A primeira coisa que comentei com meus alunos quando as manifestações de junho de 2013 ocorreram foi o seguinte: o número de pessoas nas ruas não era representativo da população brasileira. Na estimativa mais otimista, daquelas pseudo lideranças, tivemos 2 milhões de pessoas nas ruas em todo Brasil. É muito quando se olha o número isolado. Um nada se lembramos que já somos mais de 200 milhões de brasileiros. Um porcento da população nas ruas não é uma revolução. Revolução foi de fato no Egito, que em uma população de 80 milhões de pessoas colocaram cerca de 17 milhões nas ruas. Aqui não era nada tão grandioso. Mas a mídia tornou grandioso. As redes sociais ferveram. Tudo estimulando a falsa sensação de que algo estava mudando. Não estava. Não estou julgando a boa vontade de quem foi para as ruas, mas as manifestações eram mais importantes como um possível início de algo que não ocorreu. E parece que não vai ocorrer. Em 2013 as esquerdas tiveram uma oportunidade que não abraçaram. A direita e a oposição golpista (PMDB-DEM-PSDB... ) usaram bem. Tão bem que estão no poder agora.
2013 foi utilizado como um evento de destruição do PT e do governo Dilma pelos donos do poder de sempre. Qual era o interesse da Globo em cobrir as manifestações? Qual era o interesse da Globo em continuar cobrindo qualquer manifestação contra o governo Dilma e o PT, mesmo quando só se reuniam 20 pessoas com faixas fazendo dancinha? A Globo ajudou a estabelecer o discurso da crise, e o que já era um problema tomou dimensão maior. O Congresso não votou nada. Agora o mesmo Congresso vota tudo. O Judiciário focou no PT e assim continua, com juízes que recebem prêmios e jantares de lideranças do PSDB... Parte das esquerdas, com críticas corretas ao PT, decidiu que era melhor deixar o PT apanhar. Só que não contavam que o ódio ao PT também é medo das esquerdas...
Nesse meio tempo veio uma reforma eleitoral. Sorrateira, com o dedo do Cunha. Primeiro veio o fim do financiamento de empresas. Tudo bem. Mas não regularam o uso do capital privado, de pessoas físicas, então candidatos ricos, com mais dinheiro, puderam fazer uma campanha mais rica. O candidato com dinheiro podia gastar quanto quisesse de seu próprio capital desde que previsto nas contas da campanha. E quem são os candidatos ricos? Os velhos políticos de sempre, inclusive alguns que se dizem novos mas sempre apoiaram os velhos... Os novos? Os que podiam representar uma mudança de rumo? Não tinham dinheiro e não foram eleitos. Pelo menos na maior parte dos casos. Outra mudança esperta foi a obrigatoriedade dos candidatos atingirem pelo menos 10% do coeficiente eleitoral para serem eleitos. Novamente pequenos e novos candidatos, alguns até conhecidos, foram atingidos. Quais são os candidatos conhecidos, que recebem votos diretos? Repito: Os velhos políticos de sempre, inclusive alguns que se dizem novos mas sempre apoiaram os velhos... Qual número será lembrado? Do candidato que não teve recursos de propaganda ou do que gastou uma pequena fortuna? Para participar de debates na televisão o partido deve ter no mínimo 9 deputados eleitos. Mais uma pancada nos pequenos. Agora falam em reforma política, reduzindo o número de partidos por decreto... Só querem que restem os grandes, mas excluindo o PT, que querem exterminar. E qual é o motivo? O PSDB já deixou claro: querem o parlamentarismo. E um parlamentarismo com poucos partidos. Daí o povão vai poder continuar votando em quem quiser, não vai importar.
O resultado das eleições municipais, com o avanço de partidos do golpe e da direita somente confirma que 2013 não representou uma mudança para melhor, mas o retorno dos conservadores de sempre, que de fato nunca saíram do poder. Lembram que eles também estavam nas ruas? Batendo em quem vestia vermelho ou camiseta de partido? E as esquerdas? Seguem sem rumo.
terça-feira, 11 de outubro de 2016
Recado das urnas...
