segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Eleições 2014: Parem de dividir o Brasil entre nordeste e sudeste!

Segue minha contribuição para a galera que está insistindo em dividir o Brasil entre nordeste e sudeste. Fiz com base nos dados do TSE, disponíveis para qualquer pessoa. Claro que é somente uma aproximação, não encontrei uma ferramenta adequada para dividir os estados entre vermelho e azul conforme as porcentagens. Mas peço que entendam que não é verdade, de maneira alguma, que as eleições revelaram um Brasil oposto entre o nordeste e o sudeste! Somente pessoas toscas podem pensar assim! Então vamos perceber que a diversidade de opiniões está bem ao nosso lado e parar com as postagens preconceituosas. É feio e revela a sua preguiça de procurar se informar!

É possível encontrar imagens parecidas pela rede, mas quis mostrar que qualquer pessoa pode ir atrás da informação correta e produzir um retrato da realidade melhor do que este que anda circulando por ai...

domingo, 3 de agosto de 2014

Pela memória do movimento estudantil de 1996


Em 1996 o deputado estadual do PSDB, Vaz de Lima, criou projeto que visava começar a cobrar mensalidade dos estudantes das universidades estaduais paulista. Em junho do mesmo ano, quando o projeto seria votado, nós, estudantes das universidades públicas de São Paulo, organizados em nossos diretórios acadêmicos, lotamos quantos ônibus pudemos e ocupamos as galerias da câmara dos deputados. Houve uma tentativa de defesa do projeto mas nada se ouviu diante do barulho das galerias. A emenda acabou sendo retirada. Vitória do movimento estudantil que nunca saiu nos jornais. Mesmo. Procurei hoje no acervo da Folha de São Paulo e tudo que encontrei são as matéria que aqui divulgo, falando apenas sobre o projeto. O único comentário sobre a retirada do projeto foi feito em um artigo do dia 27 de junho de 1996, mas que não fala do movimento que nós estudantes realizamos, apenas sugerindo que teria sido uma manobra política por conta da proximidade das eleições. E assim ficou registrado nos anais da história (sim, os arquivos dos jornais ainda serão fontes históricas...) que a proposta surgiu e foi retirada por mero interesse político. Os estudantes? Nem uma palavra sobre nós que ali estivemos. Para o registro futuro é como se nada tivesse acontecido. Então decidi deixar na rede, pelo menos, o registro daquele movimento que reverteu uma punhalada no ensino público, em um momento em que outras punhaladas do mesmo partido estão sendo articuladas. Nós nunca estivemos dormindo.



sexta-feira, 4 de julho de 2014

Igualando o inigualável

O colunista da Folha, Samuel Pessoa, publicou texto afirmando que a cobrança de mensalidade nas universidades públicas teria o mesmo sentido da cobrança do pedágio urbano. O colunista, psdebista, confunde as coisas. Andar de carro é um direito inerente ao direito de consumir e não do de locomoção. Todos são livres para se locomover, como pedestres. Todos que possuem dinheiro podem comprar um carro, o que facilita a locomoção mas gera problemas urbanos e sociais, daí o pedágio urbano como solução que se adota em grandes metrópoles pelo mundo. O ensino não se enquadra na mesma categoria. A sociedade precisa de trabalhadores nas fábricas, de agricultores, de médicos, de advogados, de professores, de engenheiros, enfermeiros etc... É sim de interesse da sociedade que existam pessoas com formação universitária. A educação não é uma mercadoria apesar do que pensam e fazem alguns gestores de redes de ensino. O acesso à educação significa o acesso ao conhecimento produzido coletivamente pela humanidade. É um direito. Não é como o direito de dirigir um veículo. Ter acesso à  educação não aumenta o buraco da camada de ozônio, não polui o ambiente, não gera congestionamentos. A comparação feita pelo colunista é digna de repúdio, mas revela bem o tipo de mentalidade que se arrasta no governo do estado de São Paulo.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Quem sempre esteve nas ruas...

