sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Efeito Lula?

Um debate recorrente nestas eleições tem sido sobre o tal "efeito Lula". Não vou indicar, como sempre faço, links para artigos que abordam tal assunto, pois eles podem ser facilmente encontrados em uma pesquisa no Google e são, com frequência, muito partidarizados. Mas diferentes comentaristas, analistas e blogueiros associam diretamente a imagem do presidente com o bom desempenho de alguns candidatos nas pesquisas eleitorais. O caso da campanha de Dilma é o mais evidente.
O argumento central é de que a boa imagem de Lula acaba de certo modo "colada" a do candidato que recebe o apoio presidencial, determinando uma vantagem competitiva. É como se o candidato não existisse realmente, sendo somente uma representação da personalidade de Lula.
Desdobra-se de tal argumento um outro, o que associa tanto ao presidente como ao seu partido e candidatos a alcunha de autoritários. Estariam impondo e determinando os rumos das eleições, caminhando inclusive para obter uma maioria confortável no Congresso, o que seria ameaçador para a nossa democracia...
Alguns pontos são problemáticos em todo esse raciocínio. Primeiro é que ele é falsamente analítico. Não existem dados ainda que comprovem que os eleitores estão votando, por exemplo, em Dilma somente por causa da presença de Lula ao seu lado. Na verdade o início da propaganda eleitoral na TV revelou um dado que muitas análises deixaram de lado: Serra perdeu ainda mais votos após aparecer regularmente em seu programa. É, portanto, mais provável que a imagem de Serra tenha exercido um papel na definição do voto do que a suposta imagem atrelada ao presidente Lula. Tanto é assim que quando Serra perde votos quem cresce é Marina Silva.
No que se refere à questão da democracia é ainda mais preocupante. Ficar descontente com a escolha do voto popular é uma coisa, mas atribuir tal escolha a um suposto autoritarismo é um salto grande demais. Seria mais fácil acreditar que o autoritarismo reside nas pessoas que levantam tal hipótese, justamente por não aceitarem as escolhas do voto da população. Para escaparem de tal acusação reforçam então a imagem do voto alienado, de que as pessoas estariam seguindo algo que lhes é sugerido direta e indiretamente por Lula.
Preciso dizer então que o fato da imagem de Dilma estar atrelada ao governo Lula não é surpresa alguma: ela fez parte do atual governo! Estranho seria se tal vinculação não fosse feita! Atribuir tal fato meramente ao uso da imagem do presidente na campanha é precipitado demais. Fosse isso verdade e teríamos somente candidatos apoiados por Lula sendo eleitos em todo o Brasil e o PT não precisaria fazer alianças (como ocorre com todos os partidos).
Democracia implica também que as partes aceitem as regras da disputa, particularmente as derrotas impostas pelo voto popular. Deverá ser assim, por exemplo, com os petistas em São Paulo e deverá (ao que tudo indica) ser assim com os tucanos na corrida presidencial. Qualificar a escolha popular simplesmente como manipulada, resultado de um povo supostamente alienado por políticas populistas, mas sem apresentar qualquer comprovação real desta argumentação é o mesmo que questionar o seu livre direito de escolha, o que é a porta de entrada do tipo de autoritarismo que se considera portador da verdadeira vontade coletiva (como aqui fizeram os militares em 1964).

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