Mosab Hassan Yousef, filho de um dos fundadores do Hamas que atuou como espião israelense (já escrevi aqui sobre a vida Mosab), conseguiu asilo político nos EUA. No mesmo período em que vemos esforços sendo feitos para unir as nações do mundo contra alguns inimigos comuns, que agora são a Coreia do Norte e o Irã, o asilo de Mosab aparece repentinamente. O Departamento de Segurança Nacional dos EUA já havia negado o asilo para ele em fevereiro deste ano, justamente por ter sido considerado como uma potencial ameaça por suas ligações com o Hamas. Mosab havia declarado, quando do lançamento de seu livro autobiográfico O Filho do Hamas, que desejava se afastar das atividades de espionagem. Observar então a repentina mudança de opinião do governo norte-americano levanta algumas suspeitas sobre a aposentadoria de Mosab.
Lembrando que o fato ocorreu na mesma semana em que foi anunciada a descoberta e a prisão de espiões russos que viviam nos EUA, tudo levanta uma sensação de que estamos assistindo um filme antigo sobre a Guerra Fria (lembrei de um com Kevin Costner, de 1987, Sem Saída, em que ele é um oficial da marinha acusado de ser um espião russo). A diferença é que agora a parceria com o governo russo é necessária, portanto a descoberta dos supostos espiões foi minimizada pelos dois governos.
Em tempos de preparação para guerra antigos inimigos se tornam aliados e espiões voltam a ter seu papel destacado.
quarta-feira, 30 de junho de 2010
Armas e liberdade
Na última segunda-feira a Suprema Corte do EUA decidiu que todos os cidadãos norte-americanos podem portar armas de fogo e empregá-las em legítima defesa. A questão foi levantada através de uma ação promovida por moradores da cidade da Chicago, onde o porte de armas foi proibido 28 anos atrás. Por cinco votos contra quatro prevaleceu o entendimento de que a Constituição norte-americana garante o porte de armas para todo cidadão, direito que não pode ser limitado por nenhum estado ou cidade. Evidentemente que a Associação Nacional do Rifle (NRA) comemorou a decisão como um marco na defesa da democracia e das liberdades individuais.
Parece que realmente a definição de democracia como a ditadura da maioria ganha nos EUA cada vez mais espaço. Não se trata de propor debates públicos e chegar a consensos negociados, mas de embates entre grupos em oposição, nos quais um perde e o outro ganha. E os derrotados devem se submeter. Os problemas surgem e tomam proporção quando a diferença entre ganhadores e perdedores não é tão grande assim. Uma decisão da Suprema Corte por cinco à quatro revela muito mais a divisão de opiniões do que o encerramento de um debate.
Enquanto isso vemos o novo comandante das forças armadas norte-americanas no Afeganistão, general David Petraeus, afirmar que é provável que os combates fiquem mais intensos pelos próximos meses. Os insurgentes do Talebã atacaram hoje uma das bases da Otan na região, surgindo de várias direções, usando um carro-bomba e granadas atiradas com foguetes. Não fizeram nenhuma vítima entre os membros da Otan, pois não conseguiram atingir o seu perímetro.
Com as notícias sobre o porte de armas nos EUA e o aumento da ofensiva militar no Afeganistão parece que somente a indústria de armamentos possuí motivos para celebrar. E tudo mais uma vez em nome da liberdade, da democracia e da busca pela paz.
Parece que realmente a definição de democracia como a ditadura da maioria ganha nos EUA cada vez mais espaço. Não se trata de propor debates públicos e chegar a consensos negociados, mas de embates entre grupos em oposição, nos quais um perde e o outro ganha. E os derrotados devem se submeter. Os problemas surgem e tomam proporção quando a diferença entre ganhadores e perdedores não é tão grande assim. Uma decisão da Suprema Corte por cinco à quatro revela muito mais a divisão de opiniões do que o encerramento de um debate.
Enquanto isso vemos o novo comandante das forças armadas norte-americanas no Afeganistão, general David Petraeus, afirmar que é provável que os combates fiquem mais intensos pelos próximos meses. Os insurgentes do Talebã atacaram hoje uma das bases da Otan na região, surgindo de várias direções, usando um carro-bomba e granadas atiradas com foguetes. Não fizeram nenhuma vítima entre os membros da Otan, pois não conseguiram atingir o seu perímetro.
Com as notícias sobre o porte de armas nos EUA e o aumento da ofensiva militar no Afeganistão parece que somente a indústria de armamentos possuí motivos para celebrar. E tudo mais uma vez em nome da liberdade, da democracia e da busca pela paz.
terça-feira, 29 de junho de 2010
Criando filhos virtuais
Cientistas realizaram uma pesquisa na Bélgica, entrevistando 15 mulheres. Descobriram que um terço delas considera a opção de congelar seus óvulos, como uma espécie de garantia para a futura maternidade, enquanto se concentram em suas carreiras. Investigação semelhante foi feita na Grã-Bretanha com 200 estudantes universitários, revelando a mesma tendência. De cada 10 estudantes de Medicina 8 consideram a possibilidade do congelamento, sendo que entre os atuam nas áreas de Educação e Esportes o número seria de 50%. As informações aparecem em matéria na BBC-Brasil.
Os estudos estão muito longe de poderem ser considerados como uma conclusão científica definitiva, ou mesmo como uma tendência geral. O número de entrevistados é pequeno e restrito para um grupo específico de pessoas: as que possuem nível universitário de ensino e uma carreira em desenvolvimento ou, pelo menos, o vislumbre de uma. Muitas pesquisas já indicaram que os índices de maternidade são menores entre as pessoas com esse perfil. As pesquisas divulgadas são interessantes, contudo, para pensarmos nos impactos dos avanços da ciência na organização da sociedade.
O mercado de trabalho exige hoje profissionais com capacidade de estarem sempre atualizados, com dinamismo para acompanharem as transformações das tendências. Entre o tempo que as pessoas passam no seus empregos e o tempo que precisam dedicar para ficarem atualizadas o que sobra é muito pouco. Para tal parcela menor é que ficam relegados os assuntos da vida pessoal e íntima. A questão do congelamento dos óvulos reflete mais um aspecto dessa realidade, no qual a vida profissional não é somente o oposto da pessoal, é sua inimiga.
Daí toda nossa virtualidade. As novas gerações precisam cada vez mais do mundo virtual, que podem acessar nos poucos instantes de folga ao longo de um dia de trabalho. É na velocidade das mensagens postadas em poucas palavras (abreviadas) e linhas que a sociabilidade se mantém. Não temos mais o tempo para longas conversas ao telefone, ou para sentar e escrever cartas, ainda que no computador. Quantas obras surgiram da troca de correspondências entre escritores e intelectuais! Revelando a intimidade da construção do conhecimento, do desenvolvimento de novas ideias, humanizando seus autores. Parece que realmente não as teremos mais...
Mas a maternidade não pode ser virtualizada. Não sem o risco de fazermos como aquele casal de sul-coreanos: entretidos em criar uma filha no mundo virtual esqueceram de alimentar a verdadeira, de três meses, que acabou morrendo de inanição. A solução que surge então é adiar, que é muito melhor do que negligenciar, esperando que a ciência possa superar as dificuldades da concepção.
O que será desses futuros pais e mães quando resolverem tornar o virtual em real? Quando finalmente fertilizarem os óvulos? Será que vão deixar para as escolas, transformadas em centros de formação integral dos jovens, a responsabilidade por tudo? Se for isso creio que vivemos agora em tal futuro! Já temos escolas prometendo aos pais aquilo que não podem, realmente, entregar: um espaço integral para seus filhos, onde a criança ficará por todo o dia, recebendo toda a educação necessária. Esquecem de dizer que é impossível atingir todos os alunos dessa forma. Imaginem um ambiente escolar com mil alunos e com 40 profissionais trabalhando. Desses 40, apenas cinco estarão dedicados ao entendimento especializado das questões emocionais diversas dos jovens, os demais tendo que lidar com todas as demais funções da escola. Teremos então a divisão de uma "mãe" para cada duzentos filhos! No final será a atuação direta dos pais que fará a diferença, tendo sido a escola seu complemento (a tal parceria família/escola de que tanto se fala).
O mundo virtual e tecnológico possuí inúmeras vantagens e pontos positivos. Temos que evitar, no embate entre a vida profissional e a pessoal, a transformação de nossos filhos em mais um problema incômodo a ser resolvido.
Os estudos estão muito longe de poderem ser considerados como uma conclusão científica definitiva, ou mesmo como uma tendência geral. O número de entrevistados é pequeno e restrito para um grupo específico de pessoas: as que possuem nível universitário de ensino e uma carreira em desenvolvimento ou, pelo menos, o vislumbre de uma. Muitas pesquisas já indicaram que os índices de maternidade são menores entre as pessoas com esse perfil. As pesquisas divulgadas são interessantes, contudo, para pensarmos nos impactos dos avanços da ciência na organização da sociedade.