quinta-feira, 14 de julho de 2016
Perdemos todos
Na votação de ontem perdemos todos. Todos os que trabalham, recebem salário, tentam estudar, querem se aposentar. Todos que vão sofrer com o assassinato da CLT. A esquerda provou que é seu maior inimigo. Que preferem crescer individualmente. Se a direita sacrifica o povo pelo capital a esquerda o deixa ser sacrificado em nome de uma suposta defesa de princípios abstratos e variados. Triste. O desconhecimento é a norma. Algum tempo atrás circulou vídeo de debate entre a presidente da UNE, Carina Vitral, e o escroque Kim Kataguiri, do MBL. Muitos elogiaram como ela destruiu o sujeito. De fato. Porém ela também revelou um profundo desconhecimento das teorias que a inspiram. Ele não sabia nada, mas não era papel dele saber já que é golpista e pseudo liberal. Fui ver a entrevista esperando articulação teoria e prática e não encontrei, de lado nenhum. Claro que no final ela foi melhor, mas em função principalmente das profundas limitações do antagonista. E como é possível perdermos para tais golpistas? Pois é. Ontem perdemos novamente. O eleito afirmou em entrevista que sua vitória não representava uma derrota de Cunha. O Judiciário tem simpatias e afinidades explícitas com o PSDB. O presidente da Câmara é do DEM. O do Senado do PMDB, assim como o golpista na presidência da República. E todos agradeceram ao PSDB pelo apoio. É. Parabéns para a esquerda, que conseguiu ficar de fora completamente, no canto, chamada explicitamente de minoria, ainda que deseje ser a defensora da maioria da população.
sexta-feira, 22 de janeiro de 2016
Crise e mérito
A Malwee fechou uma unidade em Blumenau e demitiu 300 funcionários. Como já virou rotina colocaram a culpa na crise. Mas o interessante é ninguém ter lembrado dos últimos anos da empresa. Em 2011 a empresa passou de pai para filho. O herdeiro assumiu a presidência e realizou o plano de abrir lojas de varejo da marca. Estilo Hering. Naquele ano a empresa havia crescido 22% e projetava crescer 25% em 2012. O que houve? Tudo culpa da Dilma? Na mentalidade tacanha dos nossos falsos liberais parece que sim. A unidade de Blumenau representava 3% da produção da empresa. Então já começamos vendo que a empresa cresceu pelo menos perto de 40% alguns anos atrás e agora encolheu 3%. Quando cresceu não deve ter dado um aumento proporcional de salários aos seus funcionários, mas quando encolheu demitiu. Existem funcionários falando de má gestão e de mudanças de sistema na empresa que geraram atrasos e cancelamentos de pedidos. Eu lembro quando a Malwee era uma marca de roupas de boa qualidade, característica que não se manteve, pelo menos não em todas as linhas da empresa. O setor têxtil é altamente competitivo, com muitas empresas nacionais e internacionais, disputando o mesmo mercado. As pessoas não pararam de comprar roupa. Ninguém está andando pelado. O mercado saturou de ofertas de roupas de baixa e média qualidade, que não vão mais, como antigamente, ficar para os irmãos mais novos... Elas não duram tanto, viram pano de chão. Com essa realidade o consumidor opta pelo mais barato mesmo. Quem pode pagar consome outras marcas. Mas é tudo culpa do PT e da Dilma... Crescimento econômico sempre vem acompanhado de aumento de competitividade. E diante do quanto a empresa cresceu antes essa notícia incomoda. Pois ninguém falou sobre os lucros. Na seguinte linha. Uma pessoa abre uma empresa para ganhar dinheiro. Então ela precisa ganhar dinheiro para manter a empresa e dinheiro para se manter. O lucro começa depois que a empresa ganha o necessário para se manter. Esse lucro não é todo investido na empresa. Ele vai para uma conta do dono (de seus sócios e acionistas se houverem), provavelmente em outro país, onde será aplicado no mercado financeiro buscando outros rendimentos. É o dinheiro dele. O pagamento que recebe de sua própria empresa. Não vejo acontecer com essas grandes empresas o discurso de vamos empregar os recursos de nossos lucros para manter os empregos e melhorar a situação. Mas vemos a ostentação permanente. Eike Batista entrou em decadência e ainda tivemos noticias de seu filho comprando carros importados de mais de um milhão de reais... Há um capital que fica com os proprietários e que não volta para a empresa e nem para o mercado nacional. No discurso sobre a crise todo empresário aparece como empreendedor e competente sofrendo diante do Estado incompetente... O sucesso da empresa é mérito pessoal, o fracasso é culpa dos outros. Nada de novo no discurso do capital que segue gerando suas crises estruturais que sacrificam os pequenos para assegurar o conforto daquela minoria.