A euforia com o Plano Real foi grande. Repentinamente parecia que nossa moeda era tão forte quanto o dólar, de modo que as importações aumentaram muito. O governo garantia a igualdade do valor entre o Real e o dólar. Era inclusive previsto oficialmente:
Chegamos ao problema já bastante conhecido. Para manter o valor do Real foi necessário utilizar nossas reservas internacionais. Quando elas acabaram vieram os títulos da dívida pública, vendidos no exterior para atrair novos dólares, sendo portanto pagos em dólar. Quando chegou o tempo de pagar tais títulos começamos a vender as estatais, inclusive as que eram lucrativas (afinal se fosse um negócio ruim ninguém iria querer comprar). Para atrair os compradores ainda colocamos à disposição financiamentos do BNDES.Propõe-se, por outro lado que o Real seja lastreado nas reservas internacionais do país, na exata proporção de um dólar americano para cada Real emitido, vinculando parcela das reservas internacionais para tal fim, em conta especial do Banco Central. (Exposição de Motivos da MP do Plano Real, 30 de junho de 1994)
O resultado dessa mágica também é conhecido. Uma crise enorme, que estourou pouco depois da reeleição de FHC. Sem nada para vender, sem reservas e sem crescimento econômico chegamos a ver o dólar ser vendido aqui por R$4,00!!! Vamos lembrar que o Real já tinha um valor artificial inicial garantido pelo governo (não podemos esquecer da URV de Cr$2.750,00). Imaginando que nossa moeda ainda fosse o cruzeiro era como se o dólar passasse a valer Cr$11.000,00!!! Se com o dólar em Cr$2.750,00 a inflação havia chegado aos 2.708% vejam o tamanho do problema!
Lula foi eleito pela primeira vez em tal contexto. E seu governo precisou adotar a única medida possível para solucionar a crise: fazer a economia nacional volta a crescer. Não podiam mais interferir diretamente no valor do dólar, de modo que as importações sofreram. Mas houve diversas medidas de incentivo ao crescimento das empresas nacionais, bem como às parcerias com os países do Mercosul, com os quais o comércio é realizado com tarifas bem menores. Por isso dizer que o governo Lula apenas continuou o caminho econômico traçado por FHC e o PSDB é realmente ridículo. Em 1994, início do governo de FHC e já com o Real, nossa dívida pública era de cerca de 60 bilhões de dólares. Quando FHC terminou seu segundo mandato a dívida pública passava dos 850 bilhões de dólares! Precisamos emprestar dinheiro dos EUA e do FMI.
Se há algo que se pode dizer é que o governo Lula que está chegando ao fim não continuou com a política iniciada por FHC. Ele mudou completamente o rumo da nossa economia, alterando nossas prioridades de investimento e de parcerias comerciais mas sem alterar a precária estabilidade gerada pelo Plano Real.
Faço hoje tais reflexões para lembrar que a escolha do voto deve levar em consideração o projeto de gestão estabelecido pelos candidatos. A questão da corrupção certamente é importante, mas querer acreditar que a corrupção surgiu agora, ou que ela nunca foi tão grande é fechar os olhos para o passado! Basta olhar nos arquivos da Folha de S. Paulo no período FHC, ou então para os que acham tal jornal "esquerdista demais", olhar nos arquivos de O Estado de S. Paulo (que apoia oficialmente o candidato José Serra) e da Veja (que não anunciou oficialmente o mesmo apoio que o Estadão, mas aplaudiu a ação do jornal). Para quem acha o atual governo truculento é só lembrar que no período de FHC tivemos o massacre de Eldorado dos Carajás, bem como a polícia paulista (do também tucano Covas) começando com a "moda" de bater nos professores em greve (e também em alunos). Ou mesmo da invasão do exército na refinaria de Paulínia em 1995 (também durante uma greve).
Por esses motivos é que considero prioritário observar os planos dos candidatos para a nossa Nação. O texto já deve ter deixado a minha tendência de voto. Mas são somente os meus motivos e a minha opinião. E essa é a beleza da democracia que tão arduamente construímos.
* Quem quiser ler mais sobre a dívida pública e outras comparações entre os governos de Lula e FHC pode ler os seguintes textos:
Carta aberta a Fernando Henrique Cardoso
A Dívida Pública Interna e Sua Trajetória Recente