O mercado de trabalho exige hoje profissionais com capacidade de estarem sempre atualizados, com dinamismo para acompanharem as transformações das tendências. Entre o tempo que as pessoas passam no seus empregos e o tempo que precisam dedicar para ficarem atualizadas o que sobra é muito pouco. Para tal parcela menor é que ficam relegados os assuntos da vida pessoal e íntima. A questão do congelamento dos óvulos reflete mais um aspecto dessa realidade, no qual a vida profissional não é somente o oposto da pessoal, é sua inimiga.
Daí toda nossa virtualidade. As novas gerações precisam cada vez mais do mundo virtual, que podem acessar nos poucos instantes de folga ao longo de um dia de trabalho. É na velocidade das mensagens postadas em poucas palavras (abreviadas) e linhas que a sociabilidade se mantém. Não temos mais o tempo para longas conversas ao telefone, ou para sentar e escrever cartas, ainda que no computador. Quantas obras surgiram da troca de correspondências entre escritores e intelectuais! Revelando a intimidade da construção do conhecimento, do desenvolvimento de novas ideias, humanizando seus autores. Parece que realmente não as teremos mais...
Mas a maternidade não pode ser virtualizada. Não sem o risco de fazermos como aquele casal de sul-coreanos: entretidos em criar uma filha no mundo virtual esqueceram de alimentar a verdadeira, de três meses, que acabou morrendo de inanição. A solução que surge então é adiar, que é muito melhor do que negligenciar, esperando que a ciência possa superar as dificuldades da concepção.
O que será desses futuros pais e mães quando resolverem tornar o virtual em real? Quando finalmente fertilizarem os óvulos? Será que vão deixar para as escolas, transformadas em centros de formação integral dos jovens, a responsabilidade por tudo? Se for isso creio que vivemos agora em tal futuro! Já temos escolas prometendo aos pais aquilo que não podem, realmente, entregar: um espaço integral para seus filhos, onde a criança ficará por todo o dia, recebendo toda a educação necessária. Esquecem de dizer que é impossível atingir todos os alunos dessa forma. Imaginem um ambiente escolar com mil alunos e com 40 profissionais trabalhando. Desses 40, apenas cinco estarão dedicados ao entendimento especializado das questões emocionais diversas dos jovens, os demais tendo que lidar com todas as demais funções da escola. Teremos então a divisão de uma "mãe" para cada duzentos filhos! No final será a atuação direta dos pais que fará a diferença, tendo sido a escola seu complemento (a tal parceria família/escola de que tanto se fala).
O mundo virtual e tecnológico possuí inúmeras vantagens e pontos positivos. Temos que evitar, no embate entre a vida profissional e a pessoal, a transformação de nossos filhos em mais um problema incômodo a ser resolvido.
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Alianças
A disputa interna na aliança de Serra pela escolha de seu companheiro de chapa revela uma realidade que parece ser típica do PSDB. O partido conta em seus quadros com cientistas sociais importantes no Brasil e no mundo, entre eles o próprio Fernando Henrique Cardoso. No entanto os tucanos, mais uma vez, falham na sua análise de contexto social e político, só que agora os erros parecem estar acontecendo antes mesmo do início da campanha.
Na disputa presidencial em 2002 apelaram para o discurso do medo de Regina Duarte. Nada mais fora da realidade! Com o real em crise, afetando em cheio a classe média, queriam convencer a população que o maior perigo era a escolha de Lula, isso depois de uma série de escândalos políticos que sequer foram investigados. Em 2006 repetiram a dose. Mas agora era o discurso da ética, enfatizando os escândalos do primeiro mandato de Lula, querendo convencer, outra vez, que o PSDB e seus aliados eram os símbolos da honestidade. Chegamos ao presente, 2010. Repete-se a já manjada aliança do PSDB com o agora DEM. Seria tudo como sempre, não fosse a polêmica gerada pelo próprio PSDB sobre a escolha do nome para vice de Serra. Por que arriscar um rompimento com o DEM ao indicar o nome de um tucano para vice? O senador Sérgio Guerra, PSDB-PE, quer agora que acreditemos que foi muito barulho por nada, que o nome de Álvaro Dias teria sido apenas uma sugestão, conforme matéria da Folha disponível no UOL. Ao mesmo tempo configura-se que a solução conciliatória acabará sendo a da permanência da indicação de Álvaro Dias, com o DEM aceitando algum outro tipo de vantagem na aliança. Será?
Tanta ansiedade por formar uma chapa "puro sangue" parece refletir, outra vez, a busca da construção da construção de uma imagem pura ao PSDB. Querem se afastar, pelo menos nas fotos dos outdoors, do DEM, um partido envolvido em inúmeros escândalos. Existem indicações de que vão tentar novamente o discurso da ética, mas com uma nova roupagem. Confiam muito naquele velho estereótipo de que o brasileiro tem memória curta, o mesmo que já os deixou na mão nas outras disputas. Será que se esquecem que na "era da informação" o passado se encontra a poucos cliques de distância? O PT já não pode disfarçar nada de sua aliança política, para o melhor e o pior. Já com os tucanos não sabemos o quanto custará o silêncio dos democratas...
Na disputa presidencial em 2002 apelaram para o discurso do medo de Regina Duarte. Nada mais fora da realidade! Com o real em crise, afetando em cheio a classe média, queriam convencer a população que o maior perigo era a escolha de Lula, isso depois de uma série de escândalos políticos que sequer foram investigados. Em 2006 repetiram a dose. Mas agora era o discurso da ética, enfatizando os escândalos do primeiro mandato de Lula, querendo convencer, outra vez, que o PSDB e seus aliados eram os símbolos da honestidade. Chegamos ao presente, 2010. Repete-se a já manjada aliança do PSDB com o agora DEM. Seria tudo como sempre, não fosse a polêmica gerada pelo próprio PSDB sobre a escolha do nome para vice de Serra. Por que arriscar um rompimento com o DEM ao indicar o nome de um tucano para vice? O senador Sérgio Guerra, PSDB-PE, quer agora que acreditemos que foi muito barulho por nada, que o nome de Álvaro Dias teria sido apenas uma sugestão, conforme matéria da Folha disponível no UOL. Ao mesmo tempo configura-se que a solução conciliatória acabará sendo a da permanência da indicação de Álvaro Dias, com o DEM aceitando algum outro tipo de vantagem na aliança. Será?
Tanta ansiedade por formar uma chapa "puro sangue" parece refletir, outra vez, a busca da construção da construção de uma imagem pura ao PSDB. Querem se afastar, pelo menos nas fotos dos outdoors, do DEM, um partido envolvido em inúmeros escândalos. Existem indicações de que vão tentar novamente o discurso da ética, mas com uma nova roupagem. Confiam muito naquele velho estereótipo de que o brasileiro tem memória curta, o mesmo que já os deixou na mão nas outras disputas. Será que se esquecem que na "era da informação" o passado se encontra a poucos cliques de distância? O PT já não pode disfarçar nada de sua aliança política, para o melhor e o pior. Já com os tucanos não sabemos o quanto custará o silêncio dos democratas...
domingo, 27 de junho de 2010
Imigrantes e soldados
Mais um panorama rápido do que ocorre pelo mundo, com suas prováveis relações. A Inglaterra anunciou medidas mais rigorosas contra a imigração, que passarão a valer apartir de julho, conforme a BBC-Brasil. A medida já vem sendo criticada pois pode gerar falta de mão-de-obra qualificada, como ocorreu no começo de junho, quando houve falta de médicos para o sistema de saúde inglês e precisaram contratar médicos indianos. A questão se tornou um problema justamente pelo fato de que os médicos indianos, residentes na Inglaterra, estavam enfrentando problemas de permanência e já estavam saindo do país.
No encontro do G8 e G20 vemos que a reunião do BRIC foi cancelada pela ausência de Lula, que ficou aqui no Brasil acompanhando o problema das enchentes. Brasil, Rússia, Índia e China (o BRIC), possuem juntos 43% da população mundial conforme informações da reportagem no UOL.
Ainda na reunião do G8 o presidente Obama anunciou que os EUA continuarão controlando as forças militares da Coreia do Sul na eventualidade de qualquer novo conflito na região, conforme matéria do New York Times. O mesmo texto aborda a conclusão da investigação sobre o naufrágio do navio sul coreano Cheonan, supostamente por um torpedo disparado pelos norte coreanos. O problema: nem a China e nem a Rússia aceitam as conclusões de tal investigação. Devemos então lembrar que a Rússia é membro do G8 e também do BRIC, assim como a China é parte do G20 e do BRIC. Já viram onde estamos chegando...
Voltando ao UOL vemos uma pequena notícia sobre entrevista com Leon Panetta, diretor da CIA, afirmando que a guerra no Afeganistão foi "mais dura e mais lenta que o previsto". Ele também declarou que o Irã possuiria urânio em quantidade suficiente para produzir duas bombas nos próximos dois anos.
