domingo, 1 de agosto de 2010

Parcerias

Sob o título de "Dos táxis aos têxteis, Itália escolha tradição ao invés do desenvolvimento", foi publicada uma longa matéria do jornalista David Segal no New York Times, contanto a história de Luciano Barbera, dono de uma fábrica de tecidos feitos artesanalmente. Resumindo a questão: o método artesanal de produção da fábrica não é capaz mais de competir no mercado. Principalmente pelo fato de que a legislação italiana permite que a etiqueta "Feito na Itália" seja colocada em produtos que tenham tido uma das etapas de sua produção no país, não importando, por exemplo, se o tecido veio da China. Barbera é um dos que lutam atualmente para mudar tal legislação, para que somente os produtos feitos integralmente na Itália possam receber a etiqueta.
Do outro lado da questão, Segal mostra que na Itália toda economia é limitada pelas tradições. Muitos negócios são familiares e não se expandem pelo temor da perda de controle. Tal medo também reflete outro: o da concorrência. A Itália possuí inúmeras "associações de categorias", que controlam a entrada de novos profissionais, fiscalizam o trabalho e estabelecem preços. Tudo dentro do mais tradicional molde medieval das corporações de ofício. Por isso a matéria também se pergunta no início: "Será a Itália demasiadamente italiana?". Os italianos suspeitam das instituições que sejam extra-familiares.
Bom! E daí? Os negócios do senhor Barbera começam a demonstrar sinais de decadência claros, com uma redução no momento de 50% dos lucros. A saída encontrada é o mais interessante: vender seus tecidos de altíssima qualidade para um promissor e crescente mercado de consumidores chineses. Fica mais interessante ainda quando vemos os chineses assinando um acordo de cooperação econômica e técnica com Cuba. Em troca dos produtos chineses os cubanos oferecem o que possuem de melhor: medicamentos e técnicas oftalmológicas.
Os chineses ampliam a venda de seus produtos, famosos por reproduzirem com qualidade inferior alguns produtos ocidentais (a indústria de celulares é um bom exemplo), enquanto realizam parcerias para receberem o que alguns países tem de melhor para oferecer. Para o senhor o Barbera pode ser a salvação do negócio da família, para os cubanos uma possibilidade de oferta de produtos necessários que ajudem a sustentar um pouco mais o seu regime. E a China surge como a salvação da tradição familiar e dos ideais revolucionários! Ela já é nossa principal parceira comercial. São as alianças que despertam preocupação nos EUA e seus demais aliados (lembrando que os chineses também são parceiros comerciais do Irã). Não é, portanto, um problema de defesa da democracia e da liberdade.

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