quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Passado e presente

Matéria da Globonews veiculada em janeiro (2012) discutiu o abandono de monumentos históricos no Brasil. Uma das imagens da reportagem, entre tantas, mostra um sem teto utilizando uma estátua como banco para fumar um cigarro. É o retrato da nossa nação. Não se trata somente do Estado que não atua na conservação dos monumentos, ou mesmo da população que não auxilia na sua preservação. Estamos diante do resultado de um processo histórico de abandono da nossa população. É o abandono da educação, com a redução das aulas de história e demais ramos das humanidades, justamente as disciplinas que lidam mais diretamente com a percepção da construção de nosso patrimônio social e cultural comum. Os livros de história já não apresentam descrições detalhadas dos eventos, sendo um apanhado de fatos explicados resumidamente, bem ao estilo da linguagem rápida das redes sociais, supostamente com a justificativa de assim atrair os mais jovens. Mas o erro é evidente: a linguagem das redes sociais não pretende criar identidade, mas atrair uma atenção instantânea e fugaz. Não é o tipo de atenção capaz de fortalecer os laços de pertencimento à uma realidade histórica.
É também o abandono geral da população. Sem educação, sem emprego, sem perspectiva. E mesmo os que estão empregados estão abandonados à baixa remuneração, tema que parece não mais fazer parte do noticiário nacional. Como esperar que essa população se importe e se identifique com monumentos de um passado cúmplice de tudo que hoje vivem? Vimos a rápida reconstrução do Japão após a tragédia do terremoto seguido por um tsunami, além do vazamento nuclear. No mesmo tempo vemos que as cidades atingidas pelas chuvas do ano passado continuam do mesmo jeito, agora correndo novos riscos com as chuvas. Dinheiro houve. Mas também houve o desvio e a fraude. Monumentos do passado? São nomes de personagens que poucos realmente conhecem. Mas não são somente as classes populares, reféns do ensino público sistematicamente destruído, que abandonam o passado. As elites também. Preservam o que interessa e parece inofensivo. Mas não desejam que o resgate cotidiano da história cumpra seu papel reparador, de compensar os muitos que sofreram para que poucos se sobressaissem. Sim! Conhecer o passado é saber o que precisa ser feito para melhorar o presente, buscando a tal justiça social. Quando ela chegar, e esperemos que chegue, teremos então condições de olharmos para nosso passado e nos orgulhamos do muito que progredimos e dos que contribuíram verdadeiramente para tanto.

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