Para terminar voltamos ao NYT, com uma extensa matéria sobre o drama dos soldados norte-americanos enviados ao Afeganistão. O foco são os militares que deixam suas famílias para trás, com crianças pequenas. Muitos não sabem se suas prioridades foram corretas. Outros aparecem perdidos, necessitando da crença em um ideal maior do que suas confusas vidas pessoais.
As restrições à imigração na Inglaterra, justificado como uma tentativa de proteção do mercado de trabalho para seus cidadãos, revelam uma postura comum com os EUA, que já fecharam suas fronteiras e aumentaram as restrições aos estrangeiros. Ao mesmo tempo as reuniões do G8 e G20 revelam tentativas de solucionar a crise econômica, com as infinitas negociações sobre abertura de novas possibilidades ao comércio mundial. As grandes economias desejam uma fatia maior do mercado das menores, mas não desejam uma abertura equivalente para o comércio dos emergentes. As restrições de imigração apenas reforçam tal percepção. Os emergentes, como o Brasil, importam pela população, pelos recursos naturais ainda não explorados e não podem ser simplesmente invadidos, uma vez que contamos com a presença de alguns gigantes militares entre nós (como a China e a Rússia). Daí a importância do posicionamento autônomo de nosso governo nas questões internacionais, como temos visto.
Correndo em paralelo temos o retrato do drama pessoal dos militares norte-americanos, que atinge diretamente o patriotismo daquela nação. Mas trata-se aqui não mais do se discutir a retirada da região em conflito e sim de como acelerar o fim da guerra.
Nas últimas semanas vimos as sanções ao Irã serem defendidas como urgentes e o mesmo com relação a Coreia do Norte. Mas tal disposição não apareceu no caso do ataque de Israel ao navios de ajuda humanitária. Enquanto isso Obama comia um hambúrguer com Medvedev, em tema aqui já abordado.
A complexidade dos interesses em jogo é evidente, assim como as possibilidades de novos conflitos armados. E mais uma vez me lembro do discurso de Obama ao receber o nobel da paz, sobre a necessidade da guerra. Ele não estava somente falando do passado, mas do futuro.
sábado, 26 de junho de 2010
O preço a ser pago
Interessante como precisamos circular em diferentes fontes de notícias para montarmos um quadro geral que faça sentido, no qual informações sem impacto imediato aparente tomam outra dimensão. Li na BBC-Brasil o "recado" passado por Philip Crowley, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, ao governo da Coreia do Norte: "Detestaríamos ver a Coreia do Norte realizar outra rodada de lançamentos de mísseis". O problema é que o governo norte-coreano proibiu a navegação na sua costa oeste, medida que tem sido tomada antes da realização de seus exercícios militares. Na mesma BBC-Brasil temos um artigo sobre o entendimento da cúpula do G8 nos planos para reduzir o déficit. Passamos então à divulgação do mesmo encontro do G8, que ocorre no Canadá, no site do Le Monde, o qual destaca que serão discutidas também os problemas com a Coreia do Norte e com o Irã. A reunião do G8, que começou ontem, segue hoje simultaneamente a uma reunião do G20 (do qual participamos), também no Canadá. Chegamos finalmente ao New York Times, que apresenta uma matéria mostrando que fechar a prisão de Guantánamo deixou de ser uma prioridade para o governo Obama. Tal constatação parte tanto de senadores democratas como de republicanos favoráveis à transferências dos presos para instalações nos EUA. Foi por sinal o senador republicano Lindsey Graham que afirmou o seguinte, em tradução adaptada:
"Guantánamo é um símbolo negativo, mas que está muito reduzido pois estão nos vendo tentar fechá-la.", e continua "Fechar Guantánamo é bom, mas lutar para fechar Guantánamo é aceitável. Admitir que você falhou será o pior."O G8 anuncia que existe certa unanimidade nas medidas para sanar a crise econômica, pedindo o engajamento do G20 na mesma. Ao mesmo tempo mandam seu recado aos rivais do momento, enquanto vemos a continuidade da indefinição sobre os prisioneiros em Guantánamo. Parece claro qual será o preço da recuperação econômica anunciada.
sexta-feira, 25 de junho de 2010
O Irã, a Rússia e o hambúrguer
Duas notícias chamaram minha atenção. Na primeira aparece a informação de que o congresso dos EUA aprovou mais um conjunto de sanções ao Irã, atingindo agora as empresas que fornecem equipamentos para a Guarda Revolucionária e para o setor energético. A frase do senador republicano John McCain é reveladora: "Vamos oferecer uma escolha para as companhias do mundo todo: vocês querem fazer negócios com o Irã? Ou vocês querem fazer negócios com os Estados Unidos?", ao que ele mesmo respondeu "Não acreditamos que exista muita escolha, mas vamos obrigar as companhias a fazer esta escolha. Elas não podem negociar com os dois". É assim que a liberdade e a democracia se espalham pelo mundo, fornecendo alternativas que não são realmente alternativas, mas somente avisos.
A segunda apresenta o encontro amigável entre o presidente Obama e o presidente russo Medvedev. A frase de Obama é também reveladora: "Nosso país está mais seguro e o mundo está mais seguro quando os Estados Unidos e a Rússia se dão bem". Os presidentes foram almoçar em uma lanchonete, onde comeram hambúrgueres e dividiram uma porção de batatas fritas. Obama tomou um chá, Medvedev tomou uma Coca-Cola. Tudo devidamente fotografado. A ideia de divulgar imagens informais, com os presidentes conversando como velhos conhecidos, seguido da exibição do russo com uma Coca-Cola é um recado evidente. Mais do que o óbvio "estamos do mesmo lado", é um reforço para a imagem de que os valores norte-americanos estão se impondo no mundo. Essa é a imagem que os norte-americanos desejam ver no encontro com os antigos rivais de Guerra Fria: os russos se tornando um pouco como eles, incorporando seus valores, partilhando da mesma comida causadora de tantos problemas de saúde... O hambúrguer e seus acompanhantes são alguns dos símbolos do estilo de vida apressado e estressado do capitalismo norte-americano exportado para o mundo. Juntos para o que der e vier! Na vida saudável ou no colesterol! Na paz e na guerra...
E a segurança anunciada por Obama fica clara quando colocada em paralelo com a frase de McCain, seu ex-antagonista nas eleições presidenciais. O mundo tem mais uma alternativa sem reais opções a tomar. E a presença do russo na lanchonete nos lembra disso.
A segunda apresenta o encontro amigável entre o presidente Obama e o presidente russo Medvedev. A frase de Obama é também reveladora: "Nosso país está mais seguro e o mundo está mais seguro quando os Estados Unidos e a Rússia se dão bem". Os presidentes foram almoçar em uma lanchonete, onde comeram hambúrgueres e dividiram uma porção de batatas fritas. Obama tomou um chá, Medvedev tomou uma Coca-Cola. Tudo devidamente fotografado. A ideia de divulgar imagens informais, com os presidentes conversando como velhos conhecidos, seguido da exibição do russo com uma Coca-Cola é um recado evidente. Mais do que o óbvio "estamos do mesmo lado", é um reforço para a imagem de que os valores norte-americanos estão se impondo no mundo. Essa é a imagem que os norte-americanos desejam ver no encontro com os antigos rivais de Guerra Fria: os russos se tornando um pouco como eles, incorporando seus valores, partilhando da mesma comida causadora de tantos problemas de saúde... O hambúrguer e seus acompanhantes são alguns dos símbolos do estilo de vida apressado e estressado do capitalismo norte-americano exportado para o mundo. Juntos para o que der e vier! Na vida saudável ou no colesterol! Na paz e na guerra...
E a segurança anunciada por Obama fica clara quando colocada em paralelo com a frase de McCain, seu ex-antagonista nas eleições presidenciais. O mundo tem mais uma alternativa sem reais opções a tomar. E a presença do russo na lanchonete nos lembra disso.
quinta-feira, 24 de junho de 2010
A permanência da eugenia na era da informação
Eugenia - termo criado por Francis Galton (1822-1911), defendo o controle social dos fatores que ele acreditava poderem melhorar ou piorar as características raciais das próximas gerações. Foi amplamente utilizado pelos nazistas para justificar suas políticas de extermínio.
