uma outra questão! Em algum tempo poderemos ver, de um lado, pessoas reclamando que seus filhos não nasceram com a aparência desejada, enquanto os doadores se justificarão dizendo que a culpa não estava nos seus genes...

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