Vamos lá: lembram do referendo sobre o desarmamento? Então deixem-me contar uma historinha. Na época do referendo sobre o desarmamento participei de um debate no colégio em que eu lecionava, contando inclusive com a presença do general Mário de Oliveira Seixas (que era Secretário de Segurança Pública de Campinas). Foi muito bacana mas após o referendo, em que defendi o desarmamento, um aluno, que defendia a posse de armas, se aproximou para me sacanear. Dizia que agora sim as coisas iam mudar, que o povo havia falado, enfim... Disse para ele que infelizmente isso não era verdade. Que os grupos que haviam se posicionado favoráveis à continuidade da situação sobre as armas no Brasil não eram os grupos que tinham disposição para estar nas ruas protestando, pois os grupos que tradicionalmente exercem tal direito eram justamente aqueles favoráveis ao desarmamento. Junho de 2013 foi parecido. Um momento que veio, muita gente que nunca tinha saído de casa foi para as ruas e agora quem está nas ruas são justamente os grupos organizados com suas reivindicações específicas, que sempre estiveram nas ruas (e tiveram que aguentar aquele papo cretino de "gigante que acordou"...). Atrevo-me até mesmo a dizer aqui que as manifestações aglutinaram tantas pessoas pois a motivação inicial, os vinte centavos da passagem de ônibus, era uma bandeira que não ameaçava o status das classes estabelecidas. Bem diferente de quem luta por moradia ou terra! Ou de quem está em greve! No limite do absurdo a passagem de ônibus mais barata era um alívio no bolso do patrão que paga a passagem da empregada doméstica ou dos seus funcionários na empresa! Claro que havia uma galera pensando em outras coisas no ano passado, mas, para variar, não eram a maioria. Agora falam do clima da copa, que não estamos sentindo. O que nos fazia sentir o clima da copa antes? Justamente a presença incessante da copa na mídia! Todas as emissoras lançavam suas musiquinhas, passavam propagandas e mais propagandas sobre o evento. As empresas patrocinavam brindes da copa. Agora a copa aparece na mídia somente para ser criticada e as empresas não parecem tão dispostas a gastar. Mas andando pelos bairros da cidade vejo as casas com bandeiras do Brasil na janela, alunos trocando figurinhas, pessoas andando com as camisetas do seu time e da seleção, enquanto tantos outros aguardam que a tal bandeirinha afastada por ter cometido os mesmos erros que tantos homens decida posar para a Playboy... Temos tanto para avançar e manifestar-se é certamente necessário. Mas convenhamos: manifestação contra a copa? Qual é o propósito dela hoje? Com tão pouco tempo para o evento? Prejudicar o evento serve somente ao propósito de atingir o governo. É até compreensível no cenário da disputa partidária. Mas a manifestação sobre a Copa não melhora nada do cenário geral brasileiro. Deixar de realizar o evento não vai melhorar a educação e a saúde. É certamente um movimento político e bastante partidário. 5000 professores se manifestaram em São Paulo contra o governo paulista e 1500 pessoas contra a Copa e qual grupo apareceu mais na mídia? É sim uma disputa política e temos hoje, felizmente, espaço para que ela se realize.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

A beleza que não é para o povo - Pensamentos sobre a Copa e as Olimpíadas

Alguns anos atrás a exposição dos tesouros do czares veio ao Brasil. Eram realmente itens bonitos, com muito ouro e pedras... A única coisa que me veio à mente então, olhando para o folder da exposição, era que tamanha ostentação ocorria às custas da mais absoluta espoliação da população russa, que vivia ciclos de fome, perdiam suas terras para os banqueiros, eram obrigados a entrar para o exército nas guerras definidas pela mesma nobreza e burguesia. Quando a revolução estourou não podia ocorrer nada diferente com os Romanovs mesmo. O problema não era a beleza das peças, mas o fato de que era uma beleza privada, consumida no interior de castelos, inacessível ao povo que a promovia com seu suor e sangue. A situação com a copa e a enxurrada de criticas me lembraram da exposição dos czares. Ninguém dirá conscientemente que não deseja mais investimentos em saúde e educação. Mas imaginar que o belo, que o espetáculo também não é desejado é não entender nada sobre esse mesmo povo que a galera pensa estar defendendo (mas na hora de pagar o salário da faxineira reclama que está muito alto, ou que as empresas pagam muitos encargos trabalhistas...). Cercear o acesso ao que pode ser belo, ao que pode encantar e divertir também é um erro. É a afirmação do Joãzinho Trinta ressoando: "quem gosta de pobreza é intelectual", ou pior, de quem pensa que é intelectual somente por ter lido na Veja... Gostar de um circo algumas vezes não é o problema. O circo não apaga os problemas reais. Receber pão também não é o problema. Existem problemas com a Copa?? Sim. Entre eles o fato de que as empresas privadas (não são estatais) contratadas não estão fazendo o que foram contratadas para fazer. Deveríamos estar sediando a Copa e as Olimpíadas? É algo a ser discutido, mas se ilude muito quem acredita que se não estivéssemos recebendo tais eventos que milagrosamente a educação e a saúde melhorariam rapidamente. Nossos problemas tem raízes mais profundas do que isso. Inclusive na promiscuidade das relações do poder público com os interesses privados (lembrando que são estes últimos que pagam os salários da grande maioria dos brasileiros). Ir para rua gritar que você não quer Copa e Olimpíadas é inútil se não vier calcado em uma agenda de proposta de ações efetivas no sentido de melhorar a educação e a saúde. Mas quando a Dilma conclamou a nação a rediscutir a nossa constituição, a iniciar um grande debate nacional, a proposta morreu, soterrada por críticas e pela ausência de interlocutores (podem criticá-la o quanto quiserem, mas ela fez tal proposta e não havia ninguém organizado para responder).