No ano de 2002 foi criada a rede social BeautifulPeople, com o objetivo declarado de somente ter entre seus membros pessoas consideradas bonitas. Para entrar na rede é preciso ser aprovado como "belo" pelos demais membros em uma votação online. Mesmo depois de aprovado a pessoa pode ser expulsa se for comprovado que deixou de cuidar da aparência, ganhando peso por exemplo. O site, que se orgulha de ter "promovido" o nascimento de bebês lindos de pessoas que nele se conheceram, agora está formando um "banco de esperma", para que todas as pessoas, mesmos as consideradas "não bonitas" (conforme linguagem que utilizam na rede), que desejem bebês lindos possam ter acesso aos genes privilegiados de seus participantes. Justificam tal política através de uma declaração do antropólogo Jean Smith, dizendo que o site estaria oferecendo apenas aquilo que todas pessoas fazem, que é buscar por portadores da melhor carga genética para procriar. (veja mais na BBC)
Mesmo que possamos considerar o fato de que muitas pessoas podem tentar entrar nesse rede social simplesmente pelo prazer de ser considerado "bonito", ou seja, parte de um certo ideal de beleza, a rede flerta diretamente com a eugenia. Aqui no Brasil, entre o final do século XIX e início do século XX, tivemos o desenvolvimento de uma política de "branqueamento racial", com o estímulo direto à imigração européia para diminuir a presença dos negros em nossa sociedade. O que essa rede social faz passa muito perto de tais ideias. Fortalecem um certo padrão de beleza e estimulam sua disseminação entre os "não bonitos", que não são aceitos como membros da rede! Ou seja, os "não bonitos" jamais poderão fazer parte do clube seleto, mas podem tentar gerar filhos "mais bonitos" que talvez possam ser aceitos. No limite temos a proposta de uma política deliberada de exclusão genética, que tenta se justificar ao afirmar que somente oferece o que as pessoas querem. Será mesmo somente isso? O site tem, ou pelo menos teve, uma procura realmente grande: rejeitaram cerca de 1,8 milhões de solicitações de adeptos no final de 2009. Consideremos, porém, que o Facebook possuí cerca de 350 milhões de adeptos. Temos então um site destinado a um grupo minoritário de pessoas que se consideram de alguma forma superiores às demais e que agora oferecem a estas a oportunidade de um gradual desaparecimento.
Não quer dizer que todos os membros da rede defendam literalmente tais ideias, mas não se pode negar que passam perigosamente perto da eugenia. Já tivemos exemplos demais dos extremos a que tais propostas podem chegar ao longo da história. Pensar que pessoas "bonitas" e "não bonitas" possam se conhecer, interessar-se e ter filhos não assusta ninguém. Criar um banco de doadores para uma tentativa de seleção genética é uma outra questão! Em algum tempo poderemos ver, de um lado, pessoas reclamando que seus filhos não nasceram com a aparência desejada, enquanto os doadores se justificarão dizendo que a culpa não estava nos seus genes...
terça-feira, 22 de junho de 2010
Fé, futebol e liberdade
Matéria divulgada pelo site UOL revela que Kaká ficou descontente com os ataques que teria sofrido por conta de sua declarada fé evangélica, dirigindo tal desabafo ao blog do jornalista Juca Kfouri, onde tais críticas teriam sido feitas. Kfouri se defendeu, alegando que não faz nenhum tipo de ataque direcionado especificamente ao jogador, mas que é sim contra o marketing religioso feito por muitos (Kaká incluso): "Critico sim o merchandising religioso que ele e outros jogadores da Seleção costumam fazer, tentando nos enfiar suas crenças goela abaixo.".
Ok! Fui averiguar a polêmica e encontrei outro texto de Kfouri em seu blog, em que são realmente feitas críticas aos jogadores religiosos, contando inclusive com uma foto de Kaká ajoelhado em campo... Trata-se de uma tradução de artigo do San Francisco Chronicle, mas que ele traduziu sem adicionar nenhum outro comentário, sugerindo que concorda com seu teor, reproduzindo inclusive a mesma imagem de Kaká. No texto há uma afirmação de que a FIFA estaria "rezando para que o Brasil não ganhe a Copa.", por contar com a presença de Lúcio e Kaká, jogadores declaradamente evangélicos, uma vez que a instituição proibiu as manifestações religiosas nas comemorações, justificando que é sempre possível que as mesmas ofendam fiéis de outras religiões.
Até então tudo bem, mas Kfouri acabou deixando passar no texto uma certa vinculação entre o comportamento religioso e o comportamento irracional:
Outro texto de Kfouri, em que afirma que Kaká estaria sofrendo com uma lesão no púbis que deverá afastá-lo do futebol prematuramente, informação colhida pelo jornalista "segundo confidências de médico para médico que chegaram ao conhecimento da coluna horas antes de o Brasil enfrentar a Costa do Marfim.", deve também ter aumentado a insatisfação do jogador. Afinal, como atleta, ele depende da manutenção de uma imagem de saúde que atraia patrocínios.
Qual é o real problema então? De um lado temos os textos de Kfouri aqui apresentados, pelos quais o jornalista recebeu elogios e também muitas críticas diretamente em seu blog, tudo no melhor espírito da liberdade de expressão. De outro temos o desabafo de Kaká e a resposta de Kfouri, ambos também dentro da mesma liberdade. Cada um falou o que quis no momento que quis. Concordo que criticar uma religião não é o mesmo que censurá-la. Kaká se mostrou incomodado com o que considerou uma falta de respeito com sua fé, apontada, ainda que indiretamente, como irracional e autoritária (afinal nos estaria sendo imposta "goela abaixo"). Precisamos então pensar se a liberdade de religião existe e vem sendo respeitada. Não me parece que Kaká seja um defensor da censura e que Kfouri esteja em uma "cruzada" contra os jogadores evangélicos. Fica então a questão: proibir manifestações religiosas pacíficas (como as camisetas dos jogadores) não é o mesmo que estabelecer uma censura sobre o que pode ser expresso pelo indivíduo? Ou seja, se a fé é uma questão pessoal que depende, como tantas outras coisas, da opinião de cada um, limitar sua expressão não é o mesmo que praticar uma censura?
Ok! Fui averiguar a polêmica e encontrei outro texto de Kfouri em seu blog, em que são realmente feitas críticas aos jogadores religiosos, contando inclusive com uma foto de Kaká ajoelhado em campo... Trata-se de uma tradução de artigo do San Francisco Chronicle, mas que ele traduziu sem adicionar nenhum outro comentário, sugerindo que concorda com seu teor, reproduzindo inclusive a mesma imagem de Kaká. No texto há uma afirmação de que a FIFA estaria "rezando para que o Brasil não ganhe a Copa.", por contar com a presença de Lúcio e Kaká, jogadores declaradamente evangélicos, uma vez que a instituição proibiu as manifestações religiosas nas comemorações, justificando que é sempre possível que as mesmas ofendam fiéis de outras religiões.
Até então tudo bem, mas Kfouri acabou deixando passar no texto uma certa vinculação entre o comportamento religioso e o comportamento irracional:
Sejamos intelectualmente sãos por um momento.
Sem dúvida, a Copa do Mundo é positivamente darwiniana – os mais fortes sobrevivem – onde nações de futebol em desenvolvimento podem agora estar maduras para arrancar o Manto Sagrado das mãos das poucas nações escolhidas – Brasil, Itália, Alemanha e Argentina.
(OK, basta. É Deus demais para um domingo…)
A irritação de Kaká veio, certamente, desses pontos todos.Outro texto de Kfouri, em que afirma que Kaká estaria sofrendo com uma lesão no púbis que deverá afastá-lo do futebol prematuramente, informação colhida pelo jornalista "segundo confidências de médico para médico que chegaram ao conhecimento da coluna horas antes de o Brasil enfrentar a Costa do Marfim.", deve também ter aumentado a insatisfação do jogador. Afinal, como atleta, ele depende da manutenção de uma imagem de saúde que atraia patrocínios.
Qual é o real problema então? De um lado temos os textos de Kfouri aqui apresentados, pelos quais o jornalista recebeu elogios e também muitas críticas diretamente em seu blog, tudo no melhor espírito da liberdade de expressão. De outro temos o desabafo de Kaká e a resposta de Kfouri, ambos também dentro da mesma liberdade. Cada um falou o que quis no momento que quis. Concordo que criticar uma religião não é o mesmo que censurá-la. Kaká se mostrou incomodado com o que considerou uma falta de respeito com sua fé, apontada, ainda que indiretamente, como irracional e autoritária (afinal nos estaria sendo imposta "goela abaixo"). Precisamos então pensar se a liberdade de religião existe e vem sendo respeitada. Não me parece que Kaká seja um defensor da censura e que Kfouri esteja em uma "cruzada" contra os jogadores evangélicos. Fica então a questão: proibir manifestações religiosas pacíficas (como as camisetas dos jogadores) não é o mesmo que estabelecer uma censura sobre o que pode ser expresso pelo indivíduo? Ou seja, se a fé é uma questão pessoal que depende, como tantas outras coisas, da opinião de cada um, limitar sua expressão não é o mesmo que praticar uma censura?
