quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Consumo sustentável

A Abecip, Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança, divulgou que os brasileiros que procuram crédito bancário para compra de imóveis financiam, em média, 61,9% do valor total da compra. Em 2004 a média era de 46,8% do valor do imóvel. Segundo a associação existe uma tendência de crescimento até cerca de 80% do valor do imóvel, patamar considerado "sustentável". Afirma também que não corremos o risco de uma "bolha imobiliária" como ocorreu nos EUA por dois fatores: 1- não há endividamento considerado excessivo da parte de consumidores e construtores; 2- houve um aumento real da renda média do brasileiro, que deve ficar em torno de 8%. Por conta de todos esses fatores afirmam ainda que o preço dos imóveis deve continuar subindo, pois a demanda existe.
Sem querer ser alarmista algumas considerações precisam ser feitas. A Abecip é uma associação formada, basicamente, por Bancos tais como: Itaú, HSBC, Caixa, Santander, Banco do Brasil, Bradesco entre outros. Difícil acreditar que tais entidades, principalmente as privadas, desejem fazer qualquer declaração que desestimule a busca por crédito em suas empresas. No que se refere ao aumento da porcentagem financiada pelos brasileiros na compra do imóvel a Abecip ainda afirma que as pessoas que possuem capital guardado preferem não gastá-lo todo na compra do imóvel, assumindo parcelas maiores de financiamento para manterem um capital investido guardado. Faltou comentar que o preço dos imóveis vem aumentando aceleradamente nos últimos anos, influenciando certamente o valor financiado pela população. Em diversas regiões os imóveis dobraram de preço. Não é preciso dizer que os salários não dobraram no mesmo período. Se as pessoas não querem gastar toda a poupança na compra do imóvel é justamente pelo temor de não possuírem reservas no caso de uma dificuldade futura. Certamente não é, para muitos, com a intenção de garantir o pagamento de financiamentos!
Ao final temos ainda a sinalização de que o valor dos imóveis deve subir ainda mais. Por mais que os salários estejam mais altos o ponto de partida de tal aumento era muito baixo! Não significa um poder real de endividamento sustentável. Dados do IBGE mostram que os setores que mais cresceram no comércio foram o de material de escritório, informática e comunicação (25,8%); móveis e eletrodomésticos (20,6%); itens farmacêuticos e de perfumaria (12,2%); alimentação, bebidas e fumo (10,4%); roupas e calçados (10,1%); livros, jornais e papelaria (8,1%); outros itens de uso pessoal ou doméstico (6,1%); combustíveis e lubrificantes (5,5%). São segmentos da economia onde o endividamento ocorre, mas em valores e parcelamentos menores. Não consigo visualizar como um aumento médio de salários na casa dos 8% poderá dar conta de manter todo esse consumo (incluindo os imóveis) em alta. As pessoas não podem deixar de comer e andar vestidas, mas podem cortar todos os demais gastos em caso de desemprego. Podem inclusive tentar vender o imóvel ou automóvel que compraram financiado, mas muitas imobiliárias trabalham com um tempo médio para a venda de imóveis de até seis meses (apesar de falarem inicialmente em três). Passado tal período alguns recomendam que o valor de venda seja diminuído. A questão então é saber se as pessoas nessa situação vão poder continuar pagando seus financiamentos...
Temos condições de sustentar tal ciclo? Somente em um quadro de manutenção dos empregos e aumentos sucessivos de salário... Já entenderam o problema.

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