Conversas que nos fazem entender os brasileiros... 9 e pouco da manhã de uma sexta-feira, a universidade emendou o feriado da quinta então fui levar o carro para lavar, algo que só faço uma vez a cada dois anos. Deixo o carro com o pessoal da lavagem e vou me sentar para esperar, ler um pouco mais (como sempre). No local há um boteco/restaurante, com uma mesa de bilhar. Sentados à sombra de uma árvore alguns homens conversavam, não eram parte da equipe de lavagem. Chega outro homem, sujeito grande, cheio de bomba como dizem, e vai logo brincando com os demais que estavam na sombra da árvore. Engatam conversa e rola uma cerveja tomada na mesa de bilhar. Começam a reclamar da situação, do preço de tudo, dos impostos que pagamos, dinheiro que acaba na mão do governo e dos políticos, da dificuldade de se arrumar trabalho. Usaram a situação do dono do boteco/restaurante, que tinha que pagar muitas contas e impostos para manter o negócio. Um deles, um cara também grande mas sem bomba, conta que sua mulher reclamou um dia que não conseguia dormir por causa do ronco do companheiro. Ele revidou a reclamação dizendo que também não dormia, pois a esposa não estava trabalhando e ele era responsável por arrumar dinheiro para pagar todas as contas da casa, que eram muitas preocupações na cabeça. O rapaz grande bombado concluiu: "por isso que um homem tem mesmo que perder a cabeça". Nova cerveja. Eu sentado em um canto, pensando que ainda não eram 10 horas da manhã e os caras estavam ali, parados, tomando cerveja, enquanto a esposa do sujeito grande não bombado devia estar trabalhando cuidando da casa. Pensei também no dono do boteco/restaurante, que não estava presente, enquanto eu observava, na cozinha, uma senhora correndo com o preparo do almoço ao mesmo tempo em que entregava as cervejas. No Brasil as pessoas percebem que algo está errado, mas não sabem o que é, então falam dos políticos, do governo, dos impostos, coisas que no fundo não entendem, mas que ditas e acolhidas em grupo reforçam a sensação de sabedoria, ao mesmo tempo em que não são capazes de perceber as mulheres trabalhando ao seu redor enquanto eles estão parados na manhã de uma sexta-feira reclamando da vida em um copo de cerveja.
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