domingo, 20 de junho de 2010
Dicas de segurança
Postei algumas dicas de segurança sobre a utilização de e-mails em uma lista de discussão. Compartilho as mesmas abaixo:
- utilizar um navegador diferente do Internet Explorer (que é alvo da maior parte dos ataques), como o Firefox, o Opera, o Chrome;
- envie e-mails diretamente através do navegador de internet, que costumam ter os sistemas protegidos, deixando os programas de e-mail (lembrando de fugir do Outlook e procurar por outros alternativos) para outras tarefas;
- existe um modo simples de testar se seu computador possuí algum virus de e-mail: no seu programa de gerenciamento de e-mails crie um contato falso do tipo aaaa@aa.com. Se o computador estiver infectado o vírus vai enviar mensagens para todos na sua lista de contatos, inclusive para o e-mail falso e você receberá o aviso de que a mensagem não pôde ser entregue ao mesmo;
- a maioria dos e-mails hoje possuí a função do anti-spam e é bom mantê-la ativada. Ainda que algumas vezes eles falhem, tal como no caso ocorrido aqui na lista, o bloqueio impede a entrada de mensagens estranhas, tais como aquelas de "bancos", ou da "receita federal", do "tribunal eleitoral", das "casas Bahia", etc;
- a velha dica do anti-vírus é fundamental e existem realmente bons que são gratuítos. Porém acredito que vale muito a pena investir nas versões pagas, que hojé já estão bem mais baratas, pois outras funcionalidades dos programas são acionadas, tais como atualizações de todo o sistema, varreduras sitemáticas do computador, bloqueios de portas de acesso, entre outras, de modo que realmente você não vai precisar ficar se lembrando de cuidar do anti-vírus (que se torna sempre mais uma tarefa na nossa rotina de trabalho);
- agora para os mais dispostos a melhor solução, que realmente elimina o contágio, é migrar do Windows para qualquer sistema Linux, que hoje são tão amigáveis quanto o sistema do Bill. O motivo principal é simples: a imensa maioria dos vírus (para não dizer todos), são feitos para rodar no Windows e eles simplesmente não conseguem se instalar nos sistemas Linux. Existe também a questão de que a instalação de qualquer tipo de programa no Linux só pode ser feita através da digitação manual da senha principal do sistema, de modo que o vírus (se ele existir, pois até hoje não encontrei ninguém dizendo que teve vírus no Linux) só vai ser instalado se você quiser! Não é preciso se livrar do Windows, basta instalar os dois sistemas na mesma máquina e utilizar o Linux para os serviços de internet principais (como o acesso aos bancos). A maioria das distribuições Linux faz tal instalação automaticamente hoje, mas vou recomendar as que eu já testei: Ubuntu e Mandriva.
Definindo o destino...
Li matéria sobre um estudo realizado nos EUA apontando para uma ligação entre o nome da criança e o seu futuro. Ou seja: a influência do nome dada para a criança com o seu comportamento futuro. O estudo é interessante, mas na matéria ficou faltando mencionar que se tal fato ocorre é pelo fato de termos certos padrões estabelecidos na sociedade relacionados aos nomes. Por exemplo: quem nunca ouviu dizer que Marcelo é nome de crianças agitadas? E o que dizer dos nomes femininos associados com certos modelos de comportamento sexual? Enfim... Mais importante que se preocupar com o nome, ainda que eu concorde que ele realmente pode ser um problema, a forma como lidamos com as crianças é o principal. Evitar os rótulos nunca é demais! Tive vários alunos Marcelos e nem todos eram agitados.
Ao final da matéria (que pode ser lida no link do começo deste texto) existem algumas dicas úteis sobre como escolher nomes para as crianças. Mas deixo aqui uma que considero fundamental: quem garante que seu filho vai gostar das mesmas coisas que você? Então pense bem antes de chamá-lo de Nabucodonosor...
Ao final da matéria (que pode ser lida no link do começo deste texto) existem algumas dicas úteis sobre como escolher nomes para as crianças. Mas deixo aqui uma que considero fundamental: quem garante que seu filho vai gostar das mesmas coisas que você? Então pense bem antes de chamá-lo de Nabucodonosor...
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Planos para os inocentes
O exército colombiano executou inocentes nos últimos anos, acusando-se de serem guerrilheiros. Os assassinatos aconteceram como parte do chamado Plano Colômbia, que visa combater o narcotráfico. Acontece que como estímulo para os soldados havia promessa de recompensas em dinheiro e promoções conforme fossem mostrados resultados "positivos" no combate à guerrilha. O resultado foi esse: soldados seqüestrando filhos de camponeses, jovens que eram então executados para depois serem vestidos com uniformes da guerrilha. Acredita-se que pelo menos 1.800 assassinatos foram cometidos pelos militares para criar esses "falsos positivos", que é o nome com o qual o caso foi batizado na Colômbia. Matéria da BBC-Brasil mostra entrevista com Luz Marina, que perdeu seu filho de 26 anos, deficiente mental, desse modo. Seu corpo foi encontrado com 13 tiros nas costas ao lado de outros 18 jovens.
Lembro que o governo colombiano de Álvaro Uribe, que esta chegando ao fim de seu mandato, e durante o qual os assassinatos ocorreram, contou com apoio oficial do governo norte-americano, já na gestão Obama, expresso por sua secretaria de Estado Hillary Clinton, inclusive no que se refere ao Plano Colômbia. Nas eleições que se aproximam o candidato governista, Juan Manuel Santos, aparece como o provável vencedor. Santos foi ministro da Defesa de Uribe, justamente no período em que a maior parte das assassinatos parecem ter acontecido.
É, são tempos em que os "planos de paz" são feitos com base no sangue de inocentes.
Lembro que o governo colombiano de Álvaro Uribe, que esta chegando ao fim de seu mandato, e durante o qual os assassinatos ocorreram, contou com apoio oficial do governo norte-americano, já na gestão Obama, expresso por sua secretaria de Estado Hillary Clinton, inclusive no que se refere ao Plano Colômbia. Nas eleições que se aproximam o candidato governista, Juan Manuel Santos, aparece como o provável vencedor. Santos foi ministro da Defesa de Uribe, justamente no período em que a maior parte das assassinatos parecem ter acontecido.
É, são tempos em que os "planos de paz" são feitos com base no sangue de inocentes.
quarta-feira, 16 de junho de 2010
"Deixa que eu procuro pra você"
As crianças muitas vezes nos brindam com frases marcantes por diversos motivos. A frase do título foi dita por minha filha mais nova, quando ela tinha dois anos de idade. Estava me preparando para o trabalho, com toda a correria que isto sempre significa em uma casa com duas crianças. Coloquei meu material na mala e corri procurar a chave do carro, ao mesmo tempo em que terminava de me vestir, sendo naquele dia acompanhado de perto pela caçulinha. Ela ficava rondando ao meu redor, até que fez a seguinte pergunta:"Que está acontecendo papai?". Respondi que eu estava atrasado por havia perdido a hora. Na mesma hora ela, que estava sentada na minha cama, se levantou dizendo "Deixa que eu procuro pra você", correndo para o closet com seu olhar esperto e olhando debaixo da cama. Assim são as crianças! Ajudam mesmo sem saber bem o que estão procurando, partem em busca do impossível para agradar aos pais, tudo com o mesmo sorriso. Fui trabalhar com um sorriso naquele dia, o mesmo que tenho agora escrevendo estas linhas.
terça-feira, 15 de junho de 2010
Reajuste dos aposentados
A sanção do presidente Lula ao aumento de 7,7% aos aposentados aprovado pela Câmara dos Deputados provou, mais uma vez, que ele realmente sabe conduzir o jogo político da administração pública como ninguém. O que parecia um problema com potencial para prejudicar a sucessão presidencial desejada pelo presidente, já que toda equipe econômica do governo sempre alertou que esse índice de aumento não é sustentável para os gastos públicos, foi revertido (pelo menos no momento). Ao anunciar a sanção de Lula o ministro Guido Mantega revelou que o dinheiro extra sairá essencialmente dos gastos do governo com as emendas dos próprios parlamentares. Considerando-se todo o quadro eleitoral foi uma manobra fantástica. Se o presidente vetasse o aumento seria acusado pela oposição e pelos aposentados de não favorecer os mais necessitados, entre os quais certamente se incluem a grande maioria de nossos aposentados. O veto também acabaria por jogar a votação do aumento para perto das eleições, com o mesmo desgaste enorme. A aprovação, retirando dinheiro dos parlamentares, foi uma saída ótima para o governo, que não precisa comprometer seus próprios gastos sociais ao mesmo tempo em que silencia momentaneamente a oposição sobre tal assunto. Nenhum deputado vai querer aparecer na mídia criticando a decisão do governo que eles mesmos já haviam aprovado, ainda que isto signifique o corte nas verbas de suas próprias emendas. Não quer dizer que vão aceitá-lo simplesmente sem buscar alternativas, mas agora o ônus recai sobre eles.
O valor da paz e da guerra
Acabei de assistir uma entrevista da prêmio Nobel da paz de 1992, Rigoberta Menchú, que lutou para denunciar a opressão e o assassinato da população indígena da Guatemala. No longo período de insurreição civil que tomou o país, por 32 anos (1962-1996), vários regimes militares foram estabelecidos, culminando na morte de cerca de 150.000 cidadãos, muitos dos quais eram camponeses índios. Houve ainda outros 50.000 cidadãos considerados desaparecidos. Os pais e irmãos de Rigoberta foram também vítimas da violência do período e ela passou a atuar cada vez mais investigando os assassinatos cometidos pelos militares. O exemplo dela e de outros anteriormente honrados com o prêmio fez renovar meu incômodo com a premiação de Obama.
