quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Escondendo os erros

Acompanhem a seguinte história. Uma criança é abandonada pelos pais e entregue aos parentes. Algum tempo depois seu pai retorna, mas ele é violento e abusivo. Aos 13 anos a criança é largada na entrada do sistema de cuidado com as crianças do estado de Nova York, de onde ele sai aos 16 anos. O jovem tenta servir a Marinha, mas termina viciado e vivendo nas ruas. Certo dia encontra um bilhete de ônibus para a cidade de Oklahoma onde seu destino muda, para pior! Em 1982 um homem é morto na cidade com o uso de um pedaço de garrafa. Um jovem morador de rua, com histórico de violência e assaltos foi preso pelo crime, mas acusou o nosso protagonista de ser o assassino. Eles estariam fazendo um programa com o homem assassinado quando a situação teria se descontrolado.
Para complicar a situação de nosso jovem ele é afro-descendente. Terminou preso e julgado pelo assassinato, podendo pegar a pena de morte. Seu primeiro advogado não se importou muito: declarou seu desprezo pelos homossexuais e considerou seu cliente como hostil. Ele não se preparou para o julgamento e fechou seu caso com uma fala de nove palavras... Foi assim que James Fisher, então com 20 anos, foi condenado à morte. Passou os próximos anos tentando vários apelos sem sucesso, vivendo no corredor da morte, muitas vezes em total isolamento. Sua frustração manifestava-se como rebeldia na prisão, pela qual foi sempre punido. Após 19 anos na prisão finalmente a Corte Federal considerou a nulidade de seu primeiro julgamento diante do comportamento antiético de seu advogado. Em 2005 recebeu um novo advogado e um novo julgamento, mas obteve o mesmo resultado. O novo advogado confessou que na época era viciado em cocaína e tinha problemas com bebida, de modo que negligenciou todos os seus casos. Chegou mesmo a agredir seu cliente, Fisher, o qual acabou se recusando a participar do novo julgamento. Mesmo assim foi condenado à morte novamente e o julgamento considerado nulo pelas ações da defesa.
Finalmente aparece o último advogado, Mr. Hudson, que é orientado por Fisher a buscar um acordo. Em julho deste ano finalmente o caso foi encerrado, após 28 anos. O acusado, que sempre afirmou ser inocente e que tinha como único acusador um jovem viciado com histórico de violência, aceitou o acordo oferecido: ele seria imediatamente liberto caso assumisse a autoria do assassinato, passando então por um programa de readequação social, mas também deveria sair de Oklahoma para sempre. Saiu barato para o sistema legal norte-americano, que se livrou da possibilidade de um processo da parte de Fisher, que ficou 26 anos preso no corredor da morte sem nunca ter realmente recebido um julgamento justo.
A história de Fisher fez-me pensar, evidentemente, no nosso sistema judiciário, repleto de casos escandalosos, tais como o da garota de 14 anos que ficou presa em uma cela cheia de homens. Ela também, após a denúncia da situação absurda, repleta de abusos, acabou "amparada" pelas estruturas estatais de cuidado com os jovens. Não se adaptou em nada e hoje, já com 18 anos, prossegue com seus traumas e vícios, ainda carregando o estigma de ser de algum modo culpada por tudo que passou.
Não é somente o Irã, com o caso terrível do julgamento de Sakineh, que deveria receber as pressões das autoridades e personalidades mundiais.

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