domingo, 29 de agosto de 2010

Quem paga o preço

O quadro não é novo. Um aluno se apresenta com problemas de notas em uma escola durante o primeiro semestre e procura então outra, considerada mais fácil, para terminar o ano. Qualquer professor, principalmente os dos colégios particulares, já viu isso acontecer, quer seja como docente da escola que perde o aluno ou da que o recebe. A questão foi brevemente apresentada em matéria de hoje na Folha.com. Destaque vai para o recado dos educadores: a medida pode atrapalhar mais do que ajudar. O aluno pode acabar com a impressão que não importa o que possa estar acontecendo sempre haverá um meio de se livrar das consequências da obrigação não cumprida.
Presenciei vários casos como esse. Mas um deles chamou minha atenção. Era um jovem que tinha muito potencial, mas que por um conjunto de fatores que estavam fora do controle da escola (e até mesmo da família), acabou ameaçado de perder o ano. Não havendo nada mais que pudesse ser feito por ele veio a opção de mudar de colégio. Alguns anos depois ele apareceu para uma visita e conversamos bastante. O que eu mais me lembro foi da seguinte frase: "Professor a escola lá é tão fraca que eu sou o melhor aluno da turma!".
Entre os especialistas ouvidos pela reportagem temos o alerta de que a escola não deveria se concentrar apenas nos melhores alunos, mas fornecer ajuda individualizada para os que apresentam dificuldades. Pronto! Mais uma vez o ideal esbarrou no real. As escolas, no modelo que temos hoje, não possuem condições para fornecer tal atendimento. Ele custa muito caro. É preciso pagar ao professor e outros profissionais, que não podem então possuir muitos compromissos externos. Para conseguirem concorrer em uma situação na qual os donos das escolas se comportam como meros empresários tal custo extra pode significar a perda de outros tantos alunos para os concorrentes. Que é exatamente o que os pais acabam fazendo ao retirar seus filhos para "uma escola mais fácil", sem saber realmente o que isto possa ser.
Ficamos então todos sem saída! O professor não consegue atender os alunos individualmente, tem as salas lotadas e trabalha em mais de um emprego. A maioria das escolas não dispõe do grupo de profissionais necessários para atender com qualidade esses mesmos alunos. Os pais acabam optando pela única saída aparente, uma vez que muitos também não podem pagar pelo atendimento profissional necessário. E quem sofre é o aluno. Mas, infelizmente, enquanto a tendência de considerar a educação como uma mercadoria prevalecer (já temos inclusive grupos de educação que lançaram ações na bolsa de valores) não há como imaginar a adoção de um sistema de ensino inclusivo.

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