Vi também a notícia das reservas minerais "encontradas" pelo exército norte-americano no Afeganistão, com jazidas de cobre, ferro, ouro, mercúrio, enxofre, cromo, berílio, lítio e muitos outros, avaliada em cerca de 1,8 trilhão de dólares. O porta-voz do exército norte-americano, coronel David Lapan, afirmou o seguinte: "Se pudermos assistir os afegãos no desenvolvimento desses recursos, isso certamente tem potencial para agregar muito à economia deles." (conforme matéria do BOL que pode ser lida aqui). Quanta coincidência!... Quanta sorte dos afegãos poderem contar com a presença dos norte-americanos no momento de tal descoberta! E nós todos que pensávamos que eles haviam feito a guerra por causa do petróleo! A mesma pesquisa por fontes minerais alternativas também vem sendo conduzida pelas autoridades norte-americanas no Iraque oficialmente desde 2006. Tinha mesmo razão Renato Russo, na música "A Canção do Senhor da Guerra":
Mais uma guerra sem razão
Já são tantas as crianças
Com armas na mão
Mas explicam novamente
Que a guerra gera empregos
E aumenta a produção...
Vejam a letra e um vídeo da música aqui.
Vi também a notícia das reservas minerais "encontradas" pelo exército norte-americano no Afeganistão, com jazidas de cobre, ferro, ouro, mercúrio, enxofre, cromo, berílio, lítio e muitos outros, avaliada em cerca de 1,8 trilhão de dólares. O porta-voz do exército norte-americano, coronel David Lapan, afirmou o seguinte: "Se pudermos assistir os afegãos no desenvolvimento desses recursos, isso certamente tem potencial para agregar muito à economia deles." (conforme matéria do BOL que pode ser lida aqui). Quanta coincidência!... Quanta sorte dos afegãos poderem contar com a presença dos norte-americanos no momento de tal descoberta! E nós todos que pensávamos que eles haviam feito a guerra por causa do petróleo! A mesma pesquisa por fontes minerais alternativas também vem sendo conduzida pelas autoridades norte-americanas no Iraque oficialmente desde 2006. Tinha mesmo razão Renato Russo, na música "A Canção do Senhor da Guerra":
Mais uma guerra sem razão
Já são tantas as crianças
Com armas na mão
Mas explicam novamente
Que a guerra gera empregos
E aumenta a produção...
Vejam a letra e um vídeo da música aqui.
domingo, 13 de junho de 2010
Incondicional
É assim que muitos descrevem o amor que os pais sentem por seus filhos. Ninguém comenta, porém, que as dificuldades são tantas ao se criar uma criança que muitas vezes podemos passar por instantes em que duvidamos de tudo isso. Não quero falar aqui dos problemas e desafios da educação dos nossos filhos pois, confirmando que é realmente um amor incondicional, acabamos sempre enfrentando as situações de um modo ou de outro, algumas vezes tomando boas decisões e em outras nem tanto. Mas educar não é uma relação que envolve somente o contato dos filhos com os pais. É uma relação também entre os próprios pais, cuja união pode terminar abalada com tantos desafios. O cansaço, de ambos, pode acabar esfriando a dinâmica do casal, uma discordância sobre o modo de resolver um problema acabar se tornando o estopim de uma briga. São tantas pressões, tantas possibilidades de encaminhamento para os problemas cotidianos, que a escolha certa de um homem acaba não sendo a do outro. E essa situação aparece não somente para os casais, mas entre os pais separados, os solteiros que contam com ajuda da família, enfim, com todos os que estejam diretamente envolvidos nessa missão. Como resolver? Não sei! Parece-me que o diálogo constante realmente é o melhor caminho, apesar de algumas vezes ele não ser suficiente para acalmar os ânimos.
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Diferentes porém iguais
Estava lendo alguns artigos sobre a questão da utilização da internet e das novas ferramentas tecnológicas em sala de aula e, inevitavelmente já que sou professor, comecei a elaborar minhas próprias reflexões. Sem entrar em detalhes sobre os texto que lidam com tal assunto, que são vários, dispersos em periódicos e fontes das mais diversas (como os blogs...), chama atenção que o foco das discussões muitas vezes recai nos seguintes pontos: mudamos tudo, toda dinâmica das salas de aula, pois as novas gerações não aprendem mais da forma como aprendíamos antes; não mudamos, apenas incorporamos algumas ferramentas, já que a nova geração é dispersa e precisa da boa e velha disciplina.
Ambas reflexões abordam as mudanças no comportamento dos jovens, de suas formas de socialização, a primeira considerando seus aspectos positivos, a segundo os negativos. Os que defendem a primeira entendem que os defensores da segunda são conservadores, presos às formas tradicionais, enquanto que estes acusam os primeiros de abandonarem tudo muito depressa, sem que realmente tenham aprendido algo. Entre tais extremos, pois existem as opiniões intermediárias, apresento aqui a minha breve reflexão. Tenho uma forte tendência a não acreditar no discurso que afirma serem as novas gerações mais capazes de apreender informação, de lidarem com uma multiplicidade de assuntos ao mesmo tempo, ou simplesmente de que “são mais espertos”, como ouvimos tantos pais falarem de seus filhos. Realmente eles nasceram em um mundo no qual as fontes de informação estão muito mais acessíveis do que para as gerações anteriores, mas entre ter o acesso, entender o que foi lido e ser capaz de empregar o conteúdo de maneira inovadora vai uma longa distância! Se hoje as crianças lidam sem sustos com as nossas tecnologias isso é resultado certamente das mudanças em nossos processos de socialização, mas não de algum tipo de mudança de fundo biológico! Uma criança no século XIX, vivendo em uma fazenda, era socializada de outra forma e aprendia a lidar sem medo com as técnicas de cultivo. Quantos de nós, imersos nas novas tecnologias, somos capazes de fazer de uma área de mata nativa uma fazenda produtiva? Ou mesmo de cultivar, com sucesso contínuo, uma horta nas grandes cidades? Os conhecimentos são diferentes, mas não são uns melhores do que os outros.
Já existem os que apresentam a discussão sobre como as novas gerações vivem plenamente em um ambiente virtual, uma sociedade virtualizada, expressa pelas inúmeras possibilidades disponíveis na rede mundial. Ora, a capacidade de imaginar, de viver em um plano irreal por alguns momentos, não é exclusiva da geração contemporânea. Não é de hoje que as crianças brincam, fantasiam que estão em terras distantes, que são aventureiros, transformam o espaço que as cercam na Lua ou qualquer outro lugar, possuem amigos imaginários. Contar histórias inventadas, criar mundos fantásticos, são coisas que os homens fazem desde que passamos a nos sentar ao redor de uma fogueira. O que o plano virtual de hoje faz é potencializar as nossas reuniões, de modo que a comunidade ao redor da fogueira se tornou imensa. E, com um número maior de pessoas opinando, o debate pode ficar muito mais produtivo e criativo. Frisando: pode ficar! Pois muitos debates ocorrem entre indivíduos imersos em suas próprias individualidades virtuais, acostumados a encerrar uma discussão em que seus pontos de vista são questionados simplesmente clicando no X no canto superior direito da tela, que partem em busca somente de pessoas com os mesmos interesses e formas de pensar. São pessoas que buscam por homogeneidade e não pelas diferenças que potencializam o desenvolvimento de novas ideias.
Como professor já trabalhei em situações diversas: do velho giz no quadro e alunos com cadernos, até salas com datashow, lousa digital e alunos portanto seus notebooks individuais. Do presencial ao EAD (Ensino à Distância). Já dei aulas em varandas de casas em assentamentos rurais, com os alunos sentados em caixotes de madeira, tendo uma tábua como mesa, sem quadro e nem giz. Aprendi que meu papel é realmente o de condutor, de guia para o aprendizado, para a reflexão, mas que é a disposição do aluno que o fará aprender. Nenhum dos recursos modernos de tecnologia garante a atenção de uma sala de aula. Algumas vezes até atrapalham, pois muitos jovens confundem os planos, acreditam que basta acessar a aula em casa e todo aprendizado acontecerá como em um download. Que basta encontrar um site no Google e copiá-lo ao professor para provar que aprendeu algo. Mas também já vi o potencial de tais ferramentas nos alunos interessados em aprender. São esses que avançam rapidamente.
Mas com toda a força da virtualidade ainda vejo muitos jovens buscando as velhas construções da nossa sociabilidade direta, só que agora possuem canais que ampliam suas possibilidades.
Não cheguei nem a falar na questão das diferenças econômicas e seu impacto no pertencimento à nova virtualidade. Fica para uma próxima conexão.
Ambas reflexões abordam as mudanças no comportamento dos jovens, de suas formas de socialização, a primeira considerando seus aspectos positivos, a segundo os negativos. Os que defendem a primeira entendem que os defensores da segunda são conservadores, presos às formas tradicionais, enquanto que estes acusam os primeiros de abandonarem tudo muito depressa, sem que realmente tenham aprendido algo. Entre tais extremos, pois existem as opiniões intermediárias, apresento aqui a minha breve reflexão. Tenho uma forte tendência a não acreditar no discurso que afirma serem as novas gerações mais capazes de apreender informação, de lidarem com uma multiplicidade de assuntos ao mesmo tempo, ou simplesmente de que “são mais espertos”, como ouvimos tantos pais falarem de seus filhos. Realmente eles nasceram em um mundo no qual as fontes de informação estão muito mais acessíveis do que para as gerações anteriores, mas entre ter o acesso, entender o que foi lido e ser capaz de empregar o conteúdo de maneira inovadora vai uma longa distância! Se hoje as crianças lidam sem sustos com as nossas tecnologias isso é resultado certamente das mudanças em nossos processos de socialização, mas não de algum tipo de mudança de fundo biológico! Uma criança no século XIX, vivendo em uma fazenda, era socializada de outra forma e aprendia a lidar sem medo com as técnicas de cultivo. Quantos de nós, imersos nas novas tecnologias, somos capazes de fazer de uma área de mata nativa uma fazenda produtiva? Ou mesmo de cultivar, com sucesso contínuo, uma horta nas grandes cidades? Os conhecimentos são diferentes, mas não são uns melhores do que os outros.
Já existem os que apresentam a discussão sobre como as novas gerações vivem plenamente em um ambiente virtual, uma sociedade virtualizada, expressa pelas inúmeras possibilidades disponíveis na rede mundial. Ora, a capacidade de imaginar, de viver em um plano irreal por alguns momentos, não é exclusiva da geração contemporânea. Não é de hoje que as crianças brincam, fantasiam que estão em terras distantes, que são aventureiros, transformam o espaço que as cercam na Lua ou qualquer outro lugar, possuem amigos imaginários. Contar histórias inventadas, criar mundos fantásticos, são coisas que os homens fazem desde que passamos a nos sentar ao redor de uma fogueira. O que o plano virtual de hoje faz é potencializar as nossas reuniões, de modo que a comunidade ao redor da fogueira se tornou imensa. E, com um número maior de pessoas opinando, o debate pode ficar muito mais produtivo e criativo. Frisando: pode ficar! Pois muitos debates ocorrem entre indivíduos imersos em suas próprias individualidades virtuais, acostumados a encerrar uma discussão em que seus pontos de vista são questionados simplesmente clicando no X no canto superior direito da tela, que partem em busca somente de pessoas com os mesmos interesses e formas de pensar. São pessoas que buscam por homogeneidade e não pelas diferenças que potencializam o desenvolvimento de novas ideias.
Como professor já trabalhei em situações diversas: do velho giz no quadro e alunos com cadernos, até salas com datashow, lousa digital e alunos portanto seus notebooks individuais. Do presencial ao EAD (Ensino à Distância). Já dei aulas em varandas de casas em assentamentos rurais, com os alunos sentados em caixotes de madeira, tendo uma tábua como mesa, sem quadro e nem giz. Aprendi que meu papel é realmente o de condutor, de guia para o aprendizado, para a reflexão, mas que é a disposição do aluno que o fará aprender. Nenhum dos recursos modernos de tecnologia garante a atenção de uma sala de aula. Algumas vezes até atrapalham, pois muitos jovens confundem os planos, acreditam que basta acessar a aula em casa e todo aprendizado acontecerá como em um download. Que basta encontrar um site no Google e copiá-lo ao professor para provar que aprendeu algo. Mas também já vi o potencial de tais ferramentas nos alunos interessados em aprender. São esses que avançam rapidamente.
Mas com toda a força da virtualidade ainda vejo muitos jovens buscando as velhas construções da nossa sociabilidade direta, só que agora possuem canais que ampliam suas possibilidades.
Não cheguei nem a falar na questão das diferenças econômicas e seu impacto no pertencimento à nova virtualidade. Fica para uma próxima conexão.
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Em busca da coerência perdida
Com as sanções aprovadas contra o Irã o caminho futuro da região parece se complicar. A decisão tomada no Conselho de Segurança da ONU foi dividida e pode afetar ainda mais a credibilidade da instituição. Muito esforço precisará ser feito para ser provado que a ONU ainda pode representar os interesses gerais dos países que a compõem. Isso pois Israel, para pensar em um exemplo ligado à mesma região, desrespeita suas determinações, no que diz respeito à desocupação da Faixa de Gaza, há muito tempo e sem sofrer nenhum tipo de sanção. Tudo que se viu até o momento foi uma declaração de Obama pedindo ao governo israelense que coopere com a ONU nas investigações sobre o ataque aos barcos com ajuda humanitária. É pouco para uma nação que invadiu o Iraque também desrespeitando as determinações da ONU. Não é sem razão portanto que o presidente iraniano declarou que a determinação das sanções valem tanto quanto um lenço usado de papel. A situação naquela região ganha portanto mais um elemento de complicação, pelo qual as maiores vitimas serão certamente, mais uma vez, os mais inocentes, a população civil presa nos extremos de um debate sem fim, pois seus participantes já não confiam uns nos outros. Quando não há confiança mútua e a organização que deveria exerce um papel de neutralidade apresenta-se desmoralizada pelas ações de seus membros mais fortes, particularmente os EUA, qualquer conversa torna-se embate. E não há embate sem ameaça, ou efetivação, de uso da força.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Quando todos são culpados
A GloboNews, em mais uma prova que a rede Globo reserva seu melhor jornalismo para os assinantes da televisão paga ou para os que pagam pelo seu conteúdo na internet, transmitiu uma entrevista com Mosab Hassan Youssef, que é filho de um dos fundadores do Hamas, o Sheike Hassan Youssef. Mosab atuou no Hamas, tendo sido inclusive preso por comprar armas para o grupo. Em seu tempo na prisão ele, que nunca chegou a realmente matar nenhum israelense, foi torturado e abordado para se tornar um espião dentro do Hamas. Cheio de ódio pelos israelenses ele acabou aceitando a proposta pensando em atuar como um agente duplo para ajudar o Hamas. Foi transferido para outra prisão, com outros palestinos e líderes do Hamas. Nessa nova prisão acabou mudando realmente para o lado dos israelenses, ao presenciar o Hamas torturar os próprios palestinos, que acusavam de traição. A percepção de que os grupos que lutam pelos palestinos empregam a mesma violência contra os próprios palestinos o desiludiu completamente. Passou a acreditar que precisava impedir a continuidade das mortes de pessoas inocentes e o trabalho como espião lhe dava tal oportunidade. No meio de tudo isso converteu-se ao cristianismo, segundo ele por conta de uma passagem do Evangelho de Marcos onde se prega que é necessário amar ao seu inimigo incondicionalmente. Mosab acredita que esse é o único caminho possível para a paz. Após dez anos de trabalho como espião precisou abandonar o serviço. Afirma que já não aguentava a situação de pressão, de viver escondendo dos amigos e da família suas atividades e também a conversão ao cristianismo. Hoje vive escondido, jurado de morte pelo Hamas, renegado pelo pai. Chama atenção no relato justamente o impasse da situação na Palestina: Mosab acredita que é necessário que ambos os lados abandonem o ódio e passem a adotar a mensagem do amor incondicional, mas a situação cotidiana vivida pelos palestinos somente reforça o ódio aos judeus, do mesmo modo que cada nova ação terrorista reforça o ódio israelense. E os que falam na paz que vem do perdão acabam sem lugar, tanto de um lado como do outro. Um ciclo de ódio e morte, com um lado militarmente estruturado e outro armado de seres humanos. É possível ler a história de Mosab no livro que lançou, O Filho do Hamas, já lançado no Brasil. Podendo-se discordar ou concordar com ele fica a mensagem da complexidade de uma situação que não será resolvida com argumentos maniqueístas, de nenhum dos dois lados.
terça-feira, 8 de junho de 2010
O direito e a pirataria
A justiça de Minas Gerais tomou uma decisão que poderá despertar algumas polêmicas. Em processo movido pela Microsoft contra uma empresa brasileira por uso de softwares sem registro, ou seja os famosos pirateados, quem ganhou foi a empresa brasileira. O motivo: a legislação brasileira prevê que deve haver reciprocidade neste de relações, de modo que seria necessário provar que as empresas brasileiras também podem contar com a proteção de seus direitos intelectuais nos EUA, sede da Microsoft. E isso não foi feito! Tudo que a Microsoft pôde apresentar foi uma declaração do Advogado Geral da Secretaria de Direitos Autorais dos Estados Unidos, atestando que tais direitos eram concedidos aos brasileiros. Por não se tratar de legislação explícita mas somente de uma declaração o caso teve um desfecho que a empresa norte-americana certamente não esperava. Para mim, usuário Linux, a situação é cômica! Tantos esforços realizados para se proteger os softwares da pirataria caírem por terra por conta da falta de um critério oficial básico de reciprocidade, o qual, por sinal, parece faltar em outros setores também. Parece que, pelo menos por enquanto, os pirateadores de softwares podem ficar tranquilos e, inclusive, começar a lutar pelo seu direito de reciprocidade (se a empresa mineira pode por que eles não poderiam?).
segunda-feira, 7 de junho de 2010
Águas tenebrosas
Mais um navio se prepara para romper o bloqueio israelense em Gaza. Para complicar o aiatolá iraniano afirmou que seu país está prepara para oferecer escolta à todo navio que leve ajuda humanitária para Gaza. Retomo então um argumento que apresentei em postagem anterior: uma ação como a do exército israelense no seu primeiro ataque aos navios de ajuda humanitária não acontece por mero acaso. Claro que certos desdobramentos são imprevisíveis, mas não todos eles. Será então que começamos e ver os primeiros sinais da estratégia em ação? Será que Israel queria que seus inimigos reagissem, forçando a ação de seus próprios parceiros tradicionais, forçando definitivamente o isolamento do Irã? Uma hipótese tão conspiratória pode ser realmente um exagero. Mas o exagero serve para nos abrir os olhos para as possibilidades reais. Que haveriam reações aos ataques é evidente agora e certamente era evidente no momento em que foi tomada a decisão do mesmo. Se alguém previa o que viria depois, pelo menos em alguma medida, não parece ser então uma possibilidade tão remota.
domingo, 6 de junho de 2010
Lula e sua aprovação
A pesquisa do IBOPE recém divulgada aponta um índice e de aprovação ao governo Lula de 83%. Ao mesmo tempo foi divulgada a noticia de que ele acumulou sua quinta multa por realizar campanha política antecipada. Para irritação de toda oposição parece que a população, no geral, parece não se importar nem um pouco com a atuação de Lula em prol de Dilma, de modo que os índices gerais de aprovação ao governo permanecem altos, como nunca se viu em nossa história política para os presidentes em final de mandato. Mesmo no Sul e no Sudeste (onde vemos circular em certos círculos a ideia de que a aprovação de Lula e seu governo só acontece por conta dos estados do Norte e Nordeste, nos quais supostamente a população, por ter uma escolaridade menor, seria menos informada) temos uma aprovação ao seu governo de 68% entre as pessoas com renda acima de cinco salários mínimos. É muito se pensarmos que o desempenho eleitoral de Lula não foi tão alto assim na sua eleição e reeleição nessa região (teve 34,88% dos votos na região Sul e 43,28% na região Sudeste no segundo turno em 2006). Não se trata então de um fenômeno regionalizado e sintomático de estados mais pobres e carentes. A aprovação é real e indica a existência de uma percepção também real sobre o governo que se aproxima agora de sua etapa final. A compreensão da aceitação do governo Lula, que foi tão permeado de escândalos quanto seus antecessores, vai demandar muito mais do que análises rápidas e simplistas carregadas de velhos preconceitos.
sábado, 5 de junho de 2010
Finalização do ataque
Com o ataque ao navio "Rachel Corrie" termina a abordagem de Israel à frota capitaneada pelo "Mavi Marmara", onde nove pessoas foram mortas na última segunda-feira. Isso pois o navio "Rachel Corrie" fazia parte da frota de seis navios atacados, mas ficou para trás por problemas técnicos, levando a premio Nobel da Paz Mairead Maguire e Denis Halliday, que foi subsecretário-geral da ONU. A ação foi conduzida sem a truculência original, mas não deixa de despertar interrogações. Um delas é sobre o que teria acontecido na segunda-feira se o "Rachel Corrie" também estivesse junto aos navios atacados. Como a ONU teria reagido se seu antigo subsecretário estivesse entre os atacados? Como o mundo reagiria ao ataque a uma premio Nobel da Paz? Tais questões abrem outras, uma delas sobre a intencionalidade de ambos ataques. Teria sido a violência estimulada justamente pela constatação da ausência dessas personalidades, de modo que Israel aproveitou a oportunidade de mandar um recado claro para toda a comunidade internacional? É certamente instigante perceber as diferenças nos dois ataques, que em um primeiro olhar pode parecer indicar o desejo do estado de Israel em não repetir a tragédia de segunda. Mas será mesmo? Um exército altamente treinado e equipado, com equipes de inteligência secreta, aborda seis navios, pessoas morrem, outras são humilhadas e agredidas, tudo resultado de um acaso desastrado? Será que o olhar da comunidade internacional teve algum peso na definição da condução do ataque ao "Rachel Corrie"? Parece-me pouco provável, afinal Israel já demonstrou não estar muito interessada no que dizem os demais países, confortando-se com os apoios costumeiros que sempre recebe. Aproveitar as oportunidades que surgem, isso sim parece-me mais provável para um Estado com tal aparato militar e de inteligência, para não falar de aliados poderosos que também contam com estruturas similares.
Detergente na ficha
Lula sancionou o Ficha Limpa. Com isso passou adiante a bola, para utilizar uma de suas metáforas preferidas. Quem a recebe agora é o Judiciário. O que podemos esperar? Certamente um debate sobre a aplicação da lei, envolvendo os tópicos já destacados pelos noticiários: se ela vai valer já neste ano e se vai levar em consideração as condenações anteriores a sua aprovação. Preocupa o fato de que tudo está passando como se o Judiciário fosse a casa das virtudes absolutas, da isenção plena, da ausência de interesses políticos. Não consigo deixar de pensar que se a questão é manter uma "ficha limpa" vamos presenciar um deslocamento de esforços para que ela assim fique. Teremos uma situação na qual a preocupação não mais será com fazer os escândalos terminarem na famosa massa italiana, mas sim em evitar que a mesma seja sequer colocada no forno. Não temos uma mídia que prima pela isenção e imparcialidade, de modo que podemos contar com um aumento do seu já gigantesco poder de influência junto aos poderes políticos: o segredo vai ser fazer os escândalos não acontecerem e então haja contatos com os proprietários das redes de comunicação. O projeto aumenta também, por motivos semelhantes, o poder político do Judiciário: a absolvição tornou-se um elemento de continuidade da carreira política aos acusados. Tornou-se então outro elemento ao redor do qual veremos barganhas do mais variado colorido partidário. O projeto, uma iniciativa da OAB e da CNBB, é certamente necessário e representa um avanço na direção da nossa reforma política (o que quer que ela signifique realmente). Mas falta muito ainda para que represente a necessária transformação de nosso cenário político o qual, nunca é demais lembrar, envolve não somente os possíveis candidatos aos cargos públicos eletivos.
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Israel, Irã e tudo que não sabemos
O ataque israelense aos navios da missão de paz que se dirigiam para Gaza esfriou o debate sobre a questão do Irã, pelo menos na nossa mídia. Entre comentários que questionavam a sanidade e a competência dos membros do governo brasileiro envolvidos na negociação a ação de Israel criou uma situação nova de múltiplas possibilidades. Primeiro sobre o discurso em prol da paz do presidente Lula, apresentado em diversos meios, inclusive pela secretária de estado dos EUA Hilary Clinton, como uma mostra de certa ingenuidade e falta de conhecimento da situação. Não sei sobre a questão dos interesses escondidos, mas na própria proposta encabeçado pelo Brasil e Turquia, aquela acusada de ingenuidade, descobrimos que havia o interesse não revelado publicamente do presidente Obama. Talvez justamente o que faz falta ao mundo de hoje seja a capacidade de voltar a dizer as velhas verdades desgastadas pelos confrontos, de que precisamos, realmente, "dar uma chance para a paz". O segundo ponto é sobre a situação criada por Israel, que conseguiu dividir opiniões no Conselho de Segurança da ONU. Antes configurava-se um certo isolamento do Brasil e da Turquia, com o avanço das propostas de sanções. Agora o mesmo Conselho encontra-se já não tão unido, pois a situação, ainda que tenda a terminar sem a adoção de nenhuma ação real contra Israel, gerou no mínimo uma questão incômoda: como punir um país que nada fez ainda, em sentido preventivo, e passar apenas um sermão naquele que realmente fez algo? Pode não ser uma questão constrangedora para o presidente que recebeu o nobel da paz em meio de uma situação de guerra, ou mesmo para as grandes nações que o apoiam, mas para as demais a temática não é tão simples. Uma última questão que levanto é sobre os interesses de Israel. No momento em que o foco estava nas sanções contra o Irã o ataque aparece como algo, no mínimo, bizarro. Não é tanto assim. O avanço israelense na região não algo novo, bem como as incursões violentas de seu supertreinado exército. Há um recado evidente ligado ao uso da força aqui que certamente não passou desapercebido pelos vizinhos de Israel. Temos a força e a utilizaremos mesmo ao menor sinal de ameaça. Se para conter barcos em uma declarada missão humanitária nove pessoas (pelas informações oficiais até agora divulgadas) foram mortas e outras tantas agredidas e aterrorizadas, o que esperar diante da possibilidade de uma ameaça nuclear? Acho que o maior recado de Israel aqui é justamente para o Conselho de Segurança da ONU: detenham os que me ameaçam ou eu mesmo o farei. Ameaças e conivências, tais são os antagonistas do discurso da paz ingênua, mas que se faz cada vez mais necessária.
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